O artista visual pernambucano Guilherme Patriota inaugurou uma exposição virtual inédita que reúne dezenas de obras que ilustram os mais de vinte anos de sua carreira. Paulatinamente, a mostra exibirá desenhos, colagens, fotografias, videoarte, documentários, roteiros, contos, crônicas e projetos musicais do pernambucano. “Os descamisados ou releituras indecentes de uma história da arte mal contada”, abre a exposição com 31 desenhos inéditos. A mostra pode ser visitada virtualmente, através do site: www.guilhermepatriota.com
As obras de “Os Descamisados” aborda a fluidez deste novo enredo de Patriota, sentido principalmente, pelo contraste provocado entre o fundo, de formas geométricas extremamente coloridas, e as figuras humanas ou de objetos em preto e branco, no primeiro plano, como que saltando do papel.
Distorcendo com forte teor sarcástico famosas e clássicas imagens da representação humana – desde as esculturas da antiguidade clássica, ideais femininos do renascimento, passando pela corporalidade das vanguardas modernas, até vertentes da publicidade – a série nos faz perguntar, o que há de bizarro e irônico nas concepções do “Belo ou do Bom” e por quê ainda exercem tanta atração sobre nós.
“A ideia da série surgiu a partir da leitura/observação do livro “História da Beleza”, organizado por Umberto Eco. Nesse contexto de leitura senti uma provocação natural. E quis discutir a política nas artes e como isso interfere positiva ou negativamente em nossos processos e, principalmente, qual a função e a definição de artista neste contexto de História. A partir desses princípios, discutir a beleza e suas distorções me pareceu o caminho mais interessante a se percorrer, mesmo sabendo que este é um grande desafio e que não tem tempo para acabar. Isso tudo dentro de meus próprios processos que venho desenvolvendo nos últimos vinte anos”, pontua Guilherme Patriota.
Tendo uma exposição individual prevista para ocorrer na Torre Malakoff (Recife/PE), Guilherme entende que o site cumpre, na atual fase de seu desenvolvimento artístico, o papel de iniciar diálogos mais contundentes, com o variado público visitante, que terão continuidades em futuras experiências.
A primeira parte da mostra online, também ganhou texto curatorial de Laura Sousa e um vídeo documentário sobre a formação artística de Guilherme e o seu processo de criação da série exposta e a experiência de trabalho ao longo da pandemia. O projeto é uma realização da Theia Produtores Associados com recursos da Lei Aldir Blanc por meio do Edital da Secult e Fundarpe – Governo do Estado de Pernambuco.”
“Nos trabalhos de Guilherme Patriota presentes na mostra virtual, podemos perceber sua fluidez criativa entre personagens, frases, palavras e geometrias que dão movimento aos encontros entre as referências figurativas que se destacam na sua pesquisa. Diante do poder dos discursos históricos, o artista embaralha as tradicionais cronologias que prezam por uma noção de evolução da arte. Assim, figuras humanas são retiradas de imposições temporais e adentram uma irônica contra-narrativa acerca de um tema tão explorado em nossas perspectivas culturais institucionais”, comenta a curadora, Laura Sousa.
Ainda como conteúdo da exposição virtual, a mostra disponibiliza um curta metragem onde o artista fala um pouco sobre sua trajetória e sobre a produção da série. O vídeo traz de forma crua o contexto de produção na casa/ateliê em tempos de pandemia e isolamento social, colocando o fazer artístico como algo indispensável em nossa resistência pelo bem coletivo e na construção de pontes entre as fruições de um passado recente e as maneiras de sentir que são possíveis em um estranho presente.
Guilherme Patriota é artista, jornalista, pós-graduado em Literatura e Estudos Culturais, estudou Cinema Político Latino Americano, é documentarista e produtor cultural com mais de 20 anos de experiência. É de Itapetim, Sertão do Pajeú, vive e trabalha no Recife e foi diretor de Produção da Mais Propaganda, Coordenador audiovisual do Museu de Arte Assis Chateaubriand, Coordenador de produção e logística da Secult-Fundarpe. Nas artes visuais, desenvolve um trabalho continuo e ininterrupto desde 1999, entre desenhos, pinturas, colagens, doc art, vídeo arte e textos (contos, poesias e roteiros), participou de quatro exposições coletivas, ilustrou os livros “A Síndrome Ocidental” (Frederico de Navarro) e “De pueri et viri” (Antônio de Pádua Dias da Silva) e já tem sua primeira exposição individual aprovada pelo Funcultura, intitulada “Fluxo Fantasia”, prevista para o início de 2022 ocupando as salas expositivas da Torre Malakoff.