Criado durante a 1ª Guerra Mundial para a reabilitação física dos soldados lesionados, o pilates tornou-se popular apenas na década de 80. Não há dados precisos sobre a modalidade no Brasil, mas basta sair para observar o grande número de estúdios espalhados pelas ruas aqui, mesmo, no Recife. O boom ocorreu depois que o método passou a ser o queridinho das famosas para manter a boa forma. No entanto, as vantagens vão muito além do simples fato de esculpir o corpo. Alguns dos benefícios como redução de dores na coluna e correção postural já são bem conhecidos e outros efeitos também estão sendo observados. Entre eles se destacam a melhora da concentração e da noção de equilíbrio. A técnica ainda auxilia no tratamento de problemas respiratórios.
De acordo com a tutora do curso de fisioterapia da Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS), Renata Firmo, a metodologia alcança diferentes resultados, pois trabalha o corpo de maneira global. “Os exercícios são praticados, visando o equilíbrio entre o corpo e a mente, promovendo consciência corporal, realinhamento postural, tonificação de músculos, melhora da flexibilidade e alívio de dores crônicas.”
Um dos princípios utilizado pela técnica para atingir tais objetivos é o centro de força. Também chamado de power house, ele refere-se a músculos estabilizadores da coluna. Através do pilates, então, busca-se fortalecer esse ponto central para manter ou recuperar o equilíbrio. “Durante a aula, fazemos vários exercícios que desestabilizam para que, posteriormente, o aluno possa ganhar estabilidade”, relata a fisioterapeuta Franciella Soccal.
Diferente do que ocorre em outros tratamentos fisioterapêuticos para a reabilitação física, no pilates, o aluno influi diretamente na execução dos movimentos. Esse é um dos motivos pelo qual a técnica também auxilia na capacidade de memorização. “É necessário que o paciente preste atenção, pois são realizadas várias atividades ao mesmo tempo. Então, aos poucos, se observa uma melhora na concentração”, explica Renata.
A técnica, que é indicada para todas as idades, tem a capacidade agir sobre diversas áreas do corpo humano graças a um aspecto importante: a possibilidade de montar programas específicos a partir das necessidades de cada aluno. “Uma das características das aulas de pilates é a não utilização de um protocolo fechado de exercícios, favorecendo, assim, uma gama maior de estímulos”, informa o fisioterapeuta e professor substituto da UFPE Taciano Rocha.
A aposentada Margarida Maciel, 67, é uma das adeptas do método. Ela resolveu trocar os exercícios de musculação pelo pilates e é só elogios para a atividade. “As dores que sentia nas costas e na coluna diminuíram muito.” Já dona Josilda Camarotti, 80, comemora o ganho de flexibilidade.
A respiração é uma das ações enfatizadas durante as aulas de pilates e mais recentemente o benefício da metodologia para tratamento de doenças respiratórias vem sendo constatada. Uma pesquisa divulgada no Jornal Brasileiro de Pneumologia mostrou os efeitos positivos do método em portadores de fibrose cística. Dos 19 voluntários submetidos ao estudo, todos apresentaram um aumento na capacidade da força muscular respiratória.
Embora ainda sem comprovação científica, os efeitos do pilates em pacientes com Doença Pulmonar Crônica Obstrutiva (DPOC) também vêm sendo observados. O distúrbio, que tem como principal fator de risco o tabagismo, debilita os pulmões, prejudicando o fluxo aéreo.
A patologia atinge um número expressivo de pacientes no mundo, 210 milhões pessoas, segundo a Associação Brasileira de Portadores de DPOC. Além da dificuldade para respirar, a doença provoca uma disfunção muscular nos membros inferiores, o que prejudica a realização de simples atividades cotidianas. “A perda de massa muscular é um preditor de mortalidade para os pacientes com DPOC. Assim, o tamanho da musculatura e sua força estão relacionados com desfechos clínicos importantes como a intolerância ao exercício”, explica Taciano.
A reabilitação pulmonar, que consiste em uma intervenção com base em diferentes áreas da saúde, é o caminho mais indicado para o tratamento da doença, segundo a presidente da Sociedade Pernambucana de Pneumologia e Tisiologia (SPEPT), Adriana Velozo. “É possível notar a redução dos sintomas, aumento da participação física e emocional do paciente. Ou seja, uma melhora da qualidade, de um modo geral", destaca.
O pilates pode ser, então, um dos componentes desse tratamento multidisciplinar. De acordo com Taciano, a coordenação da respiração durante a prática do pilates é, justamente, um dos fatores responsáveis pela evolução. Assim, o ar, que tende a ficar preso nos pulmões dos portadores de DPOC, é expelido mais facilmente. “É importante lembrar, no entanto, que a obstrução não é reversível”, acrescenta.
A funcionária pública, Julieta Maria Soares, 61, pratica o pilates há 3 anos. Mas depois de descobrir, em julho, que é portadora de DPOC, o programa de atividades foi alterado. “A médica me aconselhou a continuar fazendo, no entanto, os exercícios passaram a ser mais voltados para a parte torácica”, conta. “Houve uma melhora na postura dela que era bem encurvada, o que acaba por melhorar a dinâmica do tórax”, acrescenta Taciano.
O aposentado Reginaldo Florêncio, 83 anos, é outro que sente os benefícios do método. Uma simples caminhada havia se transformado em um sacrifício para seu Reginaldo. “Antes, praticamente, não conseguia andar. Depois que comecei a fazer aula de pilates, já fui do Engenho do Meio até o final da Canxagá”, celebra.
Texto: Camila Moura. Fotos: Juarez Ventura