Inflação e desemprego: duas maldições

Inflação e desemprego são terríveis males econômicos quando vistos individualmente. Um ou outro já derrotaram muitos candidatos a altos cargos eletivos em todo o mundo. São, por conseguinte, antipopulares e implacáveis com os governantes que os geraram ou que com eles tergiversaram. Todavia, mais estragos fazem à economia quando se apresentam conjuntamente, de mãos dadas. Infelizmente esse é o caso brasileiro. E Pernambuco não é exceção.
Esse quadro, típico do que os economistas denominam de estagflação, ou seja, a combinação perversa de estagnação (na verdade recessão) com aumento persistente, em patamar elevado, do nível geral de preços, tem sido uma das características mais marcantes da atual crise econômica brasileira, a mais profunda e longa desde a década dos 30 do século passado. É fato que os preços estão crescendo menos rapidamente, mas isso não nos conforta dado que não apenas a inflação se situa em nível alto, em torno de 8,74% nos últimos 12 meses até julho, mas que também vem perdendo folego muito lentamente.

O custo social é elevado, comprometendo a qualidade de vida de milhões de brasileiros. O desemprego retira renda nominal das pessoas que perderam seus postos de trabalho enquanto a inflação retira renda real (perda de poder de compra) de todos os brasileiros, quer estejam ou não ocupados. Isso alimenta um círculo vicioso segundo o qual mais desemprego e menos renda conduzem à queda na massa salarial que leva a menos consumo, menos produção e a mais perdas de postos de trabalho.

Os dados para inflação e desemprego são inequívocos. O IPCA-15, para o Brasil como um todo, apontou uma inflação de 0,45% em agosto último, inferior a de julho (0,54%), mas ainda maior do que a observada no mesmo período do ano passado (0,43%). Isso conduziu a uma inflação acumulada em 12 meses até meado de agosto de 8,95% e a acumulada no ano a 5,66%. Os mesmos dados para o Recife que teve em agosto uma inflação três vezes menor (0,15%) do que a média nacional (0,45%) foram, respectivamente, 8,51% e 5,69%. Observe que para este ano no Recife a inflação acumulada até meados de agosto está acima da média do País. Alimentos e bebidas são os principais vilões.

A taxa de desemprego brasileira no segundo trimestre de 2016 subiu para 11,3%, alcançando cerca de 13,4 milhões de pessoas. Entre estas estão as que perderam o emprego e que estão tentando reconquistar uma ocupação, e aquelas que entraram pela primeira vez ou que reentraram no mercado de trabalho. Entre as macrorregiões do País o Nordeste viu a taxa de desemprego elevar-se de 10,3% para 13,2% em relação às observadas no segundo trimestre de 2015. Em Pernambuco, a taxa alcançou 14%, a terceira maior do País.

Para o Brasil e suas macrorregiões as taxas são maiores entre as mulheres do que entre os homens e também mais alta para os jovens, especialmente entre os que situam na faixa etária entre 14 e 24 anos de idade, atingindo com muita força aqueles que têm ensino médio completo ou equivalente. Portanto, o desemprego atinge as pessoas de forma diferente, por idade, sexo e grau de instrução, penalizando os mais vulneráveis, especialmente os jovens, as mulheres e aqueles com pouca educação.
Portanto, Pernambuco e Recife apresentaram até o primeiro semestre deste ano dois números malditos e preocupantes: desemprego de 14% e inflação de 8,51%, respectivamente.

O desemprego não é maior porque o País está vivenciando fenômeno demográfico que tem reduzido o crescimento do número de pessoas buscando emprego. Com menos filhos por mulher em idade reprodutiva (1,7 em 2016, inferior à necessária para manter a população constante) a taxa de crescimento da população brasileira caiu de 1,1% ao ano, entre 2004 e 2009, para 0,9% entre 2009 e 2016. Entre esses dois períodos a taxa de crescimento da força de trabalho reduziu-se de 1,9% para 1%. Como está crescendo menos, os empregos disponíveis vão encontrar menos jovens a sua procura. Contudo, esta janela de oportunidade vai se fechar em breve. Se esse fenômeno inexistisse, as taxas de desemprego agora enfrentadas pelo País seriam ainda maiores. A demografia, e não o Governo, está evitando que o drama do desemprego seja ainda maior.
Enfrentar preços altos e crescentes junto com desemprego elevado e seletivo é desafio para políticos, governos e sociedade. O que os políticos que são candidatos agora e em 2018 têm a dizer sobre isso?

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