Cepe Editora lança a tetralogia poética de Marcus Accioly

Publicados entre nos anos de 1970 e 1990, títulos estavam esgotados há décadas

(Da Cepe)

Um dos principais nomes da poesia contemporânea, com obra traduzida para o espanhol, francês e alemão, admirado por nomes como João Cabral de Melo Neto, Carlos Drummond de Andrade, Antônio Houaiss e  Jorge Amado, o pernambucano Marcus Accioly (1943-2017) terá quatro de seus livros seminais – Sísifo, Íxion, Narciso e Érato – reeditados pela Cepe. As segundas edições chegam décadas depois de publicados e esgotados, marcando os 80 anos de nascimento do escritor. O lançamento acontece no dia 25 de maio, a partir das 19h, no Museu do Estado de Pernambuco (Mepe). O evento também abrirá espaço para um bate-papo sobre o legado do escritor, voz potente da Geração 65, reunindo a viúva do poeta, a arquiteta Glória Dalla Nora; o jornalista e presidente do Conselho Editorial da Cepe, Fábio Lucas e o doutor em Literatura e Cultura, professor da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) Robson Teles.

Apesar de publicados em momentos distintos, Sísifo (1976), Íxion (1978), Narciso (1984) e Érato (1990) são considerados uma tetralogia. “O próprio Marcus já considerava em vida esses quatros livros como parte de um projeto maior, tendo como eixo o diálogo com a poesia clássica. São formalmente livros diferentes, mas que têm em comum esse fio condutor dentro de uma perspectiva de revisitação do mundo grego; sem saudosismos, mas sim uma atualização desse discurso. Uma reconfiguração daquela poesia clássica utilizando elementos pós-modernos tão presentes na poética de Marcus Accioly”, destaca o editor associado Wellington de Melo.

O projeto editorial da tetralogia, que contou com recursos do Funcultura e foi abraçado pela Cepe, partiu da iniciativa de Glória Dalla Nora. Guardiã da obra literária deixada pelo companheiro, ela tem concentrado esforços para reeditar títulos e publicar inéditos deixados pelo poeta. Wellington de Melo, então editor da Cepe, coordenou as edições, convidando o artista visual e ilustrador pernambucano Raoni Assis para assinar as capas.

Contemporaneidade – Na tetralogia, o poeta revisita os mitos tendo como horizonte o homem contemporâneo. Lançado há 47 anos, Sísifo (430 páginas) é um longo poema épico em dez cantos e quase 12 mil versos. É considerado um dos mais experimentais de Marcus Accioly. Situa a tragédia daquele que foi considerado o mais inteligente dos mortais que, por enganar e desafiar os deuses, foi condenado a rolar uma pedra montanha acima num eterno e improdutivo esforço. Simboliza a condição humana em suas tentativas de superação: presos a uma vida sem sentido, ainda assim tendo a liberdade de buscar um propósito em meio ao absurdo. Ao ler os originais, Carlos Drummond de Andrade assegurou ser a obra uma “fonte inesgotável de leitura, surpresa e admiração”.

Considerada pelo autor como “Mais que um poema dramático e menos que uma tragédia grega, (…) uma tragédia à grega”, Íxion (135 páginas) sintetiza a dualidade entre o bem e o mal na infindável batalha interna que marca a existência. Reelabora a lenda do rei dos Lápitas, um dos maiores vilões da mitologia grega que, apaixonado pela filha do rei Dioneu (Dina), mente e mata para atingir seus propósitos. Invadido pelo remorso, é acolhido pelos deuses, mas volta à condição abjeta ao tentar seduzir Hera, a mulher de Zeus , sendo condenado a girar eternamente no inferno, atado a uma roda de fogo. A obra de Accioly relata os sofrimentos de Íxion em momento posterior à sua morte e prisão. “É possível imaginar, para o avanço ou recuo dos anos, a vida anterior de Íxion porque já o vimos entre os mortais e entre os deuses. Agora (o que se torna mais fantástico e mais real) é imaginá-lo entre os demônios”, destaca o poeta em texto que integra o título.

“Dos três personagens – malditos e mitológicos sobre os quais escrevi -, este é o mais marginal”, disse certa vez o poeta sobre Narciso (304 páginas). É marginal porque convive com uma absoluta solidão, falando apenas consigo próprio. Vencedor do Prêmio de Poesia concedido pela Associação Paulista dos Críticos de Artes, e do Prêmio Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras, Narciso se destaca como um “estranho realismo-lírico”. “Narciso é um ser completo, que se autodeseja e que se basta, logo, está longe de buscar um-outro: ele-procura-ele e se satisfaz”, escreve o poeta.

Na obra dedicada à musa Érato (128 páginas), a quem os gregos viam a fonte de inspiração da poesia lírica ou erótica, o poeta pernambucano traz “69 poemas eróticos e uma ode ao vinho”. Em uma das estrofes do poema 66, ele fala da tetralogia e define bem o que são a essência dos poemas de Érato: “Primeiro Sísifo / segundo Íxion / depois Narciso / e agora Érato / (ó musa) o abismo / é um sexo aberto”. Ao prefaciar a publicação, o  professor, diplomata, filólogo, ensaísta e crítico literário Antônio Houaiss (1915-1999) lembra que Érato é a única obra da tetralogia baseada em um personagem feminino. “A beleza deste livro é que, sem façanhices nem arreganhos agressivos e pedantes, Marcus Accioly nos oferece o amor erótico na plenitude – sem medos e sem ofensas, como se eternamente jamais se tivesse revestido de falsos pudores ou de ostensivos rancores”, afirmou.

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