Pandemia, insegurança alimentar e falta de planejamento reforçam importância das ONGs

Por Demorval dos Santos Filho, economista

O Governo Federal anunciou a previsão de ampliar os pagamentos do auxílio emergencial até o próximo mês de outubro. Mas é sempre bom lembrar que o valor, mesmo os iniciais R$ 600, tem se mostrado insuficiente no cenário econômico da pandemia da Covid-19, que une perda acentuada de renda, desemprego e inflação.

Quando analisei índices relativos a 2019 e 2020, observei impactos irrefutáveis da pandemia no bem estar socioeconômico das famílias, principalmente as mais pobres. Cruzei as sete variáveis apresentadas nesta tabela abaixo e, observemos, houve uma redução da capacidade das famílias em prover o seu sustento.

Chamo atenção para o índice relacionado ao consumo das famílias, que demonstra queda vertiginosa no poder aquisitivo desses grupos. O percentual aponta quanto as famílias perderam com a chegada da pandemia (queda de 5,5% na comparação de 2020 com 2019) e que o auxílio emergencial não foi capaz de suprir a perda total ou parcial da renda atrelada à inflação do período. A inflação oficial em 2020 ficou em 4,52%, na comparação com o ano anterior, e continua em alta neste ano.

A alta dos preços ainda vem paralela à taxa de desocupação que continua a subir, passando de 16,1% para 16,8% no País. Aqui em Pernambuco, houve uma redução 0,07% na taxa de informais, mas este não é um dado a ser comemorado uma vez que a taxa de trabalhadores formais teve uma redução de 1,8%, indicando que a redução entre informais não vem da recolocação desses trabalhadores em postos formais, mas que as pessoas estão desacreditadas e desistiram de gerar renda através do trabalho.

Além disso, a perda do poder aquisitivo no país é clara. Segundo último cálculo divulgado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o salário mínimo necessário para suprir as necessidades asseguradas pela Constituição Federal seria de R$ 5.351,11, cinco vezes maior que o mínimo nominal, de R$ 1.100.

Aí vemos o reforço na importância das instituições filantrópicas na sobrevivência das famílias. Aqui no interior, tenho acompanhado o trabalho da Giral, uma instituição que tem foco na educação, mas precisou formar uma frente para suprir a alimentação. Era muita fome e a medida era essencial. A equipe da Giral percebeu na comunidade de Glória do Goitá o que os números detectaram: a pandemia agravou o processo de empobrecimento das famílias, afetou o consumo e o acesso a alimentos e a outros itens básicos.

Certo que o auxílio emergencial é uma estratégia do governo para reaquecer o mercado e prover a subsistência das famílias, mas até o momento, o país não alcançou resultados satisfatórios e a condução desse subsídio trouxe à tona a necessidade de refletir sobre planejamento. Afinal, um bom planejamento competitivo não leva em conta apenas ideais quantitativos estratégicos, operacionais e táticos, mas inclui variantes qualitativas, definindo como a ideia será executada. Não adianta criar instrumentos estratégicos de aumento no nível de renda (processos quantitativos) se os meios de fazer estes instrumentos funcionarem são ineficientes (processos qualitativos). Ou seja, não adianta liberar o dinheiro e ele não chegar ao bolso do beneficiário. Por qual motivo essa distribuição ficou restrita à Caixa Econômica?

Umas das justificativas quantitativas para essas ideias está no cruzamento dos dados entre as variáveis rendimento domiciliar per capita versus distribuição do rendimento mensal real efetivo domiciliar per capita, conhecido como Índice de Gini. De 2019 para 2020, houve um aumento no nível de renda domiciliar por pessoa nos municípios pernambucanos. A média que era de R$ 855 em 2019 passou a R$ 954, representando um aumento percentual de aproximadamente 12% para o período analisado.

Alerto, no entanto, que aumentar o nível de renda domiciliar e enfrentar problemas na distribuição desta renda não resolve o problema financeiro das famílias. A concentração de renda e a má distribuição dela são fatores negativos que contribuem diretamente para a redução do nível de consumo das famílias. Partindo deste princípio, faz-se necessária a verificação dos processos de distribuição de renda, como o pagamento do auxílio emergencial ser feito exclusivamente através da Caixa Econômica.

*Demorval dos Santos Filho é economista

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