Crianças aprendem literatura de cordel versalizando imagens nas escolas do Cabo - Revista Algomais - a revista de Pernambuco

Crianças aprendem literatura de cordel versalizando imagens nas escolas do Cabo

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O professor e poeta Esperantivo se une ao fotógrafo Renato Moura em oficinas semanais nas salas de aula da rede pública municipal de ensino . Foto: Renato Moura

Desenvolver em estudantes de escolas públicas do Cabo de Santo Agostinho, litoral sul de Pernambuco, o amor pela literatura de cordel e estimular o aprendizado de novos saberes a partir da ludicidade e da musicalização deste gênero literário. Esta é a proposta do projeto Versalizando Imagens, de ensino da literatura de cordel, que reúne o professor e poeta Esperantivo e o produtor e fotógrafo Renato Moura em oficinas semanais nas salas de aula da cidade. O projeto proposto pelos dois tornou-se uma parceria com a Secretaria Municipal de Educação do Cabo de Santo Agostinho. 

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Gênero literário próprio da cultura popular do Nordeste e que recebeu o título de Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro no ano de 2018, o cordel é uma linguagem singular para explorar e manifestar, de forma única, as descobertas e emoções dos jovens. As oficinas constroem um paralelo entre os conteúdos que são trabalhados em sala de aula com os elementos da cultura popular. 

Tudo nasceu de forma natural, do encontro entre os produtores e do desejo do poeta Esperantivo em difundir esta arte para as novas gerações. “Eu queria formar a maior quantidade possível de pessoas que gostem de poesia. E eu tinha essa inquietação de fazer uma coisa lúdica numa sala de aula que tivesse a ver com o que o professor estivesse falando”, explicou Esperantivo. O projeto existe desde 2016 e já alcançou mais de 4.000 alunos em Pernambuco e outros Estados do Brasil. 

“Por exemplo, o professor de Biologia explicando sobre a classificação dos seres vivos, eu entro com um verso sobre esse assunto. Ou seja, a gente não ocupa o lugar do professor, apenas traz o lúdico pra facilitar a compreensão dos alunos”, completa o poeta. De acordo com Esperantivo, durante as oficinas ele percebeu nos alunos problemas de autoconfiança e autoestima que são solucionados com a produção do cordel. 


“Nós que viemos de uma situação difícil sabemos como a confiança é importante. Muitas vezes pensamos “Será que sou capaz? ‘Me falta até uma roupa pra vestir, então será que eu chego numa universidade?’, e foi pensando também em mudar isso que o projeto foi criado”, afirma. Durante as oficinas, são estimuladas a criatividade, a liberdade e a autonomia dos alunos com exercícios de criação de versos e rimas na métrica do cordel. Dessa vez, as oficinas acontecem em 19 turmas de 4 escolas da rede municipal do Estado, formando mais de 600 alunos. 


Segundo Maria Clara Mignac, aluna do 7º ano da Escola de Tempo Integral Governador Eduardo Campos, no Cabo de Santo Agostinho, a experiência impacta diretamente no aprendizado.  “É muito legal porque ele aborda diversos temas nas oficinas. Por exemplo, agora estamos no Setembro Amarelo e estamos versando sobre esse assunto. Ajuda muito no aprendizado de outras matérias também, porque acaba virando uma revisão”, disse. 


Já para Priscila Santos, supervisora da mesma escola, as oficinas acessam um lugar novo para os alunos. “O cordel traz uma coisa lúdica. Faz com que os nossos estudantes desejem participar, então essa vontade de produzir faz com que a imaginação possa criar, dar asas ao que eles pensam”, disse. Segundo Priscila, nas primeiras experiências da oficina os alunos traziam muitas histórias de vida para o cordel, com o passar do tempo eles começaram a explorar mais sua criatividade, criando sobre coisas do seu cotidiano. 


Priscila destaca ainda os impactos positivos da oficina no desenvolvimento da aprendizagem dos alunos. “Desde a primeira produção vejo avanços nos alunos, na questão da oralidade, desenvoltura, perda da timidez, melhora dos textos e na própria construção das suas ideias mesmo”, disse. Mãe de Maria Clara Mignac, a educadora Verônica Lira ressalta ainda o valor das oficinas para estimular os jovens nas aulas. “O cordel é uma atividade diferenciada dentro de sala de aula e por isso os alunos se encantam. Quando bem trabalhado, desperta nos alunos a vontade de ler, escrever e de criar o seu cordel. Desperta, também, a vontade de saber mais, conhecer mais sobre essa literatura. Eu vejo isso na Maria Clara”, concluiu.  

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