Se há um assunto que me intriga, esse é o suicídio. Tem o poder de deixar minha alma perturbada, curiosa e inquieta. Não precisa ser de gente conhecida não. Basta ser de qualquer estranho. Lá no Alaska, na Jamaica (sim, jamaicanos também cometem suicídio), no Japão ou aqui no Brasil. É o suicídio, não a morte. Ele, isoladamente, como ato humano, inegavelmente humano, que me remete às mais profundas reflexões sobre o valor da vida.
Talvez por já ter estado perto da maldita, face a face, frequentemente falo da morte. Já senti seu horrível perfume na pele do meu pai. Já experimentei seu gosto na boca do meu pai. Sempre falo do meu pai. Da morte. Da morte do meu pai. Na minha hora, já bem velhinho, ainda assim, lembrarei da hora do meu pai. Do dia em que ele partiu. Sempre lembrarei do que fiz durante aquele dia. De cada palavra trocada. Do seu último sorriso, de dentro da piscina, antes de pegar naquele maldito fio, ainda molhado.
Sei que suicídio e morte estão umbilicalmente interligados. A diferença é que o suicídio é a morte que quis acontecer. Mas quando ela advém, deliberadamente, do desejo de um jovem, aí minhas estruturas desabam. Meus neurônios murcham como num Carnaval melancólico. Impressiona-me a quantidade de moleques a cometerem suicídio. Gente que nem tirou a catinga de xixi ou o cheiro de Hipoglós dos ovos. Isso dói. Ver uma vida quase não vivida sendo interrompida.
A depressão, quase sempre, é o principal gatilho para o final desastroso. E o que impressiona ainda mais é que a maioria desses jovens é rica, bem formada, bem-sucedida profissionalmente, com acesso a toda sorte de diversão e tecnologia, mas por dentro, vazia e infeliz. Parece que nada é suficiente. Nenhum prazer é suficiente. Nenhum sucesso é suficiente. O que está acontecendo com esses moços?
Se você ama e valoriza a vida – como eu – não conseguirá alcançar o que passa na cabeça do suicida. Especialmente de um jovem suicida. Certamente é quando a vida é mais dura que a morte. É quando acordar todos os dias é asfixiante, e morrer passa a ser um alívio. É quando a pessoa encontra sentido no fim, no apagar das luzes. É quando o sofrimento de viver é bem maior que o sofrimento de morrer. É um mergulho de encontro à libertação do peso insuportável da vida que se vive. É quando pular de cima de um prédio é menos assustador do que o cair constante.
Pois, se você sofre do mal da depressão e está, neste momento, lendo esta singela crônica, seja você, moço ou velho, quero te pedir uma coisa: me procura. Vem aqui em casa. Vamos sorrir, tomar vinho, fazer um churrasco, ouvir Stones e arrastar os móveis para dançar no meio da sala, imitando Jagger, com aquela boca sexualmente atrevida de 75 anos, dando a língua para a vida, saboreando-a como tem que ser, apesar das flores e espinhos.