Nós, brasileiros, somos os melhores em rirmos de assuntos sérios que, de tão sérios, acabam virando piada. Porém, a polarização política que vivemos – aliás, diga-se de passagem, estrategicamente alimentada pelo atual governo – tem o poder de destruir até mesmo laços familiares e antigas amizades. Remédio para isso tem, minha gente: o bom humor. Vamos levar a vida na base do sorriso, pessoal. Alegria, meu povo!
Quando seu primo postar em defesa do trabalho infantil, manda uma foto dele, de fralda, empurrando um carrinho e diz que ele tem experiência na função de flanelinha desde sempre. Quando a tia defender a nomeação do filho do presidente como embaixador nos EUA, envia foto dela fritando hambúrguer e diz que ela também merecia o cargo. Emende com o convite para uma cerveja porque você quebra o tenso clima. Ninguém resiste a uma gelada. Nem sua tia.
Defendi a Reforma da Previdência e fui atacado por amigos esquerdistas com agressividade. Critiquei a política de educação do governo e fui agredido verbalmente por familiares direitistas. Saibam todos vocês, amigos do coração, que não tenho lado neste FLA x FLU. Defendo ideias que acho positivas para o Brasil. Não esqueçam as palavras de Millôr, queridos: “O capitalismo é a exploração do homem pelo homem. O socialismo é o contrário.”
A intolerância com ideias antagônicas tem invadido até mesmo os processos judiciais. Como atuo na área jurídica, evidentemente, que a argumentação é minha matéria- prima. Ferramenta de trabalho. Mas o jurista nasce vaidoso, na sua grande maioria. Então, se escreves algo contrário aos pensamentos – interesses, sejamos claros – de outrem, pronto! Acabou-se o mundo! Assim tem sido. Não há data vênia que impeça a ira do contrariado. Seja ele o advogado, a própria parte contrária ou o Juiz que viu sua decisão, despacho ou ordem contestada.
Dias desses, em debate, defendi o direito de o trabalhador escolher se deseja uma relação autônoma ou empregatícia. Aliás, sobre isso, assistam ao excelente documentário Estou me Guardando para Quando o Carnaval Chegar, escrito e dirigido por Marcelo Gomes. Mostra a vida, o trabalho, sonhos e desejos do povo de Toritama, capital do jeans, que prefere caminhos autônomos e independentes em suas atividades, geralmente exercidas em pequenas confecções instaladas no quintal da própria casa, também conhecidas como facções. Lá todos parecem trabalhar incessantemente, exceto no Carnaval. Voltando, quase apanhei ao vivo no debate! Escutei até um “idiota” vindo da plateia. E um “fuleiro” também. Essa doeu. A primeira nem ligo. Já me habituei.
Defenderei até a morte o direito da exposição das ideias do outro, em qualquer situação, ainda que não concorde com sua linha de pensamento. Espero que façam o mesmo comigo. O nome disso é democracia. Calma, bença!