*Por Bruno Moury Fernandes
Dizem que o home office promove qualidade de vida. Concordo! Participar de uma reunião estratégica enquanto ajeita a panela de feijão é prático demais. Quem não ama a flexibilidade de poder trabalhar em qualquer lugar? Como o banheiro, por exemplo, durante uma chamada de emergência, ou a cama, onde a coluna vertebral é colocada à prova em posições acrobáticas que nem o mais criativo fisioterapeuta recomendaria.
A sala de estar, antes espaço de descanso, se transformara em um cubículo improvisado, onde a pilha de papéis dividia espaço com brinquedos das crianças e um gato que ocasionalmente decidia se deitar sobre o teclado. Ah, o glamour do trabalho remoto! Eu só sabia que meu expediente havia terminado quando, exausto, caía no sofá – o mesmo onde, minutos antes, tinha terminado um relatório sobre planilhas que teimavam em desaparecer, aparentemente devoradas pelo monstro digital conhecido como “instabilidade de internet.”
No escritório, se você precisasse de algo, bastava levantar-se da sua mesa e perguntar. Agora, você envia um e-mail, depois uma mensagem no chat, espera o retorno que nunca vem porque “minha câmera não estava funcionando”, “meu microfone travou”, ou o clássico “meu Wi-Fi caiu bem na hora”
A verdade é que o trabalho remoto nos deu a ilusão de controle. Podemos estar em qualquer lugar, mas estamos sempre em lugar nenhum. Estamos disponíveis o tempo todo, mas desconectados da essência humana que o contato no escritório oferecia: os pequenos rituais do dia a dia, a pausa para o café, as conversas casuais no corredor que frequentemente eram mais produtivas do que qualquer reunião formal. No home office, trocamos tudo isso pela gloriosa comodidade de poder trabalhar de pantufas — um preço alto, se você me perguntar.
Então, que venha o retorno ao trabalho presencial! Com suas imperfeições, com o chefe que gosta de aparecer de surpresa, com o ar-condicionado central sempre na temperatura errada e com os almoços rápidos fora de casa. No fim das contas, a humanidade não foi feita para viver isolada entre quatro paredes, conectada por cabos invisíveis e câmeras que nunca mostram a realidade completa.
Troco qualquer reunião virtual por aquele ambiente de carpete desgastado e a máquina de café de gosto duvidoso. O escritório é mais do que um local de trabalho; é um ponto de encontro, um símbolo da ordem no caos diário, onde a informação circula de maneira humanizada, com as imperfeições das vozes e com o falar do corpo. Sim, o corpo fala. E se ele fala, devemos vê-lo e ouvi-lo. Por isso que talvez, só talvez, seja hora de voltar.