Vimos, há algum tempo, pensando questões relacionadas ao fluxo de público nas casas de espetáculos. Vez por outra esse assunto vem à baila e, invariavelmente, chega-se as mesmíssimas observações, sem que com isso a questão marche rumo à solução.
Por exemplo, a falta de hábito é sempre a primeira questão a ser abordada, mas não existe, ao detectá-la, uma iniciativa que realmente reverta essa situação e busque o hábito almejado da “população”, para que se adquira um público mais numeroso e constante nas nossas casas de espetáculos – tarefa nada fácil porque mexe com valores sociais, culturais e econômicos já entranhados no seio da sociedade em geral. E quando eventualmente uma produção sinaliza nessa direção, seja de teatro ou de dança, o resultado recai apenas para a própria produção, ou seja, não atinge de fato a questão do hábito, e sim, o estímulo para ver o espetáculo que ela representa. O que é positivo por um lado e uma pena por outro, se considerarmos que todo espetáculo merece ser visto por uma casa lotada.
Vamos aqui abrir um parêntese para debater uma das mais utilizadas formas de levar público ao teatro; a doação de convites. A própria lei de Incentivo à Cultura de Pernambuco, o Funcultura, estimula essa prática aos seus contemplados, utilizando o argumento da contrapartida social. Porém, em diversas rodadas de conversas a esse respeito, detectou-se haver mais prejuízo que benefício de ação como essa, por três razões básicas:
1ª – A doação alimenta o vício de não pagar para ir ao teatro (ao contrário do que se faz com cinema), caracterizando assim o desrespeito e a leviandade com que se trata a dança e o teatro que ocupam as casas de espetáculo. E, em muitos casos, os ingressos são distribuídos e as poltronas ficam vazias porque o ganhador não se dignou a retribuir a gentileza com a presença. Outros ainda são mais desrespeitosos, repassando os convites recebidos aos cambistas;
2ª – Por não ter sido desembolsado nenhum valor financeiro para a aquisição do ingresso, quando o ganhador vai, não se preocupa em chegar com antecedência ao recinto da apresentação, também não se incomoda em sair no meio da apresentação para atender o celular, etc.
3ª – Quando o espectador se digna a ir ao teatro, comprar o seu ingresso e assistir ao espetáculo, os artistas sentem a energia respeitosa dessa plateia que a considera a ponte de reservar um espaço em sua agenda para essa finalidade e a apresentação ganha muito em qualidade com isso. Tem-se aí outra relação e a questão passa para outro ângulo de visão, que é o valor do ingresso.
Ir ou não ir ao teatro, não nos parece ser a grande questão. Agora, de que forma se vai ao teatro, eis a questão. É praticamente senso comum entre os artistas de palco, que os ingressos devem ter um valor acessível, para permitir a presença de um público mais amplo e com isso sustentar uma temporada. Da mesma forma, fala-se em destinar, a cada récita, cota de ingressos para instituições como escolas públicas, entidades de assistência social, grupos comunitários de jovens, formadores de opinião, etc., todos previamente agendados, com compromisso assumido de comparecer à apresentação, tendo por resultado uma plateia cheia, composta por pagantes e convidados de forma especial, apostando com isso na possibilidade da renovação de público para um futuro próximo.
Agora, certamente, só teremos o efeito cobiçado se o exercício de ações como essas se tornarem pratica permanente. Talvez assim tenhamos, paulatinamente, aumento significativo de espectadores habituais ao teatro.
Curiosamente, este tema “ir ou não ir ao teatro” já foi abordado em uma peça do dramaturgo alemão Karl Valentim, parceiro de Bertolt Brecth, cujo título é: A ida ao teatro. – Resta-nos agora repetir o chavão: VÁ AO TEATRO e BOM ESPETÁCULO!
DICAS DE ESPETÁCULOS EM CARTAZ:
– O Beijo no Asfalto, de Nelson Rodrigues
Local: Teatro Apolo
Dias: sexta 06/06 e sábado 07/06, às 20h.
Preços: R$ 30,00 e R$ 15,00. – Informações: 3355-3319 ou 3355-3320.
– A Revolta dos Brinquedos, com a Circus Produções
Local: Teatro Apolo
Dia: domingo 05/06 às 16h
Preço: R$ 20,00 e R$ 10,00 – Informações: 3355-3319 ou 3355-3320
– LUIZ E EU? Ô viagem danada de boa!, com a Cia. Maravilhas
Local: Teatro Joaquim Cardozo
Dia: 05/06 às 16h.
Preços: R$ 20,00 e R$ 10,00 – Informações: 2126-7388
Romildo Moreira, ator, autor e diretor teatral