Ragu 8 é o novo título do selo Cepe HQ - Revista Algomais - a revista de Pernambuco

Ragu 8 é o novo título do selo Cepe HQ

Rafael Dantas

Da CEPE

Há nove anos sem novidades nas prateleiras das comic shops, a revista independente Ragu reaparece no mercado editorial. Desta vez com a chancela da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), que em 2019 enriqueceu o catálogo ao estrear o selo Cepe HQ. De acordo com uma das curadoras do projeto, Dandara Palankof, o acordo com a Cepe foi fundamental neste momento, porque além de colocar mais uma (esperada) Ragu no mundo, também ajuda a fomentar um mercado em desenvolvimento. Toda a tiragem de Ragu 8 virá com o encarte de um pôster, que reproduz a ilustração das folhas de rosto do livro, uma produção do quadrinista gaúcho Rafael Sica. O lançamento será no próximo dia 14, às 19h, em live no canal da Cepe Oficial no YouTube.

Agenda TGI

Participarão deste bate-papo os cinco editores que assinam a curadoria: o editor da Cepe, Diogo Guedes, a quem caberá fazer a mediação; Mascaro e João Lin (idealizadores do projeto); a jornalista, tradutora e editora de quadrinhos Dandara Palankof; e o jornalista Paulo Floro, editor das revistas O Grito e Plaf. A capa tem assinatura do artista gráfico alemão Henning Wagenbreth.

As 158 páginas contam com a participação de 40 colaboradores, entre eles: Laerte, Gomez, Lin e Mascaro, Amanda Miranda, Cau Gomez, Miguel Carvalho, Greg Vieira, Nuno Sousa, Guazelli e Rafael Coutinho. “Ragu acaba sendo uma vitrine da diversidade do quadrinho brasileiro pela quantidade de artistas presentes”, diz Paulo Floro.

No universo das HQs, onde tudo é possível, a realidade contemporânea vira manifesto, até mesmo nas sutilezas de linguagens e estilos tão diferentes. Os artistas dialogam com questões essenciais para serem discutidas, denunciadas, como intolerância, negacionismo, violência, gênero, direitos civis e política. Em alguns momentos, o humor fino, ácido, irônico ou satírico reflete-se em dimensões atemporais, sem conotação panfletária. “Queríamos uma abordagem que instigasse reflexão, mas sem perder o lúdico. A vida já está bastante densa. Precisamos de válvulas de escape, mas sem alienação”, pontua Mascaro.

Paulo Floro chama a atenção para o fato de a publicação não ter uma pauta engessada. Os artistas ficaram livres para apresentar suas produções. “Mesmo sem trazer um tema de maneira óbvia, Ragu 8 faz um registro muito especial e criativo de seu tempo. Tem tudo para ser um documento histórico importante desse período da cena de quadrinhos brasileira”, ressalta.

Para o editor da Cepe, Diogo Guedes, Ragu é um projeto independente, importante em Pernambuco, mas de repercussão nacional. “Tenho muita alegria de participar desse recorte, espécie de curadoria afetiva, caótica, mas também diversa, com um olhar aberto para a independência de quem pensa as artes gráficas de forma diferente. Então, nada mais adequado para o selo Cepe HQ. Ficamos muito felizes com o resultado, trazendo esse misto de artistas pernambucanos, nacionais e internacionais de várias gerações, com trabalhos muito diversos. Tudo isso compõe exatamente o espírito da Ragu”, destaca.

A curadoria foi extremamente cuidadosa. Segundo Dandara Palankof desde o começo do projeto uma prerrogativa foi ter a presença de várias quadrinistas na Ragu 8. “Temos cada vez mais mulheres produzindo quadrinhos (assim como temos mais negros, mais LGBTQIA+…). É parte dessa diversidade que acreditamos de fato ser hoje a característica definidora do quadrinho nacional e a intenção era que essa nova edição refletisse um pouco essa pluralidade de vozes. Particularmente, acho que o resultado ficou a cara da Ragu: um “caos coeso”. Porém, existia uma diferença fundamental nesse processo, que era a consciência de que dessa vez a Ragu estava sendo publicada em um cenário de profissionalização do quadrinista”, defende.

PIONEIRISMO

A revista estreou no ano 2000 como um projeto local. Aos poucos ocupou espaço e colaboradores de outras regiões, até ganhar projeção nacional. Segundo Dandara, Ragu pode ser considerada uma publicação pioneira. “Quando fui ao meu primeiro FIQ (Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte), no ano de 2009, vários quadrinistas, ao saberem que eu era de Recife, me perguntavam sobre a Ragu. Acho que isso mostra que, mesmo numa época em que os olhares eram ainda mais voltados para a produção artística do Sudeste, e mesmo com essas dificuldades de distribuição, a Ragu conseguiu chegar longe, chamar atenção e marcar época”, conta.

João Lin analisa o fato de que as redes sociais e os meios digitais em geral permitiram que a produção de autores e autoras começasse a ser mais vista e comercializada. Entretanto, todos os períodos de grandes transições, como a promovida pela www, são espaços em que estão postas oportunidades e percalços. “Apesar desse potencial, há gargalos como a necessidade de fazer investimentos e adquirir conhecimento de estratégias que muitas vezes não estão à disposição de todo mundo”, pondera Lin.

Dandara reforça a opinião de Lin: “Nessa era de redes sociais e seguidores, algoritmos e engajamento, vejo muitos quadrinistas reclamando sobre como é difícil se desdobrar para produzir e obedecer a essas novas lógicas e poder ganhar espaço, furar bolhas. A forma de lidar com isso acaba sendo sempre muito particular para cada artista”.

Floro chama a atenção para as inovações estéticas que muitos desses artistas trazem, o que pode ser percebido na revista Ragu. “Apesar de toda essa efervescência, ainda há muito o que explorar. A quantidade de editoras no Nordeste e no Norte ainda é muito pequena, o que acaba dificultando a sustentabilidade da cena nessas regiões. Tem muito artista interessante com trabalhos autorais relevantes fora do eixo”, salienta Paulo Floro.

SERVIÇO

Lançamento: Ragu 8, live pelo youtube.com/cepeoficial

Data: 14 de julho

Horário: 19h

Preço do livro: R$ 70,00

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