Hora do medo (por Paulo Caldas)

* Paulo Caldas

Houve um tempo em que as assombrações mais conhecidas do Recife e de cidades do interior ganhavam dimensão em conversas noturnas e nos escritos de Gilberto Freyre – mago de Apipucos, e Jaime Griz escritor de destaque entre os bons palmarenses.

A partir da criação do site O Recife assombrado, conduzido pela dupla Roberto Beltrão e André Balaio, no entanto, antigas histórias de assombração foram resgatadas e novos casos surgiram da lavra de “assombrólogos” empedernidos.
Da produção desses textos e imagens, descobriram-se um universo secreto de leitores. Na recente Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, além de um espaço exclusivo, as assombrações foram alvo de olhos curiosos sobre a exposição e venda de títulos e produtos relativos às coisas do outro mundo.

A sinhá e o diabo (Roberto Beltrão, edição do autor, ilustrado por Adriano dos Anjos com projeto gráfico de Samuca), vem das paragens úmidas de Triunfo, cidade serrana conhecida por belezas naturais e clima ameno. O conteúdo do livro-revista ganha realce na escrita privilegiada de Beltrão. A história mostra para uma turista a trajetória da personagem Sinhá Natália, mulher soturna, rosto pálido, lábios finos, rosados, que não sorriam, surgida no Sítio Espírito Santo, pelos idos de 1800.
Sem marido, nem tutor, vida reclusa, ela conseguira extraordinários resultados no cultivo, colheita e criação de bichos, embora fosse criticada pelas duras tarefas impostas aos escravos. Dos constantes acontecidos de coisas do além –Sinhá Natália subira numa árvore gigante montada num cavalo desesperado -, nasceu a crença que a personagem tinha parte com o Senhor das Trevas.

Contavam que tal pacto consistia na doação de pingos do sangue de Sinhá para o Demo, que a recompensava com inusitados poderes e assim juntara pilhas e mais pilhas de moedas de ouro e prata.

A morte súbita da personagem motivou a vizinhança a prestar ajuda no funeral: flores, velas, orações. As carpideiras, inclusive, estranharam: ela nem parece que morreu. Durante o cortejo fúnebre, dois desconhecidos pediram para carregar a rede mortuária. Esses homens, de admirável força, aproximaram-se da rede que conduzia a defunta e pediram para ajudar. Em seguida, passos apressados, deixaram o féretro para trás desaparecendo numa curva adiante.

Do currículo do autor constam ainda Histórias medonhas do Recife assombrado, Malassombramentos, Os estranhos mistérios do Recife assombrado, Na escuridão das brenhas, Sete assombrações de retratos falados – em parceria com o artista gráfico Fábio Rafael e Algumas assombrações do Recife velho, uma adaptação em quadrinhos do livro de Gilberto Freyre, com roteiro de André Balaio e ilustrações de Téo Pinheiro.

*Paulo Caldas é escritor

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