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IA e a Jornada Humana: Além dos Limites

Como a inteligência artificial redefine o que significa ser humano em um mundo de transformações cada vez mais profundas *Por Rafael Toscano A história da humanidade é, em muitos sentidos, a história da superação de limites. Aprendemos a cultivar o solo, a construir cidades, a cruzar oceanos, a explorar o céu e o espaço. A cada passo, criamos ferramentas que ampliaram nossas capacidades — primeiro físicas, depois mentais. A inteligência artificial representa mais um desses saltos. Mas desta vez, é um salto para dentro: para dentro da mente, da decisão, da criação. A IA nos obriga a perguntar: o que vem depois? O que acontece quando as máquinas começam a fazer coisas que antes só nós fazíamos? E o mais intrigante: o que isso revela sobre nós? Podemos olhar para trás e encontrar paralelos. A invenção da escrita nos permitiu registrar memórias, leis, histórias. Foi uma ampliação da mente humana, capaz de transcender o tempo. Hoje, algoritmos fazem algo semelhante: registram, analisam e até interpretam volumes de informação que nenhum ser humano daria conta de processar. A imprensa de Gutenberg espalhou conhecimento em escala inédita. A IA, por sua vez, pode personalizar esse conhecimento, adaptá-lo a cada pessoa, ampliar o acesso de forma mais precisa. Como a imprensa provocou a Reforma e a Renascença, a IA talvez esteja nos levando a uma nova revolução cultural — uma espécie de renascença digital. E quando falamos da Revolução Industrial, lembramos das máquinas substituindo a força física humana. Hoje, com a IA, é a vez do intelecto ser desafiado. A máquina não apenas executa: ela aprende, toma decisões, faz previsões. Isso nos leva a rediscutir o que é trabalho, o que é valor, o que é criatividade — e até o que é consciência. A medicina oferece outro bom exemplo. O raio-X, no século XIX, revelou o invisível dentro do corpo humano. Agora, sistemas de IA analisam exames com precisão muitas vezes superior à humana, detectando padrões sutis que escapam aos olhos mais experientes. Estamos falando de diagnósticos precoces, tratamentos personalizados, decisões clínicas mais seguras — e, ao mesmo tempo, da necessidade de manter o vínculo humano entre médico e paciente. A exploração espacial levou o homem à Lua. Mas a IA está nos levando a outro tipo de espaço: o do pensamento, da possibilidade de construir consciências artificiais. É um território desconhecido, repleto de perguntas para as quais ainda não temos respostas. E como qualquer território novo, exige cuidado, ética e visão de longo prazo. Talvez a metáfora mais poderosa para a IA não esteja apenas nas tecnologias passadas, mas naquilo que sempre buscamos como humanidade: a capacidade de ir além de nós mesmos. Criar uma inteligência que nos ajude a ver o que não víamos, entender o que não compreendíamos, resolver o que antes parecia insolúvel. Mas atenção: ir além não significa abandonar. Se a IA é uma extensão da nossa mente, ela também carrega nossas contradições. Se não cuidarmos de seus valores, ela ampliará preconceitos em vez de resolvê-los. Se não guiarmos seu uso, ela poderá servir aos interesses de poucos, em vez de beneficiar a todos. Por isso, a jornada da IA é, também, uma jornada humana. Cada avanço tecnológico é um espelho: ele mostra o que valorizamos, o que deixamos de lado, e onde colocamos nossa esperança. A IA pode ser usada para reforçar desigualdades ou para reduzir distâncias. Pode servir ao consumo desenfreado ou ao conhecimento compartilhado. Pode nos afastar ou nos aproximar de quem realmente somos. Avançar com a IA não é apenas uma questão de potência computacional. É uma questão de propósito. Que futuro estamos construindo com essa tecnologia? Que legados queremos deixar? Ao olharmos para trás e vermos as pirâmides, as catedrais, as bibliotecas, os satélites — cada um desses marcos mostra o quanto somos capazes de criar. A IA entra nessa linhagem. Mas ela nos convida a algo novo: não apenas criar uma máquina, mas co-evoluir com ela. Crescer junto. Aprender junto. Decidir juntos. No fim, ultrapassar os limites não é apenas ir mais longe. É ir mais fundo. É entender melhor quem somos e como queremos viver. E se a IA estiver ao nosso lado nessa jornada, que ela seja uma companheira que nos ajude a enxergar o mundo com mais inteligência — e o ser humano com mais humanidade. *Rafael Toscano é escritor, pesquisador e professor na CESAR School (PE) e engenheiro na Companhia Brasileira de Trens Urbanos (DF). Atualmente, ocupa o cargo de Secretário Executivo de Ciência, Tecnologia e Negócios na Secretaria de Transformação Digital, Ciência e Tecnologia (SECTI) na Cidade do Recife e é Diretor de Admnistração, Finanças e Planejamento do Alumni CIn UFPE. Formado em Engenharia da Computação pela UFPE, é Mestre e Doutor pela Universidade de Pernambuco, MBA em Gestão de Negócios pela Fundação Dom Cabral (MG) e MBA em Economia pela USP (SP). É especialista em Direito Tributário pela Universidade de Ipatinga (MG) e Gerente de Projetos certificado pelo PMI desde 2014. **Esse Texto integra o livro IA Transformação das Humanidades

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A força das associações: um pilar da democracia brasileira

A importância que nem sempre se vê *Por João Paulo Neves Baptista Rodrigues Recentemente, tive a honra de assumir a presidência do Comitê de Business Affairs da Amcham Pernambuco, em sucessão ao exímio profissional – e cidadão – Francisco Cunha (o nosso querido e conhecido “Chico”). Naquele momento, homenageamos o trabalho que Chico desempenha em diversos fóruns – com dedicação, visão e senso público. Para quem já participa ativamente de associações, conselhos, fóruns ou entidades de representação, a relevância desse tipo de espaço e o exercício da atividade associativa são evidentes. No entanto, essa clareza nem sempre se estende para fora desse círculo. É possível encontrar percepções – distorcidas – de que a participação associativa é perda de tempo, de que não gera valor concreto. Este artigo nasce, portanto, com duplo propósito: de um lado, prestar homenagem às pessoas que, como Chico Cunha, exercem com altruísmo e responsabilidade o papel de liderança associativa; de outro, trazer à luz a estrutura constitucional e institucional que garante – e valoriza – o direito de associação no Brasil. Um direito fundamental, com raízes históricas profundas e com importância crescente para o funcionamento da democracia e da sociedade contemporânea. 1. O Direito Associativo e sua Previsão Constitucional O direito de associação está expressamente previsto na Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, incisos XVII a XXI. Trata-se de um dos direitos fundamentais assegurados aos cidadãos brasileiros. Essa previsão não é fruto do acaso. Resulta de uma longa trajetória histórica de luta pela organização coletiva da sociedade brasileira. Desde os tempos do Império, passando pela Primeira República, até os movimentos sociais e sindicais do século XX, o associativismo foi – e segue sendo – ferramenta indispensável para a defesa de interesses comuns, sobretudo em contextos de repressão ou exclusão política. A Constituição de 1988 reconhece essa importância ao estabelecer, com clareza, a liberdade associativa como instrumento legítimo e estruturante da vida democrática. Trata-se de uma conquista civilizatória: a possibilidade de cidadãos se organizarem, de forma livre e autônoma, para atuar na defesa de direitos e no fortalecimento de seus segmentos sociais ou econômicos. 2. O Valor Atual das Entidades Associativas Mais de três décadas depois da promulgação da Constituição, o associativismo continua se mostrando essencial – talvez mais do que nunca. Em uma sociedade cada vez mais complexa, polarizada e marcada por interesses diversos, é por meio das associações que empresas, setores e cidadãos conseguem exercer sua voz de forma organizada, legítima e eficaz. As associações funcionam como pontes entre o estado e os diferentes segmentos sociais. Elas organizam pleitos, qualificam o debate público, produzem conteúdo técnico e representam interesses legítimos em fóruns institucionais. A atuação associativa garante que políticas públicas possam ser formuladas e implementadas com mais equilíbrio, ouvindo diferentes perspectivas e minimizando distorções. Além disso, o ambiente associativo é espaço de construção de consensos, de cooperação e de geração de valor coletivo. Não se trata de uma arena de confronto, mas de articulação – um terreno fértil para o exercício da cidadania ativa e da democracia representativa. 3. Representatividade, Influência e Conteúdo: Muito Além do Lobby A relação entre cidadãos, empresas e associações não é uma relação de troca direta ou de ganho imediato. É, acima de tudo, uma relação de influência legítima. Participar de uma entidade representativa é participar de um processo maior: é fazer parte de um ecossistema de advocacy, representatividade setorial, produção de conteúdo qualificado e construção de redes de relacionamento. Em sua essência, essa atuação está voltada para o fortalecimento coletivo, para o debate público responsável e para a construção de soluções que considerem as diferentes realidades e necessidades de seus representados. 4. Conquistas Concretas da Participação Associativa Ao longo dos anos, a participação associativa foi decisiva para importantes avanços no ordenamento jurídico e institucional do País. Quatro exemplos ajudam a ilustrar esse impacto: - A LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) construída com intensa participação da sociedade civil organizada, incluindo associações de tecnologia, direito e defesa do consumidor; - O marco legal das startups, que resultou de articulações de diversas entidades do ecossistema de inovação, promovendo segurança jurídica e fomento ao empreendedorismo; - A reforma da Lei das Licitações, influenciada por entidades empresariais e jurídicas que atuaram com seriedade e compromisso na modernização da contratação pública; e - Mais recentemente, no setor elétrico, a promulgação do marco legal do hidrogênio verde. Essas conquistas não seriam possíveis sem a atuação coordenada de representantes associativos que souberam dialogar com o poder público, propor soluções e defender interesses coletivos de forma transparente e técnica. 5. Um Chamado à Participação Ativa É essencial que cada vez mais cidadãos e empresas compreendam o valor da participação associativa. A estrutura legal brasileira não apenas permite, como incentiva e valoriza, o associativismo como ferramenta de ação democrática, de formulação de políticas públicas e de fortalecimento institucional. A história, a Constituição e os resultados bem demostram que é por meio da ação associativa, e por perfis como o de Chico Cunha, que empurramos setores – e o Brasil – na direção correta.  João Paulo Neves Baptista Rodrigues é presidente do Comitê de Business Affairs da Amcham Pernambuco, e diretor Institucional do Grupo Neoenergia.

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Linguagem, comunicação e cultura: A Alma Digital

Entre algoritmos e afetos, o desafio de manter a linguagem humana viva em um mundo cada vez mais mediado pela inteligência artificial *Por Rafael Toscano A linguagem é uma das expressões mais profundas da nossa humanidade. Por meio dela, construímos mundos, compartilhamos ideias, expressamos emoções. E agora, com a inteligência artificial, estamos testemunhando uma mudança sem precedentes: máquinas que compreendem, traduzem, escrevem e até conversam conosco. O que antes parecia ficção científica tornou-se parte do nosso cotidiano. Aplicativos de tradução instantânea, assistentes de voz, chatbots e modelos de linguagem como o que está escrevendo estas palavras são exemplos de como a IA está transformando a comunicação. O campo do Processamento de Linguagem Natural (PLN) tem avançado a passos largos, permitindo que sistemas digitais entendam a estrutura e o sentido da linguagem humana com uma fluidez surpreendente. No entanto, entender palavras não é o mesmo que entender pessoas. A linguagem é cheia de nuances: ironias, emoções, contextos culturais. Embora algoritmos possam identificar padrões, ainda estão longe de captar plenamente a riqueza simbólica das expressões humanas. Traduzir “ao pé da letra” é fácil; entender a alma do que está sendo dito, não. A tradução automática, por exemplo, pode ser útil para quebrar barreiras linguísticas, mas também escancara os limites da IA. Idiomas não são apenas códigos; são formas de ver o mundo. Uma palavra em uma língua pode não ter equivalente direto em outra, porque carrega valores, histórias, visões de mundo. Quando a IA traduz, ela também interpreta — e toda interpretação traz escolhas, recortes, omissões. Além disso, algoritmos treinados com grandes volumes de texto retirados da internet correm o risco de reproduzir — e até amplificar — preconceitos existentes. Já vimos casos em que sistemas de tradução atribuem profissões tradicionalmente masculinas a homens e funções domésticas a mulheres, reforçando estereótipos. A neutralidade linguística é uma ilusão se não houver cuidado com os dados e com o design dos sistemas. Outro campo em ascensão é o da geração de conteúdo por IA. Modelos como o GPT-3 são capazes de escrever artigos, roteiros, poemas e até notícias. Isso levanta questões importantes: quem é o autor? O que é originalidade? Se um texto gerado por IA é indistinguível do humano, ainda assim é arte? Ou estamos entrando em um território novo, onde autoria se torna uma colaboração entre criador humano e máquina? A desinformação é outro ponto sensível. A mesma tecnologia que gera textos coesos pode ser usada para espalhar boatos, criar notícias falsas, manipular discursos. Algoritmos podem fabricar verdades alternativas com aparência de credibilidade. Por isso, a IA também está sendo usada no combate à desinformação, com ferramentas de verificação automática de fatos. Mas aqui surge um paradoxo: confiar na IA para corrigir os desvios da própria IA. Nas redes sociais, a presença da inteligência artificial é quase invisível — mas poderosa. É ela quem escolhe o que vemos, o que deixamos de ver, com quem interagimos. Os algoritmos de recomendação moldam a nossa experiência digital, criando bolhas de conteúdo que reforçam nossos pontos de vista e podem limitar o diálogo. A pluralidade cultural corre o risco de ser filtrada por interesses comerciais e padrões de engajamento. Por outro lado, a IA também tem sido uma ferramenta importante para a preservação cultural. Projetos que digitalizam livros raros, recuperam línguas ameaçadas ou recriam sítios arqueológicos em ambientes virtuais mostram o potencial da tecnologia como aliada da memória coletiva. Mas é preciso respeitar os contextos. A tecnologia deve servir à cultura — e não domesticá-la. Outro desafio ético envolve a representação cultural nos sistemas de IA. Vozes artificiais, assistentes virtuais e personagens digitais frequentemente adotam padrões ocidentais, brancos e padronizados. A diversidade cultural precisa ser incorporada desde o design. Não basta traduzir palavras — é preciso traduzir mundos. Nesse cenário, a alfabetização digital e ética torna-se urgente. Precisamos aprender a interagir com a IA com consciência. Entender como os algoritmos funcionam, o que priorizam, que dados usam. Saber identificar quando uma notícia é fabricada, quando uma imagem foi gerada artificialmente, quando uma opinião foi moldada por uma bolha informacional. A linguagem é o que nos conecta. E, quando mediada por inteligência artificial, ela pode tanto aproximar quanto distorcer. O desafio é manter a cultura viva, plural, humana — mesmo em um ambiente digital moldado por códigos. No fim das contas, a tecnologia deve servir à nossa voz — não nos calar. A IA pode ser tradutora, escritora, curadora. Mas somos nós quem damos sentido às palavras. A linguagem é, ainda, a alma do nosso tempo. E a cultura, o coração que pulsa por trás de tudo que queremos preservar. *Rafael Toscano é escritor, pesquisador e professor na CESAR School, engenheiro na Companhia Brasileira de Trens Urbanos e ocupa o cargo de Secretário Executivo de Ciência, Tecnologia e Negócios na Secretaria de Transformação Digital, Ciência e Tecnologia (SECTI) da Prefeitura do Recife. Formado em Engenharia da Computação pela UFPE, é Mestre e Doutor pela Universidade de Pernambuco. **Esse Texto integra o livro IA Transformação das Humanidades

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O papel estratégico das relações internacionais para Pernambuco

A formação hoje de Relações Internacionais no Recife está em pleno processo de mudança *Por Gustavo Delgado Foi com uma das turmas inaugurais do primeiro curso de Relações Internacionais (RI), da antiga Faculdade Integrada do Recife, que tive meu contato inicial com este curso que, até então, não sabia nem do que se tratava. Faz tempo, isto foi ainda antes dos anos 2000. Lembro ainda que, em uma seguinte vaga de estágio que tivemos, fiz questão de contratar uma estagiária desse curso, porque queria conhecer essa formação e como estava sendo formado futuro profissional. Desde então me encantei, e poucos anos depois, já na minha área também acadêmica, fui convidado a compor sua equipe de docentes, no lugar da minha ex-chefe, amiga e professora Erika Kovacs. Foram 11 anos de docência em RI na mesma instituição, chegando a coordenar por alguns anos o curso. Neste período entendi os detalhes da formação, a ampla visão e atuação, as possíveis novas áreas, aquilo que fazíamos aqui e o que ainda não fazíamos. Formamos muita gente boa para o mercado de trabalho. Entendi também a importância deste curso para o mercado e a sociedade atual. Não é apenas o título pomposo de ser internacionalista, embora também seja, mas é a possibilidade de atuação em áreas adjacentes, como comércio exterior, ONGs internacionais, e o que defendo tanto de empreendedorismo internacional. Cheguei a defender em uma outra Instituição de ensino a abertura de um curso de RI, como mais uma oportunidade de ampliarmos este mercado, e a superintendência se convenceu e abriu o curso em Boa Viagem. Temos ainda uma terceira importante Instituição de ensino, que infelizmente anunciou seu fechamento recentemente, na Zona Norte do Recife, que ainda vem formando excelentes alunos também, até o final de 2025, e projetando-os para boas posições no mercado de trabalho. Desta maneira, a formação hoje de Relações Internacionais no Recife está em pleno processo de mudança. Ainda com o curso de RI mais antigo no Nordeste; acrescenta-se na sociedade este novo curso na Zona Sul, que ainda está chegando ao segundo ano de existência; mas perde-se aquele de referência na Zona Norte. Ou seja, como será a entrega de novos profissionais para o mercado de trabalho nos próximos dois anos? Preocupado com isto, estamos trabalhando em uma nova possibilidade que será anunciada em breve. - Publicidade - Mas os questionamentos que trago com as preocupações que não são apenas minhas são: – Como dar suporte ao Itamaraty, que tem uma sede aqui em Recife? Como ajudar todo corpo consular, o segundo maior do Brasil? Como fornecer mão de obra qualificada para todas as empresas exportadoras, importadoras, tradings, agentes de carga e despachantes? E as secretarias públicas, quer sejam do Estado ou do Município, que cada vez têm tido um foco internacional? E o movimento de internacionalização das Startups e de nossas tecnologias, encabeçado pelo Porto Digital e por OCCA, em seu programa de “imersão internacional”? Este que será uma residência, com uma convivência do dia a dia, sobre as várias camadas de culturas internacionais, se preparando para uma internacionalização real. Assim sendo, minha visão é de que é importante a conexão neste momento. A participação de todos interessados direta ou indiretamente na formação deste profissional. É preciso manter a criação da base, dos profissionais, para as projeções que queremos para nossa cidade e no Estado. São eles que dão suporte à manutenção operacional de investimentos internacionais aqui no Estado e que projetam nossa imagem para o mundo. É um trabalho de formiguinha que não pode parar!  E não pararemos! *Gustavo Delgado é Consultor de comércio exterior de internacionalização de empresas, Diretor de OCCA, Diretor de inovação da ABDAEX, Coordenador de MBA em Comércio exterior, Coordenador dos cursos de Gestão da UNIFBV e Mestre em Economia

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"Vamos Paulistar" no São João, mas sem artistas do Paulista", por Ricardo Andrade

O projeto "Vamos Paulistar" foi criado durante a gestão do prefeito Ademir Cunha em Paulista, Pernambuco, nos anos 90. O evento se tornou um símbolo cultural da cidade, especialmente durante as festas de São João, e chegou a ser um dos maiores eventos de São João de Pernambuco, com grande público e atrações como Wesley Safadão e Calcinha Preta. O nome "Paulistar" é um neologismo criado na época. A Banda Quinteto Violado, até gravou um jingle pra divulgar o slogan, que fez muito sucesso, tanto que, os Prefeitos posteriores continuaram com essa "chamada", nos eventos dos anos seguintes. No fim da década de 1980 o então vereador Maurílio Cavalcante(PMDB) conseguiu aprovar uma lei, que determinava que no mínimo, 50% das contratações nas festividades, fosse de artistas locais. Até hoje essa lei nunca foi respeitada, mas agora piorou. O problema é que a atual gestão, mesmo adotando o slogan "Vamos Paulistar", não colocou artistas locais na programação de São João deste ano. Daí as pessoas pelas ruas, estão questionando: como assim? "Vamos Paulistar", mas sem artistas de Paulista? Se a marca "Vamos Paulistar" traz um apelo de pertencimento e identidade local, como fazer isso sem referências e artistas do município do Paulista? O anúncio da Prefeitura, ao menos traz uma boa notícia, que é uma área de acessibilidade, mas quem deveria ter acessibilidade em primeiro lugar, são os artistas da cidade. Já não bastasse a descaracterização de nossas tradições juninas, até mesmo em grandes centros culturais (Caruaru, Campina Grande etc), com ritmos e artistas "alienígenas", produto da grande mídia e da indústria cultural, além do hiperfaturamento dos cachês, agora os artistas locais são excluídos de participar dos palcos do nosso São João. Que nossos gestores entendam, que os festejos juninos, não se reduz à palcos e atrações, à "pão e circo", mas representam o simbolismo e o universo de nossa memória afetiva/ coletiva, das genuínas tradições nordestinas. *Ricardo Andrade é Mestre em Gestão Pública, Historiador, músico, cantor/compositor.

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Educação e Aprendizado: A Revolução do Conhecimento com IA

Como a inteligência artificial está transformando o ensino, desafiando modelos tradicionais, levantando dilemas éticos e abrindo caminhos para uma educação mais inclusiva — ou mais desigual. *Por Rafael Toscano A inteligência artificial está mudando a maneira como aprendemos. E não se trata apenas de tecnologias novas em sala de aula, mas de uma transformação mais profunda: uma mudança na própria lógica do ensino. Em vez de um modelo único, centrado no professor como transmissor de conteúdo, começa a emergir um modelo adaptativo, centrado no aluno — um aprendizado sob medida, moldado por algoritmos que aprendem com o estudante. Sistemas de IA já conseguem identificar onde um aluno está com dificuldade, adaptar o conteúdo, mudar o ritmo e até sugerir novas abordagens de ensino. Essa personalização, que seria inviável para um único professor em uma sala cheia, torna-se possível com o apoio de plataformas inteligentes. O resultado? Um aprendizado mais eficiente, mais envolvente e mais respeitoso com as individualidades. Mas isso levanta uma pergunta importante: a quem pertence esse aprendizado? Quando a IA coleta dados sobre o desempenho dos alunos, seus hábitos de estudo, seus erros e acertos — como essas informações são usadas? A privacidade dos estudantes, especialmente de crianças e adolescentes, precisa ser tratada com o máximo cuidado. A promessa da personalização não pode se tornar uma ferramenta de vigilância. Além disso, há o risco de dependência tecnológica. Um aluno que só aprende com mediação algorítmica talvez tenha dificuldades em desenvolver habilidades que envolvem diálogo, escuta, improvisação — competências humanas que nascem do convívio. É fundamental lembrar que educar não é apenas transmitir informação, mas formar cidadãos, com senso crítico, empatia e capacidade de conviver com o diferente. A IA pode ser uma excelente aliada, desde que usada com responsabilidade. Pode corrigir automaticamente provas, gerar planos de aula, sugerir recursos pedagógicos e até simular experimentos complexos. Com isso, libera o professor para o que mais importa: o contato humano. O papel do educador, nesse novo cenário, não desaparece — ele se transforma. Ele deixa de ser apenas fonte de informação e passa a ser guia, curador, facilitador da aprendizagem. A IA também abre caminhos incríveis para a educação inclusiva. Alunos com deficiências visuais podem contar com softwares de leitura inteligente. Estudantes com dificuldades de aprendizagem podem ter conteúdos adaptados ao seu ritmo. E em comunidades remotas, tutores virtuais podem oferecer apoio que antes era impensável. A tecnologia, nesse contexto, é ponte — não barreira. Mas para que essas promessas se cumpram, é preciso enfrentar um problema estrutural: o acesso desigual à tecnologia. A revolução da IA na educação corre o risco de aprofundar desigualdades se apenas alguns puderem se beneficiar dela. É preciso garantir conectividade, equipamentos, formação de professores e políticas públicas que democratizem essas inovações. Outro ponto crítico é a formação ética dos próprios educadores. Professores precisam ser preparados não apenas para usar ferramentas de IA, mas para refletir sobre elas. Entender seus limites, seus impactos e seus potenciais. A alfabetização digital e ética passa a ser tão importante quanto ensinar matemática ou português. Há também um campo emergente e promissor: o uso da IA na pesquisa educacional. Com grandes volumes de dados, é possível entender melhor o que funciona no ensino, o que precisa ser melhorado, e como diferentes contextos influenciam o aprendizado. A IA pode nos ajudar a tomar decisões mais baseadas em evidências e menos em suposições. No entanto, é essencial manter o olhar humano. A empatia, a escuta ativa, o estímulo ao pensamento crítico — essas são qualidades que nenhuma IA, por mais avançada que seja, poderá replicar com a mesma intensidade. A educação, no fim das contas, é um encontro entre seres humanos. E é nesse encontro que o aprendizado mais profundo acontece. A inteligência artificial pode nos ajudar a ensinar melhor. Mas quem ensina a IA o que é importante ensinar? Quem define o que é essencial para o futuro de uma criança, de um jovem, de uma sociedade? Essas são perguntas que exigem mais do que programação. Exigem sabedoria, diálogo e compromisso com o humano. Por isso, a revolução do conhecimento que a IA traz não é apenas tecnológica. Ela é pedagógica. É filosófica. É política. E, acima de tudo, é uma oportunidade de reimaginar o papel da escola, do professor e do aluno no século XXI. *Rafael Toscano é escritor, pesquisador e professor na CESAR School, engenheiro na Companhia Brasileira de Trens Urbanos e ocupa o cargo de Secretário Executivo de Ciência, Tecnologia e Negócios na Secretaria de Transformação Digital, Ciência e Tecnologia (SECTI) da Prefeitura do Recife. Formado em Engenharia da Computação pela UFPE, é Mestre e Doutor pela Universidade de Pernambuco. **Esse Texto integra o livro IA Transformação das Humanidades

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Liderança feminina em tempos de cuidado: a hora das mulheres

*Por Luciana Almeida No mundo pós-pandemia, algo profundo mudou: o ato de cuidar passou a ocupar um lugar central nas discussões sociais, políticas e organizacionais. Essa transformação, longe de ser apenas simbólica, tem se refletido diretamente nas exigências do mundo do trabalho. O aumento expressivo dos índices de adoecimento mental e do afastamento por questões emocionais nas empresas brasileiras é apenas um dos muitos sinais de que o cuidado – com as pessoas, com os vínculos, com o ambiente – tornou-se uma necessidade estratégica. Foi diante desse cenário que a socióloga Débora Diniz afirmou: “Chegou a hora das mulheres.” Mas o que exatamente ela quis dizer com isso? Historicamente, às mulheres foi atribuído o papel social do cuidado. Desde muito cedo, meninas são educadas para assumir responsabilidades emocionais e práticas dentro da família: cuidar dos irmãos, da casa, dos idosos, dos sentimentos dos outros. Esse padrão se estende ao ambiente profissional onde, não raramente, as mulheres são associadas a funções de apoio, escuta, acolhimento, organização e articulação – habilidades muitas vezes invisibilizadas, mas essenciais para a saúde de qualquer ambiente de trabalho. Dados recentes reforçam essa realidade: entre meninas de 14 a 21 anos, 84% já assumem algum tipo de responsabilidade de cuidado dentro da família (dados da ONG Plan International Brasil, 2023). Essas experiências geram impactos profundos. Ao longo da vida, essas mulheres desenvolvem competências emocionais e sociais que hoje são cada vez mais valorizadas dentro das organizações: sensibilidade, empatia, flexibilidade, construção de vínculos. Pesquisas apontam que, comparadas aos homens, mulheres tendem a priorizar mais o coletivo e o bem-estar do outro, enquanto os homens são educados a pensar em performance individual e resolução racional de problemas. Essa diferenciação – ainda que atravessada por estereótipos de gênero – não pode ser ignorada quando falamos de inteligência emocional, uma das habilidades mais desejadas no mercado de trabalho contemporâneo. Hoje, falar em saúde mental nas empresas vai além de oferecer planos com psicólogos, gincanas corporativas ou ergonomia. Nada disso será eficaz se os relacionamentos dentro das equipes estiverem adoecidos. E é aqui que o cuidado – historicamente desprezado como “habilidade feminina” – se revela essencial para o futuro do trabalho. Saber cuidar passou a ser uma competência de liderança. E as mulheres, por sua trajetória e socialização, chegam neste momento com uma bagagem poderosa, forjada em desafios muitas vezes invisíveis. Reconhecer e valorizar essa presença feminina em cargos de liderança é mais do que uma questão de equidade de gênero: é uma resposta inteligente a um novo tempo, quando resultados e relações caminham juntos. Se antes cuidar era visto como algo secundário, hoje é, sem dúvida, estratégico. E talvez por isso, como disse Débora Diniz, esta seja mesmo a hora das mulheres. *Luciana Almeida é consultora e sócia da TGI

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Ética e Responsabilidade: IA com Consciência Social

Entre vieses, decisões autônomas e privacidade, a ética surge como eixo essencial para guiar o desenvolvimento da inteligência artificial rumo ao bem comum. *Por Rafael Toscano Se a inteligência artificial já está ajudando a compor músicas e corrigir provas, o que acontece quando ela começa a tomar decisões que afetam diretamente a vida das pessoas? Quem responde quando um carro autônomo sofre um acidente? Quem é o responsável por um algoritmo que comete injustiças? É nesse ponto que a ética entra na conversa — não como um detalhe, mas como o coração da questão. A IA não é neutra. Por trás de cada algoritmo, há escolhas humanas: que dados usar, que objetivos priorizar, o que ignorar. Essas decisões, ainda que técnicas, têm consequências morais. Quando um sistema de reconhecimento facial funciona bem para algumas pessoas e mal para outras, estamos diante de um problema ético — não apenas estatístico. Um exemplo emblemático são os algoritmos de recrutamento. Empresas começaram a usar IA para selecionar currículos com base em padrões aprendidos a partir de contratações anteriores. O resultado? A máquina aprendeu a reproduzir preconceitos existentes, excluindo perfis femininos ou de minorias com base em correlações injustas. A IA não “quis” ser injusta — mas aprendeu com o que os humanos fizeram. Esse fenômeno é conhecido como viés algorítmico, e aparece em áreas sensíveis como justiça criminal, concessão de crédito, diagnóstico médico e concessão de benefícios sociais. Em todos esses casos, a IA pode reforçar desigualdades se não for cuidadosamente projetada, testada e supervisionada. Outro dilema ético diz respeito à privacidade. Para funcionar bem, sistemas de IA precisam de dados — muitos dados. Isso significa coletar informações sobre nossas conversas, preferências, localização e hábitos. Até onde vai esse monitoramento? E quem controla esse fluxo de dados? Vivemos em uma era em que assistentes virtuais escutam o tempo todo, e câmeras com IA monitoram ruas, lojas e até nossos lares. Proteger a privacidade individual tornou-se uma das grandes batalhas éticas do nosso tempo. Além do viés e da privacidade, há ainda uma questão de responsabilidade. Quem responde quando um sistema comete um erro? O desenvolvedor? A empresa? O próprio sistema? Como exigir prestação de contas de uma máquina que, tecnicamente, não possui intenção ou culpa? Para resolver isso, especialistas propõem modelos de “IA auditável”, em que todas as decisões possam ser rastreadas e explicadas — algo essencial quando vidas estão em jogo. Essas preocupações se intensificam quando falamos sobre autonomia das máquinas. Imagine um drone militar com capacidade de identificar e atacar alvos por conta própria. Ou um sistema de IA que decide quem deve receber um transplante de órgão. Em que momento uma máquina cruza a linha entre ferramenta e agente moral? A possibilidade da chamada “superinteligência” — IAs que ultrapassem nossa capacidade de controle — não é apenas ficção científica. É um alerta ético sobre os limites que não podemos ignorar. Mas nem tudo são riscos. A ética também nos mostra caminhos de esperança. Ela nos convida a usar a IA para promover a justiça, corrigir desigualdades, garantir acessibilidade, diagnosticar doenças com mais precisão e ampliar o acesso ao conhecimento. O desafio é garantir que esses benefícios sejam distribuídos de forma justa, sem deixar comunidades vulneráveis de fora. E aqui entra o papel das humanidades. Filósofos, sociólogos, juristas e educadores precisam estar envolvidos no desenvolvimento da IA. Não basta deixar essas decisões nas mãos de engenheiros e programadores. É preciso construir pontes entre técnica e reflexão, entre inovação e valores. A ética não é um freio para o progresso. Ela é o volante. Sem ela, corremos o risco de acelerar rumo ao desconhecido sem saber para onde vamos — ou quem deixamos para trás. Com ela, podemos guiar a IA de forma mais consciente, mais justa e mais humana. Este artigo não busca oferecer respostas definitivas, mas levantar perguntas urgentes: que tipo de mundo queremos construir com a ajuda das máquinas? Que valores queremos codificar em nossos algoritmos? E, acima de tudo, como garantir que, ao criarmos máquinas inteligentes, não percamos a nossa própria inteligência moral? A ética na IA não é um luxo. É uma necessidade. E quanto mais cedo compreendermos isso, maiores serão as chances de usarmos essa poderosa tecnologia para o bem comum. *Rafael Toscano é escritor, pesquisador e professor na CESAR School (PE) e engenheiro na Companhia Brasileira de Trens Urbanos (DF). Atualmente, ocupa o cargo de Secretário Executivo de Ciência, Tecnologia e Negócios na Secretaria de Transformação Digital, Ciência e Tecnologia (SECTI) na Cidade do Recife e é Diretor de Admnistração, Finanças e Planejamento do Alumni CIn UFPE. Formado em Engenharia da Computação pela UFPE, é Mestre e Doutor pela Universidade de Pernambuco, MBA em Gestão de Negócios pela Fundação Dom Cabral (MG) e MBA em Economia pela USP (SP). É especialista em Direito Tributário pela Universidade de Ipatinga (MG) e Gerente de Projetos certificado pelo PMI desde 2014. **Esse Texto integra o livro IA Transformação das Humanidades LEIA TAMBÉM Criatividade Algorítmica: quando a máquina cria com a gente Filosofia e IA: A Mente por Trás da Máquina

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Criatividade Algorítmica: quando a máquina cria com a gente

A inteligência artificial como nova parceira na arte e na criação, desafiando nossos limites e redefinindo o que entendemos por criatividade. *Por Rafael Toscano Por muito tempo, a criatividade foi considerada um dom exclusivamente humano — algo que brota da alma, da experiência e da emoção. Pintar um quadro, compor uma sinfonia, escrever um poema: todas essas expressões pareciam exigir um tipo de sensibilidade que máquinas jamais alcançariam. Mas e se estivermos vivendo um momento em que essa ideia está sendo questionada? Com o avanço da inteligência artificial, surgiram algoritmos capazes de criar imagens, músicas, histórias e até peças de teatro. Eles não apenas repetem padrões; eles inovam. Pintam no estilo de Van Gogh, compõem no estilo de Beethoven e escrevem como Shakespeare. Mas o que isso significa? A máquina está, de fato, criando? Ou estamos apenas vendo reflexos de nossa própria criatividade? É aqui que o conceito de criatividade algorítmica entra em cena. Em vez de imaginar a IA como substituta do artista, podemos vê-la como parceira. Um pincel novo. Um instrumento que amplia nossas capacidades, desafia nossas ideias e abre novas portas para a imaginação. Quando usamos o Google Arts & Culture para transformar uma selfie em uma obra de arte barroca, não estamos apenas clicando em um botão. Estamos interagindo com um sistema que aprendeu, com milhões de obras humanas, a reinterpretar o belo. Esse tipo de colaboração acontece também na música. Compositores já usam IA para sugerir melodias, criar harmonias e até improvisar solos. AIVA, por exemplo, é uma inteligência artificial treinada com milhares de partituras. Ela pode compor trilhas sonoras completas, e muitos ouvintes sequer percebem que estão escutando algo criado por uma máquina. Nesse caso, quem é o artista? O algoritmo? O programador? Ou o humano que escolheu as notas certas? A literatura também entrou nessa dança. Modelos como o GPT (o mesmo que dá voz a esta conversa) são capazes de escrever contos, poemas e ensaios com fluidez impressionante. Eles aprendem com bilhões de palavras escritas por humanos, absorvendo estilos, estruturas narrativas e referências culturais. Ainda assim, falta-lhes algo essencial: intenção. Eles não têm desejo, nem propósito. Criam porque foram programados para isso, não porque têm algo a dizer. E isso nos leva a uma pergunta essencial: o que define a verdadeira criatividade? É a originalidade? A emoção? A intenção? Quando uma máquina cria, ela está expressando algo — ou apenas simulando expressão? Talvez a resposta não seja simples. Talvez a IA esteja nos forçando a expandir nossa definição de criatividade, incorporando novas formas de colaboração e inspiração. Mais do que substituir artistas, a IA está ajudando a criar experiências artísticas inéditas. Em instalações imersivas, algoritmos interagem com o público em tempo real, moldando luzes, sons e movimentos com base nas reações das pessoas. Em ambientes virtuais, espectadores tornam-se protagonistas, moldando narrativas com a ajuda de sistemas inteligentes. O palco da arte está se expandindo — e o público também. Mas essa revolução traz desafios. Quem assina a obra? Quem é o autor? Quando uma IA cria uma pintura vendida por milhares de dólares, como aconteceu com o retrato gerado por uma GAN (rede adversarial generativa), o que estamos comprando: a arte ou o conceito? O talento ou a tecnologia? Além disso, há o risco da homogeneização. Se todas as IAs forem treinadas com os mesmos dados, será que elas acabarão criando versões ligeiramente diferentes das mesmas ideias? Como garantir diversidade e autenticidade num cenário onde tudo pode ser replicado em segundos? Apesar desses dilemas, uma coisa é certa: estamos diante de uma nova era da criatividade. Uma era em que humanos e máquinas podem criar juntos — não como competidores, mas como parceiros. A IA, nesse contexto, não rouba a cena; ela amplia o palco. Ao final, talvez a pergunta mais importante não seja se a IA pode criar, mas sim como nós, humanos, escolhemos usar essa nova ferramenta criativa. O que queremos expressar com ela? Que histórias queremos contar? Que sentimentos queremos provocar? A criatividade algorítmica é um espelho — não de quem somos apenas como indivíduos, mas do que podemos ser como espécie quando unimos razão e sensibilidade, tecnologia e arte, máquina e humanidade. *Rafael Toscano é escritor, pesquisador e professor na CESAR School (PE) e engenheiro na Companhia Brasileira de Trens Urbanos (DF). Atualmente, ocupa o cargo de Secretário Executivo de Ciência, Tecnologia e Negócios na Secretaria de Transformação Digital, Ciência e Tecnologia (SECTI) na Cidade do Recife e é Diretor de Admnistração, Finanças e Planejamento do Alumni CIn UFPE. Formado em Engenharia da Computação pela UFPE, é Mestre e Doutor pela Universidade de Pernambuco, MBA em Gestão de Negócios pela Fundação Dom Cabral (MG) e MBA em Economia pela USP (SP). É especialista em Direito Tributário pela Universidade de Ipatinga (MG) e Gerente de Projetos certificado pelo PMI desde 2014. **Esse Texto integra o livro IA Transformação das Humanidades

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Filosofia e IA: A Mente por Trás da Máquina

Mais do que cálculos: como a inteligência artificial revive antigos debates sobre mente, ética e humanidade *Por Rafael Toscano A inteligência artificial pode parecer um fenômeno tecnológico recente, mas sua origem está profundamente entrelaçada com algo muito mais antigo: a filosofia. Antes dos algoritmos e da computação, já existiam perguntas — grandes, difíceis e essenciais — sobre a mente, o conhecimento, a ética e a própria existência. A IA, no fundo, é uma resposta prática a essas perguntas. Desde os tempos de Platão, quando ele falava sobre o que é real e o que é ilusão, até as reflexões de Descartes sobre a mente e o corpo, os filósofos vêm tentando entender como pensamos, sentimos e tomamos decisões. A IA é, de certo modo, uma tentativa de capturar esse processo em código. Hoje, quando construímos sistemas que aprendem, decidem e até criam, estamos, talvez sem perceber, reproduzindo discussões filosóficas milenares. Não é apenas uma questão de “como” fazer a tecnologia funcionar, mas de “por que” e “para quê” ela deve existir. A filosofia também nos lembra que a inteligência não é só cálculo e eficiência. Ela envolve valores, emoções, contextos. Quando se fala em “ensinar ética” para um carro autônomo ou um robô cuidador, estamos mergulhando em dilemas que desafiam até os pensadores mais experientes. Kierkegaard, Sartre e Camus — cada um à sua maneira — refletiram sobre liberdade, responsabilidade e escolhas difíceis. Os mesmos dilemas agora aparecem, traduzidos em linhas de código. Foi Alan Turing, nos anos 1950, quem lançou uma das primeiras sementes filosóficas modernas da IA ao propor a famosa pergunta: “As máquinas podem pensar?”. Com ela, ele deu origem ao Teste de Turing, um experimento mental em que uma máquina seria considerada inteligente se fosse capaz de manter uma conversa indistinguível de um ser humano. Mais do que um teste técnico, essa proposta nos leva a refletir sobre o que realmente significa “pensar”. É necessário ter consciência? Ou basta parecer que tem? Anos depois, John Searle trouxe um contraponto poderoso com o experimento do “Quarto Chinês”. Ele propôs imaginar uma pessoa dentro de uma sala, manipulando símbolos chineses com base em regras, sem entender nada do idioma. Para quem está de fora, ela parece falar chinês — mas será que entende? Searle queria mostrar que simular a compreensão não é o mesmo que compreender de fato. A IA pode agir como se entendesse, mas isso seria apenas uma ilusão de consciência? Essas reflexões apontam para uma distinção essencial: a diferença entre inteligência funcional e consciência. Podemos programar uma máquina para resolver problemas, escrever poemas ou tomar decisões — mas isso significa que ela tem uma mente? Ou apenas executa tarefas com base em padrões? É aí que percebemos: a IA não é apenas uma criação técnica. É um espelho. Ela nos obriga a revisitar nossas certezas sobre o que significa ser humano. Será que a consciência pode ser programada? Existe diferença entre inteligência e sabedoria? Uma máquina pode ter intenções? Quando colocamos essas questões no centro da conversa, percebemos que filosofia e IA não são áreas separadas. Elas são companheiras. A filosofia nos dá o mapa. A IA nos dá o caminho. E quem caminha somos nós. Mais do que uma reflexão teórica, este capítulo é um convite para relembrar que, no fundo, toda tecnologia que criamos reflete o que somos e o que queremos ser. A IA, com todas as suas possibilidades, é mais do que uma revolução digital — é uma continuação da busca filosófica por sentido, justiça, verdade e consciência. *Rafael Toscano é escritor, pesquisador e professor na CESAR School (PE) e engenheiro na Companhia Brasileira de Trens Urbanos (DF). Atualmente, ocupa o cargo de Secretário Executivo de Ciência, Tecnologia e Negócios na Secretaria de Transformação Digital, Ciência e Tecnologia (SECTI) na Cidade do Recife e é Diretor de Admnistração, Finanças e Planejamento do Alumni CIn UFPE. Formado em Engenharia da Computação pela UFPE, é Mestre e Doutor pela Universidade de Pernambuco, MBA em Gestão de Negócios pela Fundação Dom Cabral (MG) e MBA em Economia pela USP (SP). É especialista em Direito Tributário pela Universidade de Ipatinga (MG) e Gerente de Projetos certificado pelo PMI desde 2014. **Esse Texto integra o livro IA Transformação das Humanidades

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