Número de doação efetiva de órgãos cai no Estado

Paloma Félix tinha apenas 20 anos quando começou a sentir fortes dores abdominais. Passou seis meses internada até ser diagnosticada com a Síndrome de Budd-Chiari, causadora de obstrução de veias do sistema de drenagem do fígado. Depois do reconhecimento da doença, o ultimato: ela precisaria de um novo órgão para sobreviver. Esperou mais cinco meses. Aos 21, foi submetida ao transplante de fígado. Hoje, oito anos depois, sente-se bem e se diz grata pela segunda chance que recebeu de uma família que disse sim à doação de órgãos. “Sou feliz novamente”, conta.

Assim como ela, este ano, 710 pessoas já foram contempladas pela doação de órgãos e tecidos em Pernambuco. Mas, na lista de espera, cerca de 1.200 pacientes ainda aguardam a sua vez. De acordo com dados da Central de Transplantes do Estado, o órgão com mais esperas, atualmente, é o rim (810), seguido de córnea (309) e fígado (70). No País, dados da Associação Brasileira de Órgãos e Transplantes (ABTO) apontam que a lista ultrapassou o marco de 30 mil pessoas.

De acordo com a ABTO, Pernambuco está em primeiro lugar entre os Estados do Norte e Nordeste nos procedimentos de rim, coração, pâncreas e medula óssea, quando analisados os dados de janeiro a março de 2016. A associação alertou, no entanto, para a diminuição nas taxas de doadores efetivos, com queda de 7,1% em relação ao mesmo período do ano passado, e de efetivação da doação, que também caiu 4,8%. Os dados são preocupantes e, segundo a ABTO, se não forem revertidos, podem comprometer o trabalho dos últimos anos e consequentemente aumentar a mortalidade por doenças que podem ser salvas pelo transplante.

O maior obstáculo enfrentado no processo de doação está na negativa de 44% das famílias de pacientes. Em Pernambuco, os números chegam a 39%. Muitas vezes, por falta de informação, parentes não aceitam a morte do ente querido e acabam negando a transferência dos seus órgãos para outras pessoas. “O fato da conversa em vida nunca ter acontecido entre a família é um impedidor bastante comum no processo. É preciso que se discuta sobre o assunto em casa para que cada vez mais pessoas sejam salvas”, afirmou o coordenador da Unidade Geral de Transplantes do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (IMIP), Amaro Medeiros de Andrade.

O programa nacional de transplantes é controlado e monitorado pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT), vinculado ao Sistema Único de Saúde (SUS). Nos Estados, são as centrais de transplante que regulam a lista dos receptores, além de receber notificações de potenciais doadores com diagnóstico de morte encefálica e alocarem os órgãos baseadas na fila única, estadual ou regional. Em Pernambuco, a CTPE coordena 20 comissões intra-hospitalares de doação de órgãos, tecidos e transplantes (CIHDOTTs) sediadas em unidades de saúde do Recife e do interior. Há também quatro Organizações de Procura de Órgãos (OPOs) nos hospitais Imip, Real Hospital Português (RHP), Santa Efigênia (Caruaru) e Dom Malan (Petrolina).

ESCOLAS

A gerente do SUS no RHP, Luciene Melo, defende que a conscientização sobre a doação de órgãos deve começar desde cedo, nas escolas. “As campanhas de sensibilização das famílias devem acontecer continuamente. É um trabalho de formiguinha que, se parar, perde a força”, explicou. “Toda conscientização tem que começar pela escola, de maneira lúdica. E também no local de trabalho. A discussão do tema deve atingir todas as faixas; crianças, jovens, adultos e idosos. As pessoas têm que entender a importância do ato de doar órgãos”, enfatizou Luciene Melo.

A boa notícia, em Pernambuco, vem do município de Petrolina, no Sertão. Segundo o chefe da Unidade de Transplantes de Fígado (UTF), Cláudio Lacerda, nos últimos dois anos, o local se consolidou como um polo importante de captação de órgãos e tecidos. “A equipe de procura de órgãos da cidade é extremamente comprometida e vem tendo um desempenho excelente. Cerca de 30% dos doadores que estamos utilizando nos nossos transplantes são captados lá”, ressaltou o médico. Coordenada por ele, a UTF atua no Hospital Jayme da Fonte, no Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc) e no Imip. Em julho, o Jayme da Fonte comemorou o marco de 800 cirurgias, do total de 1.040 realizadas pela UTF, consagrando-se o segundo maior programa particular de transplante de fígado do País.

“Hoje, mais de 80% dos transplantes são realizados com sucesso. Após se recuperar da cirurgia, a pessoa volta a ter uma vida saudável e é reintegrada na sociedade”, explicou o médico Amaro Medeiro. “Quem nega a doação de órgãos precisa imaginar que um dia pode também estar do outro lado, à espera de um órgãos para sobreviver ou para que um ente sobreviva. Qualquer um de nós pode, a qualquer momento, passar a precisar de um transplante. Doar órgãos é um ato de amor sublime”.

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