Epidemia de suicídio pode ser contida

Uma epidemia silenciosa. Uma pessoa morre por suicídio a cada 45 minutos no Brasil, segundo o Boletim Epidemiológico, do Ministério da Saúde. Em Pernambuco são 337 casos por ano, quase um por dia. O País, conhecido pela alegria, tem visto crescer a taxa de pessoas que dão fim as suas vidas, motivadas pela tristeza e pela solidão. Especialistas analisam como a crise, as pressões da vida moderna e as novas tecnologias influenciam essa epidemia. Um mal que não tem remédio, mas, a boa notícia é que pode ser prevenido. Por isso, o Ministério da Saúde instituiu a campanha Setembro Amarelo, dedicando este mês à conscientização da importância da prevenção.

De acordo com Kátia Petribú, presidente da Sociedade Pernambucana de Psiquiatria e professora da UPE, o suicídio é originado de muitos fatores. Mas a quase totalidade dos casos está ligada à depressão. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada 100 pessoas depressivas, 15 decidem colocar fim à própria vida.

Kátia Petribú, presidente da Sociedade Pernambucana de Psiquiatria.

O aumento dos casos de suicídio no Brasil nos últimos anos (73% entre 2000 e 2016) pode ter relação com fatores socioeconômicos, como a crise. “Violência, insegurança pública, falta de perspectiva para os jovens e baixa de qualidade da educação angustiam a população e influenciam esse cenário”, aponta Petribú.
A exposição nas redes sociais é outro fator recente que está relacionado aos índices de suicídio, na avaliação dos especialistas. O vazamento de fotos íntimas, principalmente de jovens e adolescentes, é um dos fatores mais conhecidos que levam as vítimas a tomarem a decisão de desistir da vida.

É na timeline desses espaços digitais que se constrói uma narrativa fake, isto é, falsa, da vida, que esconde problemas de ordem pessoal e simula relacionamentos que também não existem. “A exposição pública nas redes sociais apresenta sempre pessoas bonitas, em momentos de felicidade. A tristeza é rara. Mas na vida real, muitas dessas pessoas estão solitárias, tristes. Todo o sucesso, beleza e amizades não existem”, afirma a psiquiatra. Ela conta ainda que a internet acabou ampliando o acesso à informação sobre métodos de suicídio, que antes eram mais restritos.

Os milhares de amigos do Facebook não representam relacionamentos de fato, na análise do psicólogo e pastor Jades da Cunha Jr. “Uma pessoa que pensa muito em suicídio pode ter o laço social fragilizado. Na sociedade atual, o sujeito moderno se sente muito abandonado, sem relacionamentos aprofundados. Os vínculos digitais são muito superficiais”, explica.

O contraponto a isso é a rede de prevenção criada pelos relacionamentos, sejam familiares ou de amizade. “As pessoas julgam alguém com pensamento suicida como um covarde. Mas ele não está tentando tirar a vida. O anseio é por acabar a dor de viver. Porém, quando um indivíduo com ideias suicidas tem laços sociais mais aprofundados, pode se sentir menos isolado e encontrar uma saída criativa para o problema que o está afligindo. O problema é que na sociedade que construímos, as pessoas caminham juntas, mas estão sozinhas”, diagnostica Jades.

O psicólogo ressalta que o homem contemporâneo tem menos períodos de pausas no cotidiano do que nas gerações anteriores. Aumenta-se assim a pressão e diminui o necessário tempo de repouso e dedicado aos relacionamentos. “Antes, o trabalho se encerrava e as pessoas largavam da vida profissional. Hoje, levamos serviço para casa. Resolvemos problemas de clientes pelo Whatsapp. Não há mais hiatos entre a vida familiar e o emprego”, critica.

Voluntário do Centro de Valorização da Vida (CVV), Airton Siqueira afirma que o apoio emocional e a prevenção do suicídio são os grandes serviços prestados pela instituição e buscados pelas pessoas com pensamentos suicidas, pelo telefone 188. Em 2017, a organização recebeu 2,5 milhões de telefonemas. “O CVV oferece um amigo temporário. Nosso objetivo é fortalecer as pessoas emocionalmente, não é dar conselhos. Os nossos voluntários são facilitadores para que a pessoa possa desabafar e, nesse momento, consigo mesma, entender que é possível resolver seus problemas”.

O voluntário afirma que o isolamento é uma das grandes dificuldades das pessoas que cometem suicídio. “Numa ocasião, uma pessoa nos ligou dizendo que há uma semana não dava uma palavra com ninguém. Outra situação foi o seguinte relato: estou rodeada por pessoas, mas me sinto só”, comenta Siqueira. Ele revela que o pertencimento a algum grupo social é um fator de proteção, mas mesmo nesses espaços nem sempre as pessoas se abrem em momentos de angústia mais acentuados.

Ele alerta que amigos e parentes devem se preocupar frente a alguns sintomas. “Quando a pessoa está muito retraída, ou quando começa a não ter disposição para nada, como fazer uma atividade física ou mesmo a higiene pessoal. A agressividade fora do comum também pode ser um sinal que algo vai mal e que o parente ou amigo está precisando de apoio”, conta.

*Por Rafael Dantas, repórter da Algomais (rafael@algomais.com)

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