O consultor e sócio da TGI Fábio Menezes foi um dos entrevistados da reportagem de capa da semana da Algomais. Na entrevista, ele destaca as principais tendências que prometem influenciar os pequenos negócios neste ano. Além de apontar o que está neste horizonte de curto prazo, o especialista destaca alguns segmentos do mercado pernambucano com potencial de crescimento neste ano e trouxe orientações para quem está desejoso em empreender por oportunidade.
Quais as principais tendências que devem impactar os pequenos negócios em 2024?
Eu destacaria três tendências. A primeira é o desenvolvimento da IA. Sem dúvida, uma das principais tendências é o desenvolvimento das ferramentas de IA e os pequenos negócios têm a possibilidade de buscar algum ganho de produtividade. Normalmente negócios com estruturas mais enxutas têm a característica da agilidade, até mesmo pelos processos menos formais sobretudo nas primeiras fases, é possível que esta característica permita testar mais rápido e, até, já começar incorporando novas ferramentas que possam trazer redução de custos e maior produtividade.
Outra tendência que não começou agora, mas foi fortemente disseminada na pandemia, é o trabalho remoto ou mesmo híbrido. Um pequeno empreendedor pode começar seu negócio sem ter que disponibilizar uma sede com capacidade de receber a sua equipe, permitindo um custo menor. É evidente que essas circunstâncias trazem também um desafio de gestão à distância, pelo menos física, que precisa ser considerado. A natureza da atividade do negócio vai influenciar na forma como essa questão precisa ser administrada.
Uma terceira tendência é a concorrência mais descentralizada. A alternativa de trabalho remoto traz também um efeito colateral que é a possibilidade de enfrentar uma concorrência mais descentralizada. Se um profissional pode atender seu cliente “de casa”, em tese um concorrente noutro lugar do país ou até mesmo do mundo também poderia atender o mesmo cliente. Portanto, pensar o mundo de forma mais global, mais interconectado e automatizado e também mais sustentável parece se configurar como premissas indispensáveis para todos os empreendedores, sobretudo para os que estão começando.
Olhando para o mercado pernambucano, que segmentos você observa estarem despontando maior interesse dos empreendedores, a partir das características do nosso Estado?
Em Pernambuco há a expectativa de investimentos mais robustos em Suape, o que deve ampliar a circulação de dinheiro na economia como um todo, impactando a maior parte do mercado. No entanto, é possível que vivenciemos uma fração do que aconteceu na época da implantação dos projetos estruturadores em Pernambuco, como a Refinaria, a Petroquímica, os Estaleiros… que é a escassez de mão de obra no mercado. Não acredito que será igual porque o volume de investimentos é bem diferente, mas as empresas já começam a enfrentar dificuldades de contratar e de reter profissionais.
Não é fácil falar especificamente de setores porque já há alguns anos, incluindo a pandemia, estamos com um mercado mais retraído do que dinâmico. Nesse cenário, é possível observar empresas em situação de competitividade bem diferente de outras, muitas vezes no mesmo setor. No entanto, o setor de construção civil para habitação popular, principalmente por conta dos programas públicos de incentivo, como o Minha Casa Minha Vida e o Morar Bem, estão animando os empreendedores que atuam nesse segmento.
Muitos dos pequenos negócios que nasceram nos últimos anos foram em função da necessidade, pelas demissões na pandemia. Para quem faz o outro caminho, do empreendimento por oportunidade, quais os caminhos para escolher um bom nicho de mercado?
Um passo inicial importante, que pode ser determinante, é escolher um segmento com o qual o empreendedor se identifique. Não iniciar uma atividade simplesmente porque “está na moda”. Quando o empreendedor se identifica tem muito mais chances de estudar, pesquisar, se dedicar à atividade com muito mais afinco e prazer.
Outro passo muito valioso, que às vezes pode parecer óbvio, mas nem sempre é tratado com o cuidado necessário, é investir no planejamento do negócio. Fazer as avaliações necessárias de mercado e formular um Projeto consistente, com clareza da identidade, da clientela a ser buscada, dos processos básicos de funcionamento do negócio, da divisão de papéis e responsabilidades (quando o empreendimento tem sócios, por exemplo), entre outros pontos que precisam ser definidos, de preferência, antes de começar o negócio efetivamente.
Além disso, depois de formulado o projeto, o próximo passo seria elaborar um plano de implantação do empreendimento, com uma perspectiva estratégica. Ou seja, programar as atividades básicas e imediatas para o início da operação, mas também pensar em objetivos pelo menos de médio prazo, considerando um horizonte de cinco anos, por exemplo. Essas duas perspectivas, de curto e médio prazos, é como se fossem o farol baixo e alto de um carro numa estrada a noite. Podendo estar com os dois faróis ligados a segurança tende a ser maior.
As iniciativas de estudar o mercado, formular um projeto consistente e elaborar um planejamento estratégico consequente costumam ampliar e muito as chances de sucesso de qualquer negócio. É evidente que não existem fórmulas mágicas e garantias de sucesso, mas a experiência mostra que quanto maiores os investimentos na preparação, maiores também as chances de êxito.
LEIA TAMBÉM