*Por Rafael Dantas
O pernambucano Guilherme Alcântara, 42 anos, mora há 18 anos na capital gaúcha. O arquiteto de software deixou uma das grandes empresas do Porto Digital por uma oportunidade profissional no Sul do País. Apaixonou-se pela cidade, tão bairrista quanto o Recife. As chuvas intensas que paralisaram o Rio Grande do Sul e assombraram o País não chegaram na sua casa, mas mudaram muito a rotina.
A falta de água, energia e internet dos primeiros dias já passou. Ele conta que a vida está aos poucos voltando ao normal nos bairros que estão em regiões mais altas ou médias de Porto Alegre. Mas enquanto as águas não deixam a cidade na região mais baixa, o clima é de desânimo, sabendo que muita gente perdeu tudo.
“A situação é parecida com a da pandemia. A gente está muito em casa, procuramos não sair. Até porque, com essa enchente, de certo modo, tem mais perigo na cidade, que está meio que sem lei”, afirma Guilherme. Com as forças policiais focadas nos resgates e monitoramento das áreas de risco, ele conta que os assaltos aumentaram. “Claro que a gente sente falta de sair um pouco de casa, mas quando a gente sai e vê a situação que está a cidade, é triste. Estou aqui há 18 anos, é difícil ver o lugar que me acolheu, com seus pontos turísticos, nessa situação”.
Ele informa que conhece muitas famílias que moram em Canoas ou em bairros que estão submersos. O que aumenta o impacto emocional da travessia dessa tragédia que acometeu não apenas a capital, mas muitos municípios do interior. “Pessoas próximas perderam tudo. Você perde o chão numa situação dessas. Tenho amigos em cujas casas as águas subiram até o segundo andar”.
Mesmo nas regiões não afetadas, a proximidade de ruas que precisam ser atravessadas a barco é uma realidade. “As pessoas estão comprando menos, consumindo menos, tanto por terem perdido muita coisa, como também por não ter nenhum clima. Vamos ao shopping, por exemplo, apenas para uma atividade essencial”, exemplificou.
O futuro de Porto Alegre é uma grande interrogação. Guilherme afirma que não tem ouvido muito ainda sobre isso, porque o momento ainda é de atenção aos milhares de desabrigados. Pelas regiões afetadas, ele acredita que as políticas públicas seguirão na direção de promover contenções e evitar outras tragédias, mas não de grandes deslocamentos da população para outras áreas. Mas essa é uma possibilidade que passa a ser cada vez mais comum nas grandes cidades do Brasil e do mundo quando enfrentam um evento extremo das mudanças climáticas.