Folia sem assédio

Embora os crimes de violência física e sexual contra as mulheres aconteçam cotidianamente, no Carnaval eles se exacerbam. Os caminhos para solucionar esses problemas não são simples, entretanto, surgiram iniciativas de conscientização masculina, tanto da esfera pública quanto da própria sociedade civil com bons resultados.

Uma delas, a campanha Não é Não! vem atingindo grande repercussão com uma ideia criativa no combate ao machismo. A fórmula é simples: produção e distribuição durante a folia de tatuagens temporárias da simbólica frase contra o assédio masculino, que existe desde 2017. Segundo Héllyda Cavalcanti, embaixadora da campanha em Pernambuco, o movimento surgiu no Rio de Janeiro quando um grupo de amigas se uniu, após uma delas sofrer um assédio. Elas resolveram arrecadar recursos para transformar em tatuagens. “No primeiro ano foi só no Rio, em 2018 a campanha foi crescendo, mais Estados aderiam, principalmente as capitais”, explica. A ideia do coletivo é discutir e combater o assédio masculino a partir das tatuagens..

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Késia elogia as iniciativas que dão suporte às carnavalescas: “Ajuda demais. Os homens ficam coagidos diante dessa postura”.

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A partir de 2019, cada Estado organizou sua própria campanha. “Pernambuco, no ano passado, arrecadou R$ 17 mil e pôde confeccionar entre 15 a 20 mil tatuagens”, destaca Héllyda. Este ano a campanha arrecadou R$ 14 mil por meio de financiamento coletivo. “Pretendemos distribuir 16 mil tatuagens no Carnaval do Recife e de Olinda”, planeja. O coletivo firmou parceria com a Secretaria da Mulher do Recife para distribuir as tatuagens.

A embaixadora da campanha salienta ainda outra ação de combate à violência, a distribuição das fitas de sororidade. “São fitinhas rosas, falando que lutamos contra o assédio e que somos pessoas com as quais outra mulher pode contar. É como uma identificação no Carnaval. Se acontecer alguma coisa com uma foliã e encontrar alguém com a fita rosa, ela pode contar”.
Rebeca Gouveia, produtora cultural, é uma foliã feminista que impõe respeito durante a folia. “Nunca precisei de ninguém para me defender, é uma questão de empoderamento mesmo”, afirmou segura. A produtora cultural observa uma mudança no comportamento masculino, ainda que lenta. “Há uma conscientização, porque eles sabem que se mexerem, vai ter problema. Com o Não é Não!, isso está sendo bem massificado na cabeça de algumas pessoas”, garantiu.

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Rebeca: “Há uma conscientização, porque eles sabem que se mexerem vão ter problema”.

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No Recife, este será o quarto ano em que a secretaria lança uma campanha maciça de prevenção contra o assédio no Carnaval. “Esse crime está relacionado àquela coisa de beijar a mulher à força, de abordá-las sem o consentimento delas, praticando o assédio”, explicou a secretária da Mulher do Recife, Cida Pedrosa.

Cida informa que a pasta promove, durante todo o ano e especialmente no reinado de Momo, uma série de ações educativas contra o machismo. “Saímos todos os anos com a versão renovada do manual O Pequeno Manual Prático De Como Não Ser Um Babaca, e sempre tem um novo personagem”, informa. “Em 2019, a partir da influenciadora Alcione Alves, fizemos o manual Teile e zaga (bordão da influencer).”

Esse material é produzido na versão online e impressa, além de ser distribuído em kits nos hotéis da cidade para os turistas. Outra iniciativa da secretaria é o Centro de Referência Clarice Lispector, acolhimento para mulheres em situação de violência doméstica ou sexista, aberto no polo do Carnaval, com horário diferenciado.

Na folia de Olinda, as ações já começaram. “Todo janeiro tem a campanha do ‘Basta!’, ano passado fizemos um apitaço que deu muito certo, por isso esse ano vamos realizar de novo”, relatou Verônica Brayner, secretária executiva da Mulher e Direitos Humanos. São distribuídos apitos para as foliãs para, em alguma tentativa de assédio, elas denunciarem e chamarem a atenção da população.

A empreendedora Késia Melo ratifica a importância dessas iniciativas para as mulheres que gostam de curtir o Carnaval sem serem importunadas. “Ajuda demais. Os homens ficam mais coagidos diante dessa postura da mulher. Acho muito bacana por tentar criar essa estrutura de combate ao assédio, mas, infelizmente ainda persiste uma cultura machista na nossa sociedade”, lamentou Késia que acredita que, paulatinamente, as mulheres mudarão o cenário patriarcal tão enraizado na sociedade.

Serviço:
Não é Não! – @naoenao_ no Instagram,Secretaria da Mulher do Recife (81) 3355-9494; Liga, Mulher 0800-281-0107; Centro de Referência Clarice Lispector – 3355-3008/335-3009/3355-3010, Centro Especializado de Atendimento a Mulher (CEAM – Olinda) 3429 2707.

*Por Yuri Euzébio, da Revista Algomais (redacao@algomais.com)

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