Vermelhas, amarelas, verdes, de várias formas e sabores, as pimentas são ingredientes muito presentes na gastronomia e detentoras de muito sabor, simbolismo e importância cultural. Características que sempre interessaram ao museólogo e antropólogo carioca e radicado no Recife, Raul Lody. Sua paixão por essa especiaria conhecida pela ardência o levou a publicar o livro Pimentas: histórias, cores, formas e sabores, em parceria com a Companhia Editora Nacional.
“Há mais de 40 anos venho pesquisando sobre a alimentação e os ingredientes e os temperos culturais como a pimenta”, afirma o especialista, que é e curador do Museu da Gastronomia Baiana (MGBA) e colunista do site Algomais.com. A obra foi lançada no Senac Pelourinho, em Salvador (BA) e reúne 19 artigos sobre as mais variadas pimentas do Brasil e também de outras regiões do mundo.
Trata-se de uma longa imersão sobre receitas, significados, tradições gastronômicas e até mesmo simbolismos que o ingrediente detém no imaginário brasileiro. Segundo Lody, as pimentas nativas do País são usadas há muito tempo. Povos indígenas já as utilizavam há milhares de anos, não apenas para o uso culinário, mas também para rituais espirituais. “Entre os muitos tipos que se usam em todo o mundo, as pimentas têm um destaque muito especial como ingrediente e tempero em várias culinárias. Buscamos mostrá-la sob diferentes aspectos, até mesmo como componente religioso”, revelou Lody.
A classificação da pujança das ardidas aborda questões – até mesmo – de superstição e proteção. Quem nunca ouviu algum familiar mais antigo falar sobre o poder que a pimenta tem em afastar mau-olhado? “Em muitos países, por exemplo, o ingrediente surge como amuleto de defesa”, afirmou o escritor, indicando que a pimenta, em muitas culturas, tem representatividade mágica. “Temos os nossos símbolos subjetivos e pessoais, além dos símbolos culturais e religiosos. As pimentas têm uma ação muito imediata e a grande maioria delas tem uma forma fálica. Talvez por isso exista todo o imaginário por trás delas. Sua cor representa o sangue, a fertilidade e elementos interpretados como proteção”, explica o antropólogo.
A pesquisa foi muito ampla e contou com olhares e conceitos de várias culturas do mundo. “Temos um retrato bastante contemporâneo. A gastronomia é sem dúvida um dos grandes temas do Século 21. É algo bem atual. Eu vejo que os ingredientes e os temperos estão cada vez mais valorizados em suas mais diversas variedades”, pontuou.
MULHERES DE TEJUCUPAPO
Na obra, Raul Lody apresenta de forma pontual o percurso histórico das pimentas. Inclusive, separando um capítulo especialmente para a Terra dos Altos Coqueiros, o qual leva o nome de Pernambuco: as mulheres de Tejucupapo. O conteúdo consiste em uma batalha entre as mulheres do município de Goiana, litoral do estado pernambucano, durante a invasão holandesa.
Em 1646, os holandeses já haviam perdido quase que totalmente os domínios nas terras do Estado e resolveram ocupar o distrito goianense – área tradicional do cultivo de mandioca. Os invasores, então, escolheram um dia de domingo para penetrarem, durante a ausência da maioria dos homens do vilarejo. Os poucos que permanecerem foram alvo de balas, enquanto as mulheres phttp://portal.idireto.com/wp-content/uploads/2016/11/img_85201463.jpgam a água para ferver, acrescentando pimenta em tachos. Escondidas em trincheiras, atacavam os holandeses com a mistura. O resultado da ação foi a expulsão e até mesmo a morte de alguns deles. “A batalha de Tejucupapo é um exemplo muito interessante de como mulheres usaram a pimenta como forma de defesa”, acrescentou Lody.
Serviço: Pimentas: histórias, cores, formas e sabores. Editora: Companhia Editora Nacional, 112 páginas. Por enquanto, as vendas estão sendo feitas online por meio da Amazon (www.amazon.com).