O Que Fazer Com A Energia Gerada No Interior Do Estado? - Revista Algomais - A Revista De Pernambuco
O que fazer com a energia gerada no interior do Estado?

Revista Algomais

O vento e o sol

Há alguns dias estive revendo o que representavam o vento e o sol para o semiárido brasileiro até bem pouco tempo. O primeiro era sinônimo de poeira, lixo e pipas ao ar que naqueles rincões eram conhecidas como arraias. Já o sol simbolizava a seca, o calor, as faces enrugadas, a vegetação de cor marrom, o gado magro e o calor escaldante. Nada melhor pode traduzir o que representa essa estrela para o nordestino do que a música Súplica Cearense, de Gordurinha e Nelinho, imortalizada na versão de Luiz Gonzaga e Fagner, de 1984: "Ó Deus, perdoe eu encher os meus olhos de água. De ter-lhe pedido cheinho de mágoa. Pro sol inclemente se arretirar".

energia solar eolica 3

Voltando no tempo, Éolo era a representação do vento na mitologia grega, aquele por quem Ulysses, ao chegar a ilha de Eólia, foi recebido muito bem, dando-lhe um saco com todos os ventos, menos o vento que sopraria para oeste, aquele que nosso herói mais precisava. O fato é que o vento é o responsável pelo deslocamento de ar na atmosfera, pela sensação confortável da brisa ou, em sua fúria, aquele que se transforma em ventanias, tufões e ciclones. Ainda com os gregos, Hélio, a representação física do sol, filho dos titãs Hiperion e Teia, partia ao amanhecer com sua carruagem puxada por quatro cavalos alados que cuspiam fogo para depois de uma longa jornada repousar ao oeste, quando a noite batia à porta.

O certo é que nem Homero, Cervantes, Camões ou Gordurinha e Nelinho previram a importância que teria o vento e o sol para a humanidade, alguns milhares de anos após Ulysses ziguezaguear por 10 anos até retornar à sua Ítaca. Neste instante, esses dínamos representam a redenção de uma humanidade sedenta de energia elétrica e mecânica para prover locomoção, uso de equipamentos, máquinas, computadores e até internet.

energia solar eolica 1

O pioneirismo

Em Pernambuco nunca é demais refazer a trajetória do professor e empresário Everaldo Feitosa, pioneiro em crer na eficácia da energia eólica. Um professor do Departamento de Engenharia Mecânica da UFRPE que, em 2000, há 25 anos, fundou a empresa Eólica Tecnologia, atualmente controladora de vários parques eólicos nos estados da Paraíba, Pernambuco e Bahia, e que, atualizando-se no mundo de negócios corporativos, surgiu em julho de 2025 com a Eólica Energy Bank, uma incorporadora e gestora de investimentos no ambiente de energia renovável. Recentemente, Everaldo nos presenteou com uma palestra em um evento do CREA/CTP, realizado em Serra Talhada, sobre esse tema quando nos informou que, caso considerássemos a região Nordeste como um país, este seria o segundo maior produtor per capita de energia renovável, após a China.

Um segundo personagem merecedor de reconhecimento nessa saga é o empresário cearense Mário Araripe. Em 1994, fundou uma empresa automobilística, a Troller, vendida à Ford em 2006, e criou em 2007 a Casa dos Ventos, consolidando-a como referência nacional em energia eólica. A Casa dos Ventos é responsável atualmente, de modo direto ou em associação com outros grupos conglomerados, por uma produção de energia que excede 30 GW, em todo o Brasil, com destaque para o complexo Santa Brígida, entre Caetés e Paranatama, em Pernambuco.

energia solar eolica 2

Parques de produção

Em se tratando de energia eólica, os sítios mais expressivos de produção se encontram no interior do Estado. Destacando-se a Santa Brígida, no Agreste Meridional, o parque instalado em Itacuruba, no Sertão de Itaparica, e a produção na Chapada do Araripe, abrangendo os estados do Piauí, Pernambuco e o Ceará.

Quanto à energia solar, o fato mais destacado é o município de São José do Belmonte ter se transformado no principal centro produtor e um dos que têm atraído investimentos na ordem de bilhões de reais para a região. Um outro exemplo de parques com produção e distribuição em escala é o município de Flores, no Sertão do Pajeú. Do ponto de vista da produção difusa, seja empresarial ou familiar, o que se vê é um crescimento exponencial ocorrido nos últimos cinco anos com a operação de centenas de micro e pequenas empresas, o que, além da energia em si, traz milhares de empregos e aquece os negócios em todas as regiões do Agreste e do Sertão.

Não é à toa que na região Nordeste a produção de energia eólica e solar soma aproximadamente 30 GW de potência instalada ou o equivalente a mais de duas hidrelétricas de Itaipu que conta com uma capacidade instalada para, quando em total operação, gerar 14 GW de energia.

Energia em excesso, algo insano

Desde 2024 circulam-se matérias que trazem um fato apresentado como ameaça. O excesso de produção de energia e a pressão sobre a liquidez das empresas que investiram no setor. Há de se considerar que se a discussão girasse em torno de débito de produção, como ocorreu nos dois últimos anos do governo do presidente Fernando Henrique, forçado a criar o "Ministério do Apagão" tudo bem, mas é algo incompreensível dizer que contar com energia, alimento, petróleo, ferro, aço em excesso é fator negativo.

Certamente Pernambuco e o Nordeste não pretendem ser o sítio produtor de energia elétrica a ser consumida em outras regiões do País. Logo, cabe a suas lideranças, no âmbito do Programa Nova Política de Industrialização do Brasil, construir mecanismos e atrativos que não sejam uma guerra autofágica tributária entre os estados para atrair indústrias, empregos e prosperidade.

Há de se ver que o atrativo para apoiar a isenção fiscal das lojas de apostas, conhecidas como bets (e bancos), talvez seja mais tentador, mas seria racional e decente se a energia dissipada em causas menos nobres fosse transferida para fins mais nobres. Seja em Pernambuco ou qualquer outro estado nordestino.

Deixe seu comentário

Assine nossa Newsletter

No ononno ono ononononono ononono onononononononononnon