Em “Pela Janela”, atriz Magali Biff tem o maior papel da carreira no cinema

*Houldine Nascimento

Após uma longeva carreira dedicada ao teatro – já são 35 anos de experiência nos palcos – e discretas participações em novelas, à exceção de sua Ernestina em “Chiquititas” (1997), a atriz paulista Magali Biff resolveu explorar o audiovisual. No ano passado, ela esteve em “Deserto”, primeiro filme de Guilherme Weber, e em 2018 aparecerá em “Açúcar”, novo trabalho de Renata Pinheiro e Sérgio Oliveira que será apresentado ainda este mês no Festival de Roterdã.

Mas ela se destaca mesmo em Pela Janela, uma coprodução Brasil-Argentina que estreia nesta quinta-feira (18) dentro da Sessão Vitrine Petrobras, uma iniciativa que tem garantido uma melhor distribuição de produções independentes do Brasil. Este filme circulou por festivais dentro e fora do país e recebeu o prêmio da crítica em Roterdã, além de ter garantido os troféus de Melhor Atriz para Magali e Melhor Ator Coadjuvante (Cacá Amaral) no 12º Fest Aruanda, em João Pessoa.

E também é o primeiro longa-metragem de Caroline Leone, montadora de “Os famosos e os duendes da morte”, “Vermelho Russo”, entre outros. Magali Biff encarna Rosália, uma idosa responsável por chefiar a produção de uma fábrica de reatores em São Paulo. Há 30 anos, ela se dedica a este ofício. É a primeira a chegar e a última a sair todos os dias.

A empresa se une a outra companhia do setor e as novas diretrizes determinam contenção de gastos. Como consequência, acaba demitida. Ossos do capitalismo. Não há mais o que fazer depois de uma vida inteira voltada ao trabalho. Isso gera uma tristeza profunda em Rosália e desperta a preocupação do irmão, José (Cacá). Existe uma boa relação entre os dois e ele decide levá-la numa viagem de carro a Buenos Aires. “Zé”, como é chamado por ela, vai a trabalho entregar um veículo na capital argentina.

A partir daí, vira um filme de estrada, mostrando paisagens de pequenas cidades dos dois países e até as Cataratas do Iguaçu, num momento de catarse da heroína, que sente o vapor d’água no rosto. Em certo sentido, essa passagem quebra momentaneamente o que o espectador tinha de “verdade”, já que a lente da câmera fica toda molhada, demonstrando ali tratar-se de algo ficcional, embora não fosse necessário dizer. É como se a diretora involuntariamente chamasse a atenção de quem está assistindo.

Quase tudo é visto com sobriedade, das imagens à diegese musical. O mais impressionante é que a câmera está quase todo o tempo a serviço de Magali, que sem dúvida tem o seu grande momento no cinema. Ela interpreta sua Rosália de um jeito minimalista, no tom do próprio filme. É raro uma atriz debutar para valer no cinema aos 62 anos de idade. Se Pela Janela oferecesse apenas isso, já seria de grande valia, mas o filme vai além.

*Houldine Nascimento é jornalista

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