Pesquisa projeta impactos significativos para o setor de biocombustíveis no Brasil; Pernambuco enfrenta desafios com clima e produtividade.
Um estudo recente do Laboratório Nacional de Biorrenováveis, do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), revela que as mudanças climáticas podem provocar uma redução de até 20% na produção brasileira de cana-de-açúcar nos próximos dez anos. Publicada em setembro, a pesquisa indica que essa queda poderá ter efeitos drásticos no mercado de etanol e no setor de biocombustíveis, em que o Brasil é líder mundial. Segundo os pesquisadores, a redução na quantidade e frequência de chuvas é o principal fator que ameaça o cultivo da cana-de-açúcar, superando até mesmo o impacto do aumento das temperaturas.
O estudo utilizou dados climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e aplicou o modelo Crop Assessment Tool, desenvolvido pelo CNPEM, para avaliar como as mudanças climáticas poderiam afetar a produtividade da cana na região Centro-Sul do Brasil, que inclui estados como São Paulo, Goiás e Minas Gerais, responsáveis por 90% da produção nacional. De acordo com a pesquisa, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) já estima uma redução de 3,8% na safra de 2024/2025 devido aos baixos índices pluviométricos e às altas temperaturas.
Em Pernambuco, o setor sucroalcooleiro, que possui uma longa tradição no estado, também enfrenta desafios relacionados às condições climáticas adversas. Com menos chuvas e temperaturas mais elevadas, a produtividade dos canaviais pernambucanos tem sido afetada nos últimos anos, exigindo adaptações e investimentos em tecnologias mais resilientes. A experiência do estado reflete a situação enfrentada pelo país, onde a necessidade de mitigar os impactos climáticos se torna cada vez mais urgente.
Gabriel Petrielli, engenheiro agrícola e um dos principais participantes do estudo, alerta para as possíveis consequências econômicas dessa redução na produção de cana. "A queda na produtividade pode causar uma redução significativa nas receitas do setor, afetando não apenas a produção de etanol, mas também a economia das regiões produtoras, que dependem fortemente dessa atividade", ressalta Petrielli. Em Pernambuco, as usinas têm buscado soluções para lidar com a nova realidade, investindo em práticas agrícolas mais sustentáveis e na diversificação das culturas para enfrentar os desafios impostos pelo clima.