Pernambuco possui mais de 134 mil pessoas integradas em alguma cooperativa. Ao todo são 264 organizações cooperadas no Estado, que são responsáveis pela geração de quase cinco mil empregos. Os ramos são diversos, indo da fruticultura irrigada ao setor de transporte ou crédito. Esse é um movimento que tem fortalecido principalmente as pequenas e médias empresas, que juntas ganham escala e a possibilidade de ocupar espaços no competitivo mercado global. Um dos cases de maior sucesso em solo pernambucano é o das empresas de produção de uvas e mangas no Vale do São Francisco. Nos centros urbanos, as cooperativas médicas, Unimeds, são a marca mais conhecida.
Uma das organizações que tem atravessado a crise com acelerado crescimento é a Coopex Vale (Cooperativa de Produtores e Exportadores do Vale do São Francisco). Com 27 cooperados e 400 hectares de terras, ela alcançou em 2016 um faturamento de R$ 63 milhões. Esse resultado bateu em 30,3% os números de 2015, quando faturou R$ 48,4 milhões. “Para 2017 projetamos um salto para R$ 75 milhões”, afirma o diretor Jailson Lira.
Para alcançar esse desempenho a cooperativa investiu em inovação, com a oferta de novas variedades de uvas. Há três anos a Coopex Vale investiu na espécie de uva Arra 15, desenvolvida na Califórnia. Mesmo pagando royalty de 6% por cada quilo de produção para os norte-americanos, a novidade caiu no gosto da clientela brasileira e europeia e tem avançado no mercado. Outra nova variedade é a BRS Vitória, uma uva preta, desenvolvida pela Embrapa, bastante doce e com aroma agradável.
A entrada mais forte no mercado brasileiro da Coopex Vale se dá com a criação da marca Gota de Mel. A inspiração para lançar as novas espécies de uva veio dos melões de redinha, que ofertam produtos selecionados, com um maior valor agregado. “Um dos nossos diferenciais tem sido levar a mesma qualidade que oferecemos na exportação para o mercado brasileiro”.
Outro player de destaque na frutivinicultura no Vale é a Cooperativa Agrícola Nova Aliança (Coana). Composta por cinco famílias de origem japonesa, eles dispõem de uma área de produção de 500 hectares entre uvas e mangas. “A cooperativa faz a aquisição de insumos e embalagens. Esse trabalho conjunto nos faz comprar bem. Para o pequeno produtor esse é o único caminho para se manter competitivo. A nossa estrutura oferece também a câmara fria. Somos responsáveis por 100% da comercialização dos produtores”, afirma o presidente Edis Matsumoto.
Atualmente, 65% das uvas da Coana são para o mercado interno, enquanto que 35% vão para o exterior. Já em relação às mangas, 60% são exportadas e 40% ficam no País. Além da produção anual de 6 mil toneladas de uvas e 4 mil toneladas de manga, a Coana se diferenciou ao investir na produção do suco de uva Terra Sol (integral, sem adição de água ou açúcar). “Nos últimos 10 anos, o mercado para esse segmento de suco cresceu numa média de 15% ao ano”, afirma Igor Sileni, gerente de operações da empresa que produz 500 mil litros por ano e já faz testes para oferecer também suco orgânico.
Em 2016, o faturamento com a comercialização para o mercado externo foi de R$ 23 milhões, enquanto que para o mercado interno atingiu R$ 17 milhões. “Nossa maior aposta agora é o consumidor do Brasil. Projetamos que em cinco anos chegaremos a um faturamento de R$ 55 milhões para o mercado brasileiro e R$ 35 milhões nas exportações”, afirma Matsumoto.
Entre as cooperativas urbanas, o segmento de crédito tem alcançado resultados bastante promissores. O Sicredi (Sistema de Crédito Cooperativo) do Vale do São Francisco fechou o ano de 2016 com 3.176 associados. Ela dispõe de duas agências em Petrolina e uma em Juazeiro. A organização fechou o ano passado com um ativo total de R$ 73.757 milhões, que representou uma evolução de 17% em relação a 2015. “Nos bancos o usuário é um cliente, na cooperativa é o próprio dono”, diferencia o presidente do conselho de administração, Antônio Vinicius Ramalho.
O presidente da OCB-PE ressalta que há um engajamento maior dessas cooperativas com o desenvolvimento local, quando comparados com as instituições bancárias. “As cidades com cooperativas alcançam IDH melhores”, afirma Malaquias.
Uma das marcas do Sicredi em todo o País, por exemplo, é o apoio à agricultura familiar. Por três anos consecutivos a organização foi o agente financeiro com maior volume de operações de investimento no âmbito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). No ano agrícola 2015/2016 foram realizadas 11 mil operações, que movimentaram R$ 567 milhões em investimentos. A cooperativa estima fechar 2017 com a liberação de cerca de R$ 10,6 bilhões, em 185 mil operações, entre custeio e investimentos em todo Brasil.
A cooperativa médica Unimed está construído o hospital Unimed Petrolina. Com o investimento de R$ 20 milhões, a unidade hospitalar será a maior da região, com 200 leitos. A primeira etapa da obra, que terá 30 leitos, será inaugurada em outubro.
Com 400 médicos associados, a cooperativa tem uma carteira de 62 mil usuários. A rede já possui um hospital próprio da região do Vale do São Francisco, o Unimed Juazeiro, que dispõe de 79 leitos. “Somos a maior operadora da região. No ano passado tivemos um crescimento de 4% na quantidade de usuários. Esse foi inclusive um desempenho menor, devido à taxa elevada de desemprego. A nossa média de crescimento era de 6,5% a 8% por ano”, relata o gerente comercial Ítalo Barbosa.
Para fortalecer o movimento do cooperativismo em Pernambuco, a OCB-PE investe em formação. A organização é responsável pelo Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop), que integra o Sistema S, a exemplo do que é o Senai, para a indústria, e o Sebrae, para o empreendedorismo.
No incentivo à formação, a OCB-PE criou há 3 anos o primeiro MBA do Estado em Gestão de Cooperativas. No primeiro ano, o curso foi ofertado em parceria com a Unicap, no ano passado com a Maurício de Nassau, e atualmente acontece em parceria com a Faculdade Marista.
“Temos investido bastante na formação das pessoas, tanto dos colaboradores como dos dirigentes das cooperativas do Estado, porque entendemos que só através da educação podemos criar um cooperativismo novo”, afirma Malaquias. A pós-graduação tem o objetivo de qualificar o serviço de gestão e governança das cooperativas pernambucanas.
Malaquias projeta a criação da Faculdade do Cooperativismo em Pernambuco, que iria oferecer o curso superior para o segmento. “Talvez seja possível inaugurá-la já em 2018. Será a primeira do Nordeste nessa especialidade”. Além da oferta do curso superior, o presidente destaca ter como meta que seja uma instituição com desenvolvimento de pesquisa e extensão.
(Reportagem do jornalista Rafael Dantas – rafael@revistaalgomais.com.br)
*A reportagem viajou ao Vale do São Francisco à convite da Sescoop