Pedro vai às compras (Por Joca Souza Leão) – Revista Algomais – a revista de Pernambuco

Pedro vai às compras (Por Joca Souza Leão)

Claudia Santos

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Meu neto Pedro já foi três vezes ao exterior, mas não conhecia o Centro do Recife. Nem os recifenses que circulam por lá. Como os meninos de classe média da sua idade, dez anos, Pedro só conhecia os caminhos da escola, do clube, um ou outro parque, a praia de Boa Viagem, shoppings, aeroporto e saídas da cidade para o interior e litoral. De carro. E de bicicleta, com o pai, João, em algumas incursões pelas precárias ciclovias domingueiras. Ah!, também conhecia o Marco Zero e os museus do Sertão, do Estado, do Recife (no Forte das Cinco Pontas), do Homem, zoológico, em Dois Irmãos, Teatro Santa Isabel e alguns outros, onde assistiu peças infantis. Mas, pouco anda pelo bairro onde mora. Apenas na pracinha em frente ao prédio, no supermercado e no mercado público, porque muito próximos de casa.

E os bairros? Peixinhos, Beberibe, Cajueiro, Arruda, Casa Amarela, Alto do Mandu, Vasco, Macaxeira, Linha do Tiro, Iputinga, Cordeiro, Engenho do Meio, Afogados, Tejipió…? Nada. A Várzea, de passagem, a caminho dos Brennand, Oficina de Francisco e Instituto de Ricardo.

Mas, Pedro precisou comprar uma bola de handball infantil. Bateram todos os shoppings. Nada. Pela internet, a entrega seria demorada e mais cara porque a bola viria cheia. O treinador deu a dica: Dimarca Sports, na Rua de Santa Rita, no bairro de São José.

“Papai, é muita gente!” A exclamação de Pedro revelou a sua natural e compreensível perplexidade. “Muita gente.” E muita gente diferente da que ele estava acostumado a ver nos shoppings. A loja, desarrumada. Cheia de tudo por todo canto, produtos pendurados no teto, tabuleiros abarrotados. Tudo para esportes. De todas as marcas e preços. Bem mais baratos que nos shoppings e pela internet. (Isto é um comercial explícito; de graça, mas é.)

Bola comprada, João propôs e Pedro topou irem ao Mercado de São José. E andaram nas ruas por ali. Pátio do Livramento, Rua Direita, das Calçadas, do Rangel, Pátio de São Pedro, Rua Nova, Guararapes, até a Rua do Sol. Pedro conheceu um pouco do Recife. E gostou do que viu. (Ah se ele tivesse conhecido o Recife que eu conheci quando tinha a idade dele!)

Você, caro leitor, mora onde? No Recife? Qual deles? A televisão se refere a alguns deles, poucos, como “áreas nobres”. A outros, um pouco mais numerosos, pelos nomes dos bairros. E a outros, a grande maioria, dependendo do conteúdo da notícia, como favela, periferia, invasão ou comunidade. Baile funk é na favela. Troça carnavalesca, na comunidade. Bala perdida é na favela. Indignação, revolta e resistência é (ou será) na comunidade.

Recife. Recifes. Várias. Muitas. Cidades apartadas. Poucas com tanto; muitas com tão pouco, quase nada.

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