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O Movimentado Mercado da Animação

Seja na TV ou nas telonas, a maioria das pessoas é introduzida ao universo do audiovisual com a animação. Os desenhos e filmes consumidos pelos brasileiros, ainda em sua maioria norte-americanos ou japoneses, iniciaramum processo de nacionalização nos últimos anos.Uma mudança impulsionada pelas políticas públicas de incentivo à cultura. E a produção pernambucana tem se destacado neste cenário. O crescimento dos festivais no Recife e no interior, a empregabilidade de animadores e demais profissionais que atuam neste circuito e as premiações das obras pernambucanas são alguns sinais desse movimento cultural em crescimento.

O  Mundo Bita, da produtora Mr. Plot, é o maior case desse novo momento da animação em Pernambuco. Consolidado em rede nacional e dando os primeiros passos no exterior, a produção alcança por mês a marca de 100 milhões de visualizações só no Youtube. “O Mundo Bita já é uma marca que tem seu espaço nas famílias com criança na faixa etária de 0 a 6 anos. E tem muito a crescer ainda, pois tem apenas 8 anos de vida. Mickey, por exemplo, tem 90. A Mônica, 50. Bita é um menino”, comenta Felipe Almeida, sócio e diretor da empresa Mr. Plot.

A empresa conta atualmente com uma equipe interna de 14 profissionais. Esse número triplica se contar as produtoras e companhias de teatro que fazem shows do Mundo Bita pelo Brasil. Felipe afirma que a marca tem ainda contratos com 10 empresas que fabricam produtos licenciados, como brinquedos, artigos para aniversários e itens de higiene bucal. A animação está presente em plataformas como o Netflix e o Discovery Kids.

 Outra série pernambucana em destaque é a Além da Lenda, que foi exibida na TV Brasil e na Globo Nordeste. A animação nasceu nas mãos da equipe de criação da produtora Viu Cine, que também realizou Pedrinho e a Chuteira da Sorte e está em atividade desde 2015. “Chegar ao quarto ano de produção ininterrupta para a gente é uma vitória. Produzir animação é complexo”, conta o diretor Ulisses Brandão.

A Viu Cine está produzindo o primeiro longa-metragem de animação de Pernambuco com os personagens do Além da Lenda. A previsão de lançamento é para 2020. No longa trabalham cerca de 50 pessoas, juntando as diferentes etapas de produção. A carteira de projetos da produtora conta ainda com uma nova produção de Pedrinho e a Chuteira da Sorte; a estreia do primeiro projeto para o público pré-escolar e em 3D, o Zoopedia; e o Iuri Udi, a principal aposta da empresa. “Fechamos uma parceira com um grande canal de animação para o Iuri Udi. É uma série para 2021 e 2022. Temos uma grande expectativa de alcançar voos maiores com ela”, afirma Ulisses.

A Mr. Plot e da Viu Cine não estão sozinhas. A ZQuatro Stúdio (que produziu Bela Criativa), a Produções Ordinárias (da série Foi assim, foi assado) e a Carnaval Filmes (de Bia Desenha e Dó Ré Mi Fadas) são outros players de destaque. O sucesso deles não acontece por acaso. De acordo com o presidente da ABCA-PE (Associação Brasileira de Cinema de Animação em Pernambuco), Tiago Delácio, os editais do Ministério da Cultura e da Fundarpe conseguiram viabilizar profissionalmente o setor. “Com a política de investimentos na cultura foi possível o surgimento das produtoras e a dedicação exclusiva de profissionais no ofício da animação. Hoje há muitos produtores e é difícil encontrar um animador desempregado em Pernambuco”, comenta o presidente da associação. Ele estima que mais de 100 animadores atuem profissionalmente no Estado. “É possível chegar em torno de 200 pessoas”.

Presidente da ABCA-PE, Thiago Delácio.

Filho de Lula Gonzaga, um dos pioneiros da animação em Pernambuco, Delácio também é produtor. Ele foi codiretor do clipe animado Eu o declaro meu inimigo, da banda pernambucana Devotos, e está trabalhando no curta Ciranda Feiticeira. Além do volume de profissionais e do alcance das produções em diversos canais, as animações têm conseguido marcar presença em grandes premiações. A última produção a se destacar foi Guaxuma, de Nara Normande, que é alagoana, mas desde o ano 2000 reside no Recife.

Guaxuma tem sido bem aceito nos mais variados festivais, tanto de cinema em geral, como festivais específicos de animação ou de documentário. O filme tem uma linguagem universal, o que facilita sua aceitação. Estou bem feliz com o retorno do público, tenho recebido muitos relatos sinceros sobre o filme”, conta Nara. Produzida em areia, a animação exibe um belo resultado estético ao fundir três técnicas: stop motion feita com bonecos, animação tradicional em 2D e esculturas modeladas na areia molhada. O filme coleciona 22 prêmios e duas menções em importantes festivais nacionais e internacionais.

Nara avalia que Pernambuco vive seu melhor momento da animação. “Tem muita coisa sendo produzida, o fundo de incentivo à cultura do Estado aliado a alguns polos de tecnologia, como o Portomídia, ajudou bastante a impulsionar o cinema de animação pernambucano. Mas é também um cinema muito recente. Ainda faltam muitos caminhos e desafios para a animação se consolidar no Estado, diferente do cinema live-action (filmes com atores reais), que já ocupa seu lugar de destaque”.

O Portomídia, mencionado por Nara, é o braço do Porto Digital para fomento da economia criativa. Sua primeira instalação, em 2013, focou justamente no cinevídeo animação. “Fomentamos cinco linguagens da economia criativa, mas no primeiro momento definimos que o carro-chefe seria cinevideo animação por causa da importância do audiovisual pernambucano. Percebemos que os grandes realizadores estavam todos no Sul e Sudeste e quando fomos indagar a razão disso, um dos motivos é que não era possível fazer a pós-produção em audiovisual aqui na região. Funcionamos com uma série de laboratórios para atender essa demanda no Estado”, conta Clara Arruda, coordenadora de marketing e economia criativa do Porto Digital. Na primeira fase do Portomídia, focada na pós-produção, foram investidos R$ 14 milhões na estrutura que presta serviços de educação, experimentação, empreendedorismo e exibição. Alguns projetos de destaque que passaram pelas salas desse espaço foram Ex-Mágico, Do Ré Mi Fadas e Bia Desenha.

Apesar do crescimento, duas preocupações principais assombram o setor. A primeira é a formação de novos animadores. Pernambuco teve por alguns anos um curso superior de cinema de animação, mas foi extinto. “Hoje a formação é por meio de workshops e oficinas. Mas já não temos pessoas suficientes para trabalhar. O investimento é alto, porém vale a pena. E a gente só vai crescer mais se tivermos profissionais capacitados”, diz Marcos Buccini, que é professor da UFPE-Caruaru, onde leciona disciplinas de animação no curso de design.

Paula Dubeux, 18, está de olho no mercado. Ela se mudou para São Paulo para estudar animação na Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP). Após um período na capital paulista, retornou para o Recife para realizar cursos técnicos de desenho e ilustração digital. “Sou fã de animes e pretendo aprender japonês para abrir horizontes no mercado asiático”. Com projeto de ser criadora de séries de animação, ela planeja retornar à FAAP para concluir sua graduação. Outro grande receio dos profissionais do setor é com o futuro da política de incentivo à cultura do Governo Federal. Todos mencionaram preocupação com a descontinuidade dos editais. “É preciso ficar atento para não retrocedermos”, alerta Buccini.

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*Por Rafael Dantas, repórter da Revista Algomais (rafael@algomais.com)

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