Conversamos com o arquiteto pernambucano Matheus Ximenes Pinho, que é CEO e cofundador da Muma, sobre o aquecimento do consumo de móveis no Brasil durante a pandemia. Nesse período, outro fenômeno em alta foi a aceleração do e-commerce, por onde a empresa navega muito bem desde a fundação. Nessa conjuntura, a empresa dobrou o faturamento em 2020.
Nesta entrevista concedida à Algomais, Matheus fala sobre o momento da empresa e aborda tendências do segmento. Uma boa novidade é que o consumidor está mais interessado em produtos sustentáveis. Uma tendência que pode mover toda a cadeia produtiva em alguns anos.
Você percebeu uma mudança nos consumidores em relação ao consumo de móveis ou itens para casa nesse período de pandemia?
Sim, o consumidor muda na medida em que suas prioridades mudam. Antes, as pessoas estavam nas ruas e passavam mais tempo em seus trabalhos, suas empresas do que em suas casas. Durante a pandemia, a casa passou a ser o centro de tudo e houve dois grandes motes de aumento. Um pela busca de mais conforto, para momentos de lazer, então sofás, tapetes, poltronas para leitura, como também buscas para melhorar as condições de trabalho em casa. Uma mesa mais apropriada, uma luminária mais adequada e uma cadeira mais confortável.
O espaço para ver filmes de forma mais confortável também ganhou a atenção. Todo tipo de móvel e melhorias de salas estão em alta.
Outra percepção foi que a pandemia levou muitos consumidores a aderirem ao modelo de compras online e gerou em todos um olhar mais empático de consumo consciente, especialmente para com os pequenos comércios.
Na Muma houve um aumento de demanda de móveis para residência nesse período?
Houve um aumento sim e um aumento bastante significativo. Começamos o ano com uma expectativa de que teríamos impactos negativos, porém em julho, agosto e setembro de 2002, crescemos respectivamente 143%, 123% e 130%. Atuamos com um modelo híbrido de e-commerce e marketplace na plataforma da Muma. No ano passado o número de pequenos fornecedores que produzem móveis com design assinado subiu de 79 para 90. Nosso faturamento de uma forma geral no total do ano dobrou em relação à 2019.
A partir das mudanças promovidas pela pandemia, como o aumento do home office e a experiência das pessoas de experimentarem mais lazer em casa, que tendências podemos esperar para os próximos anos sobre a estrutura e a qualificação das residências? As famílias estão almejando, por exemplo, imóveis maiores?
Com a pandemia tivemos a percepção de que as famílias estão buscando cada vez mais valorizar os seus espaços dentro da própria casa, principalmente os espaços de lazer. Houve grande procura por móveis para equipar salas de televisão para ver filmes e ao mesmo tempo o mobiliário para escritórios e para gerar espaços de estudos para as crianças também cresceu.
Acreditamos que é importante a qualificação das residências no sentido de ter o melhor aproveitamento do espaço, com móveis menores, por exemplo. Isso vimos inclusive no nosso próprio site, muitas pessoas queriam o conforto de sofá-camas retráteis e reclináveis, porém com tamanho menor. E, com base nos dados dos consumidores, criamos por exemplo o sofá Gael, que é personalizável a partir de 1m76. Isso acontece porque os imóveis novos são mais compactos.
Agora, é fato que o mercado imobiliário está aquecido e vimos muitas mudanças acontecerem em diversos sentidos, pessoas casaram, outras separaram e o home office e aulas online passaram a trazer outras exigências e prioridades para as residências. Em alguns casos, certamente houve famílias que precisaram se adaptar e procuraram espaços maiores. Mas também tivemos casais se separando e, talvez, esses tenham buscado novos imóveis mais compactos. Muitas pessoas foram morar em outras cidades também, com a instalação do Home Office e estudantes que moravam em São Paulo, por exemplo, para fazer universidades, muitos com o mundo online entregaram apartamentos e voltaram para a casa dos pais.
Algumas pesquisas de mercado, como a da Loft, apontam aumento de buscas por apartamentos ou casas. Além disso, a pesquisa mostra procura por imóveis maiores e um pouco afastados dos grandes centros urbanos em prol da melhor qualidade de vida.
A movimentação do mercado imobiliário é gigante. Muitas empresas entregaram escritórios, os coworkings tiveram que se reinventar e as casas se tornaram o centro de tudo. A tendência é um novo pensamento sobre a casa ideal, antes a casa era vista como lugar de descanso. Agora é, também, local de trabalho, de estudos e, no caso dos que são grupo de risco para a pandemia, também espaço de lazer. Isso muda tudo.
Além do conforto e do planejamento dos cômodos, a sustentabilidade é algo mais almejado pelos consumidores?
Sim, certamente. A sustentabilidade é um item forte na linha de frente dos nossos consumidores, por esse motivo na Muma temos uma preocupação grande em contratar fornecedores que utilizam madeira certificada, reaproveitamento de madeira ou madeira de reflorestamento. Esse sempre foi um critério chave. Obviamente não temos como ser sustentáveis em tudo, mas nosso olhar na Muma sempre foi para um tipo de produto que equilibre qualidade, conforto, beleza e sustentabilidade.
Outra coisa interessante que acredito que houve foi a percepção de que vale a pena colaborar com um player regional, nacional e que valoriza o mercado brasileiro. Nesse sentido, a Muma, que também trabalha com pequenas empresas do mercado de móveis assinados, também foi beneficiada. O aumento na conscientização das pessoas em relação ao seu consumo consciente, não só no setor moveleiro, mas acho que, de uma forma geral, foi enorme.