Em geral, a História costuma ser vista sob o ponto de vista dos vencedores. Este é um clichê muito propagado. No futebol, as coisas funcionam de forma parecida. Quando falamos dos campeonatos estaduais, a perspectiva é aquela dos clubes maiores, tratando apenas da baixa qualidade das competições e como são inúteis na preparação para disputas maiores, como Libertadores, Campeonato Brasileiro e Copa do Brasil.
Mas é preciso enxergar o outro lado: o das equipes intermediárias. São nos estaduais que elas mais aparecem. É nesse tipo de campeonato em que têm a chance de enfrentar um grande adversário. No Pernambucano, os três clubes com os maiores orçamentos historicamente são Náutico, Santa Cruz e Sport, não por acaso do Recife, capital do Estado e com grande poder econômico em relação às demais cidades.
O que ocorreu na última quarta-feira (17), em Arcoverde, quando o Sport visitou o Flamengo local, é um bom exemplo disso. Quase três mil pessoas foram ao estádio Áureo Bradley ver o jogo que terminou empatado por 0 a 0, mas o que mais chamou atenção foi a renda de R$ 173,5 mil. O valor já seria importante para o Rubro-negro do Recife, que dirá para a equipe sertaneja, com folha salarial de R$ 60 mil? Ao menos, cobrirá dois meses de despesas.
Ter em mente que a maioria dos jogadores do futebol brasileiro trabalha em times modestos também ajuda. Os salários baixos e a incerteza sobre o pagamento rondam o cotidiano destes atletas. Além disso, nesses clubes, não há os holofotes direcionados o tempo todo. Por isso, quando enfrentam times de peso, veem uma bela oportunidade de se destacarem e eventualmente ter uma ascensão na carreira.
Essa visão não exclui, evidentemente, a limitação técnica dos campeonatos estaduais. A média de público baixa é um reflexo disso. Aos clubes das grandes cidades, só interessam os clássicos e as fases decisivas. Quando um time do interior chega à reta final, é outra festa. Puxando novamente para Pernambuco, o cenário tem se repetido nos últimos anos, com o Salgueiro sendo a grande força do interior e o trio de ferro da capital avançando quase que por osmose.
Mesmo com uma cota de tevê bem inferior ao Santa Cruz, por exemplo (110 mil x 950 mil), o Carcará consegue fazer frente e montar elencos competitivos, mais por esforço de seus dirigentes. É no Pernambucano que o Salgueiro enfrenta em pé de igualdade grandes clubes. O troféu nunca saiu do Recife e esse é um tabu a ser quebrado por uma equipe do interior. Por pouco o Salgueiro não conseguiu o feito no ano passado, não fosse a trapalhada do árbitro de vídeo.