*Maurício Costa Romão
Nos tempos atuais a velocidade de mudança tecnológica se está acelerando tão rapidamente que a maior parte das pessoas não consegue acompanhar e absorver essa evolução no ritmo em que se opera, criando-se, assim, um hiato entre a velocidade de mudança e a capacidade de adaptabilidade humana (Thomas Friedman, “Obrigado pelo atraso”).
Na área educacional, por exemplo, essa “era das acelerações” está provocando grandes transformações, exigindo extraordinários esforços de adaptabilidade. A escola está deixando de ser o espaço físico exclusivo de ensino-aprendizagem (EA), dividindo-o agora com o espaço virtual, configurando um novo ambiente, híbrido, presencial e remoto.
Neste processo de transformação, impulsionado pela pandemia, o modelo de EA está aos poucos se adequando, se reconfigurado, em particular no que tange à substituição do tradicional papel protagônico do professor, transmitindo conteúdos. O protagonismo agora se está transferindo para o discente, outrora ouvinte passivo dos ensinamentos professorais, que assume responsabilidades no caminho de construção do seu próprio conhecimento.
No novo contexto em andamento, o professor não mais ensina, ele ajuda o aluno a aprender. É uma mudança e tanto, tornando a função do professor mais complexa: de transmissor de saberes para coordenador de metodologias ativas e orientador de trilhas educacionais escolhidas pelo educando, na linha de aprendizado cooperativo.
E essa modalidade, do tipo “sala de aula invertida”, vai se deparar com novos hábitos de estudo dos alunos, que chegam cada vez mais jovens aos níveis educacionais avançados, vem mais conectados, trazendo repertório de aprendizagem digital e que querem uma nova educação.
São os chamados “alunos polegares”, expressão cunhada por João Vianney (Hoper Educação) para designar o novo estudante pós disseminação do smartphone: aquele que ao invés de escrever com lápis e papel para anotar as aulas, ele o faz com os polegares e, se for o caso, fotografa o quadro quando lhe interessa.
Esse letramento digital do aluno envolve mais desafios para o professor na comunicação docente/discente. O aluno polegar vive no mundo da instantaneidade, quer respostas em tempo real, exige mais do professor, quer que ele vá além do que já se encontra disponível na Internet, nos aplicativos.
Para aumentar a capacidade da sociedade de se adaptar para, pelo menos, acompanhar o ritmo da evolução tecnológica, Friedman diz que o único caminho é o aprendizado contínuo das pessoas, otimizando o potencial da coletividade.
Esse caminho é particularmente importante para o professor no novo contexto educacional: aprimorar continuamente suas habilidades e competências de sorte a não somente se conformar à adaptabilidade que o crescimento exponencial da tecnologia exige, mas, sobretudo, a desenvolver formas responsivas e criativas de interação com os novos alunos sendo forjados no mundo digital.
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Maurício Costa Romão é Ph.D. em economia pela Universidade de Illinois, nos Estados Unidos. (mauricio-romao@uol.com.br)