Pesquisa revela o perfil e os desafios das artistas do barro de Tracunhaém 

“Mulheres do Barro” realizou um mapeamento cujos resultados serão apresentados de forma online no próximo dia 04 de abril. Na foto, a artesã Leninha Nascimento. Foto: Rúbia Batista

O município de Tracunhaém, localizado na Zona da Mata Norte de Pernambuco e distante 62 km da capital Recife, é amplamente reconhecido como um importante polo cerâmico. Com menos de 14 mil habitantes, cerca de 50% da sua população está envolvida na transformação do barro em peças utilitárias ou obras de arte, o que lhe rendeu o título de Capital do Artesanato em Cerâmica pela Assembleia Legislativa de Pernambuco. Com o intuito de compreender e destacar o trabalho das mulheres artistas de Tracunhaém, duas artesãs e produtoras culturais apresentaram, em primeira mão, uma prévia do projeto “Mulheres do Barro”. Este estudo, considerado um censo cultural, realiza um mapeamento das mulheres artesãs da cidade, revelando suas técnicas, experiências e contribuições para a cultura local. A iniciativa foi viabilizada com o apoio do edital Micropojeto do Funcultura.

Durante o período de novembro de 2023 a janeiro deste ano, as produtoras empreenderam uma busca ativa, visitando ateliês, olarias e residências em Tracunhaém, coletando dados por meio de questionários junto às mulheres artistas. Cerca de 50 artistas, predominantemente negras, foram entrevistadas, abrangendo uma ampla gama de habilidades criativas, todas utilizando o barro como matéria-prima. O lançamento completo dos resultados desse trabalho, destinado a preservar a memória da tradicional arte em cerâmica e das mulheres dedicadas a esse ofício, ocorreu nos dias 22 e 23 em Tracunhaém. Mas no próximo dia 04/04 haverá um lançamento digital no site do projeto mulheresdobarro.com.br  e no canal do Youtube https://www.youtube.com/@Mulheresdobarro, a partir de 11h, que poderá ser acompanhado de qualquer lugar do mundo. 

Perfil das artesãs

A faixa etária das mulheres mapeadas que trabalham com cerâmica em Tracunhaém é bem abrangente, vai dos 16 aos 95 anos. 34,04% das mulheres mapeadas são jovens adultas (estão entre 25 e 35 anos), e 23% delas são pessoas idosas (têm idades igual ou superior a 60 anos). “Uma nova geração de mulheres tem mantido a tradição com o barro na cidade, enquanto profissão e fazer artístico. Ao mesmo tempo, idosas ainda têm o barro como subsistência e também mantêm a tradição”, esclareceu Gabriela Feitosa, pesquisadora colaboradora no Mapeamento Mulheres do Barro.  Em relação ao tempo de experiência das mulheres com cerâmica, a pesquisa identificou que 88,36% das mulheres mapeadas têm mais de dois anos de experiência com cerâmica. E 47% das mulheres estão atuando há mais de 10 anos na área, indicando que grande parte das artistas, de fato, têm prática no seu fazer artístico e profissional.

No âmbito da maternidade, 74,5 % das mulheres mapeadas são mães; 54,29% delas têm mais de um filho e 44,7%, são chefes de famílias. “As mulheres que são mães têm maior dificuldade de permanecer e de se manter no mercado de trabalho, por isso esse grupo precisa de maior incentivo e fortalecimento. Os filhos dessas mulheres representam uma possibilidade de continuidade da tradição da cerâmica no território, essas pessoas devem ser apoiadas”, detalhou Silvia Ribeiro, coordenadora geral e idealizadora do Mulheres do Barro.

Perfil econômico da atividade

O estudo também mostra que a cerâmica é a principal fonte de renda para 80,09% das inquiridas. No que diz respeito ao local de trabalho delas, apenas 14,9% das mulheres mapeadas trabalham com cerâmica em associações ou coletivos; 31,9% das ceramistas trabalham na própria residência e 31,9%, atuam em estruturas improvisadas. Do total, 53,2% das mulheres mapeadas trabalham com cerâmica em ateliês familiares. “Poucas mulheres trabalham com o apoio de associações ou coletivos. Esses dados demonstram que, se houver investimentos em espaços coletivos, mais mulheres poderão se utilizar desses ambientes para se desenvolverem profissionalmente. As mulheres que trabalham em suas casas usam parte de pequenos espaços para o trabalho”, explicou Cintia Viana, coordenadora pedagógica e idealizadora. 

61,7% das entrevistadas, na pesquisa, desenvolvem peças autorais; e 38,3% das mulheres ouvidas não consideram suas peças autorais. “A imposição do mercado da cerâmica no território dificulta a possibilidade do desenvolvimento do processo artístico autoral das mulheres mapeadas, tendo em vista que na maior parte do tempo os trabalhos são desenvolvidos para atender a um mercado e sobra pouco tempo para o desenvolvimento autoral das artistas”, analisou a pesquisadora Gabriela Feitosa. Dentro do mesmo cenário, 87,2 % das mulheres mapeadas têm interesse em se qualificar mais em relação à cerâmica, o que demonstra a necessidade de investimentos nas mulheres que atuam no ramo ceramista de Tracunhaém.

Desafios para o segmento

Para a equipe do projeto, a história da cidade da Zona da Marta Norte se mistura com a da sua arte, que é um verdadeiro patrimônio cultural de Pernambuco e do Brasil. Mas, nessa história, o papel das mulheres precisa ser evidenciado e o Estado deve apoiar cada vez mais essas artistas. Pois o apoio ao empreendedorismo feminino permite que as mulheres tenham mais controle sobre seus próprios meios de subsistência e se tornem cada vez mais economicamente independentes. Promoção de inclusão social e equidade de gênero é tarefa do poder público. Além disso, incentivos das instituições a essas pessoas podem contribuir para o desenvolvimento econômico e social do Nordeste como um todo.

Além da coleta de dados, o projeto também incluiu a produção de um documentário que foi gravado e montado entre fevereiro e março deste ano, intitulado “Mulheres do Barro”. Nele as produtoras se unem a uma equipe de realizadores do audiovisual da Mata Norte, e contam como foi esse mapeamento mostrando a história de 12 artesãs da cidade de Tracunhaém. Realizado com recurso da Lei Paulo Gustavo do município, a obra pode ser vista na página oficial do projeto nas redes sociais e no Youtube.

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