Bom solo, muita água e sol o ano inteiro. Quando se fala em Vale do São Francisco, essas três características remetem quase automaticamente à produção de manga e uva. Mas esses três elementos naturais também são ideais para a produção de um fruto que já foi “moda” entre os produtores de Petrolina: o coco.
Segundo o engenheiro agrônomo e consultor, Pedro Ximenes, nos anos de 1990 os coqueiros ocupavam enormes áreas irrigadas em Petrolina, mas a forte variação no preço do fruto no mercado interno, em especial durante os meses mais frios, reduziu drasticamente a produção no município do Sertão pernambucano. “O preço é altamente variável. A gente costuma dizer que coco é feito picolé, ele só vende quando está bem quente. Quando as temperaturas estão amenas, ele tem um baixo consumo”, explicou.
Nos meses mais frios, de maio a outubro, a unidade chega a ser vendida por R$ 0,25, no máximo a R$ 0,35, que representa a média do custo de produção. Em janeiro,o preço sobe para R$ 1, o que significa mais de 10% de lucro. Com a proximidade do Carnaval, o valor tende a aumentar ainda mais, já que a demanda também cresce. “A produção de coco de Petrolina vai para as principais capitais do Nordeste e para a região Sudeste. Quem praticamente estipula o preço do coco são os estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Quando eles solicitam nossos frutos, o preço aumenta abruptamente”, pontuou o engenheiro agrônomo.
Quem pensa que a produção atual é pequena ou insignificante, se engana. Só no Perímetro Irrigado Senador Nilo Coelho, a estimativa mensal de produção é de 14 milhões de cocos. São 1.100 caminhões carregados do fruto que abastecem, principalmente, as regiões litorâneas do Brasil todos os meses. Na alta temporada, com o preço do fruto a R$ 1, estima-se que só os 2.200 lotes do Nilo Coelho injetem cerca de R$ 14 milhões na economia do município.
Em Petrolina, 95% dos coqueiros são da variedade anão precoce, que começa a produzir entre 2,5 a 3 anos após o plantio, tem mais água e menos óleo do que os outros tipos e é usado na comercialização da água de coco. “Existem algumas fazendas que produzem até 400 frutos pé/ano, uma produção muito boa. Mas, esse coco para indústria não é tão interessante, porque tem menos óleo. Quem quer plantar pensando na indústria, para o beneficiamento da polpa, é preciso investir no coqueiro gigante, que produz menos, em média 250 a 280 frutos pé/ano, mas ele tem a quantidade de óleo e um período de prateleira (demora mais para apodrecer) bem maiores”, explicou Ximenes.
Regiões litorâneas do Nordeste e o estado de Minas Gerais também investem em coco, porém para a produção da polpa utilizada para os subprodutos industrializados, como coco ralado e bolos. Entretanto, no Vale do São Francisco, produtores como Ednaldo da Silva, têm como foco a venda do coco in natura. Há 22 anos ele iniciou o plantio da cultura no Núcleo 5 (N-5) do Perímetro Irrigado Senador Nilo Coelho em Petrolina. Atualmente, ele possui quase seis mil coqueiros que colocam no mercado cerca de um milhão de cocos por ano.
Independentemente do preço de venda, o produtor segue com os cuidados nos lotes durante todo o ano. No manejo, a irrigação é a aliada mais valiosa. Para produzir os frutos carregados de água coco doce, que abastece o litoral brasileiro durante o verão, cada coqueiro precisa de quatro horas de rega. Por isso, a conta de água do produtor é salgada, por mês são gastos R$ 15 mil a R$ 16 mil. “O segredo do coco é a água. São 300 litros de água por planta, 75 litros de água por hora. Existem lugares que têm coco, mas a água é salobra. O gosto é diferente, o nosso é mais doce”, garante Ednaldo Silva que abastece os mercados do Rio Grande do Sul, de Goiás, do Distrito Federal, além de Minas Gerais.
Além de ser exemplo de persistência, Ednaldo é um empreendedor nato. Nasceu em Sertânia, município localizado no Sertão do Moxotó. Tentou a vida no Paraná e em São Paulo, mas foi em Petrolina que ele começou a trabalhar com a terra. Trocou a roça “rasteira” com culturas como a macaxeira e a batata, e investiu na fruticultura irrigada. Mesmo sem formação na área, começou vendendo cocos, adquiriu lotes, ampliou o negócio e hoje possui até caminhão para fazer a entrega da mercadoria.
Conhecedor de cada etapa da produção, Ednaldo tem funcionários fieis contratados há anos. “Não é qualquer um que trabalha com coco. Tem que ser profissional mesmo. O (coqueiro) anão chega a 15, 20 metros de altura e é preciso usar escada para retirar o cacho. Por isso, é só para quem sabe trabalhar mesmo. Eu tenho trabalhador que está comigo há mais de 20 anos”, orgulha-se.
De acordo com Ednaldo, como a produção de coco é mensal, não há um período específico de safra, como ocorre com outras culturas. “O corte do coco geralmente é feito a cada 30 dias. Mas no tempo mais quente, a gente corta em 20, 25 dias. No tempo mais ruim, em 40 dias”.
Apaixonado pela cultura no tempo bom e no ruim, Ednaldo é inspiração fora e dentro de casa. Dos três filhos, Naiana Andrade da Silva já definiu o caminho profissional inspirada no pai. Está cursando o 8º período do curso de engenharia agronômica na Univasf (Universidade Federal do Vale do São Francisco) e assegura que dará continuidade ao trabalho iniciado por Ednaldo quando ela estava com apenas 1 ano de vida. “Quero trabalhar tanto ajudando meu pai na produção, como auxiliando outros produtores também. Ele passa seis meses de muita dificuldade (período de inverno), mas não se deixa abalar por isso. Isso me inspira”, afirmou a estudante.
O coco desponta como nova alternativa para o Vale do São Francisco, inclusive para o mercado externo. Segundo Pedro Ximenes, países como Portugal já sinalizaram interesse na exportação da fruta. Contudo, os produtores ainda não conseguiram encontrar alternativas, economicamente viáveis, para exportar o fruto que contém um peso significativo. Porém, em se tratando de fruticultura irrigada na chamada Terra dos Impossíveis, não é prudente duvidar que, tão logo, a água de coco, que tem a doçura do Rio São Francisco, cruze as fronteiras tupiniquins assim como a manga e a uva.
*Por Carol Aguiar, especial para a Algomais