Percebi, nos debates envolvendo os candidatos à Presidência, não haver quase menção ao tema educação. No livro O mundo é uma escola, Cristovam Buarque narra episódio ocorrido em 2005 no qual o então presidente desceu no helicóptero em Toritama, interior do nosso Estado, e foi abraçar algumas crianças que o saudavam na chegada. A imagem foi capturada por um fotógrafo e publicada na Folha de São Paulo. Ao ver aquela foto, Buarque procurou as crianças, conheceu as famílias, foi até suas casas, visitou a escola onde estudavam e conversou com os professores.
Tivessem implantado um bom sistema educacional de qualidade em Toritama, naquela época, teríamos uma geração salva. Mas Buarque retornou lá na década seguinte e se deparou com o óbvio. Os meninos, já adolescentes, haviam abandonado a escola antes dos 15 anos. Nenhum terminou a quinta série. Nenhum aprendeu realmente a ler.
Estavam a costurar calças jeans pelas fábricas de Toritama. A menina, aos 16 anos, já tinha um filho. Toritama é o Brasil. O retrato da perpetuação da não ascensão social pela falta de universalização da educação de qualidade. Estamos em 2022 e concordamos: se não firmarmos um grande pacto pela educação de qualidade o bastão da pobreza passará de geração a geração. Sabemos disso. Mas por qual razão essa não é a pauta prioritária do País? O saudoso Eduardo Campos dizia, não sei exatamente se com essas palavras, que esse País somente poderá ser justo no dia em que o filho do pobre estudar na mesma sala de aula do filho do rico. A frase pode soar como demagógica, mas quem haverá de discordar? É assim na Finlândia, onde a distribuição da educação promoveu a distribuição de renda.
Apesar dos recentes pesadelos como o dos pastores evangélicos e suas barras de ouro, sonhei que firmávamos um grande pacto pela educação de qualidade para as próximas duas gerações. Adotávamos uma geração de brasileirinhos. O Ministério da Educação chamava-se Ministério do Futuro do Brasil. Os jovens, quando perguntados o que queriam ser no futuro, respondiam: professor! O salário desses profissionais era visto como investimento na formação das nossas crianças. Todos os professores da rede pública participavam de um amplo e denso programa de capacitação. Tecnologia de ponta em todas as escolas que eram necessariamente integrais, com esporte e atendimento médico e dentário.
Ao final do debate, lá no meu sonho, os candidatos fizeram um grande pacto. Independentemente de quem saísse vitorioso, situação e oposição se uniriam em torno da educação e o assunto passaria a ser tratado como questão suprapartidária a partir do próximo governo. Então, 20 anos depois, aqueles brasileirinhos que foram adotados, adotavam o Brasil.
É possível, candidatos! Falem algo a respeito. Pelo menos mintam sobre vossas intenções, ainda que com as falsas promessas de sempre. Mas silenciar, não, por favor! O silêncio é o prelúdio da morte. Esse silêncio sepulcral, candidatos, é desolador e corta feito faca a nossa carne de eleitor.