Medo de tomar decisões todos temos. Mas coragem vale a pena. Lembro daquela disputa de pênaltis nos jogos internos do Colégio Atual. O ano era 1990. Éramos 8ª série. Nem sei como chama isso hoje. Acho que é “nono ano”. Ninguém quis bater o último. “Deixa que eu bato”, gritei. A perna tremia. Mas fui lá e…
Se você acha essa decisão fácil é porque nunca jogou uma partida na quadra do colégio repleta de gente, estando ali todos os seus amigos, professores, paqueras, familiares e adversários. Aos 15 anos, meu universo era aquele. Minha decisão, portanto, era do tamanho do meu mundo. Talvez a mais importante por mim já tomada, até aquele momento.
Quantas bolas na marca do pênalti nos deparamos ao longo da vida? Ter outro filho. Abrir aquele negócio. Mudar de endereço. Convidá-la ou não para jantar. Fazer aquele mestrado em outro país. Entrar naquele avião. Terminar aquela sociedade. Parar de fumar. Fazer aquela cirurgia. Mudar de profissão. Morar sozinho.
A vida requer coragem. Se não tomarmos decisões importantes nessa vida, em qual vida tomaremos? Eu não tenho lá tanta certeza de que haverá outra chance. O importante é ser quem realmente somos. Ou você quer passar o resto da vida sendo quem as pessoas querem que você seja?
Puxa, acabo de me dar conta que este é um texto de autoajuda. Daqueles que são vendidos em livraria de aeroporto. Quem sabe não ganhe um dinheirinho com isso. Dizem que a literatura mais frutífera é essa. Mas a tentativa era falar sobre vida. Graciliano Ramos dizia que para escrever você tem que fazer igual às lavadeiras de Alagoas, que contorcem, esfregam e batem a roupa sobre a pedra, dezenas e dezenas de vezes, até atingir o ponto ideal. Aqui parece que contorci pouco, porque me sai um texto de autoajuda, ora bolas!
O intuito era falar sobre essa coisa que acontece entre o dia em que você nasce e o dia em que você morre. Felicidade era sobre o que tentava escrever. Mas lembrei que até para ser feliz é preciso tomar decisões. Para ser feliz é preciso ter coragem. Não conheço covarde feliz.
Abandonar tudo aquilo que te põe para baixo ou que te tira o sagrado sono. Livrar-se de tudo o que faz mal à saúde. Afastar-se de quem te arranca a autoestima. Mudar hábitos que te prejudicam. Largar coisas e pessoas que te diminuem. Tudo isso requer coragem. São bolas na marca do pênalti que precisam ser chutadas. Há decisão mais corajosa, por exemplo, do que resolver ter hábitos simples na vida? No mundo do consumo considero-a revolucionária. Daquela que pode nos libertar das armadilhas mundanas.
Lembro de conversa que tive com meu pai. Um médico bem-sucedido que recebeu o convite de um partido político para concorrer a cargo parlamentar. Pronto, a bola na marca do pênalti. O cabra aperreado para decidir. Abandonar uma carreira bem-sucedida para entrar para a política? Quantas pessoas já se depararam com situações análogas? Aparentemente, errou meu pai. Elegeu-se vereador e perdeu a clientela. Mais tarde, os mesmos “parceiros” que fizeram o convite fritaram o coitado. Assim é a política. Assim é a vida. Ora peixe-vivo, ora peixe-frito. Mas meu pai não se arrependeu nenhum dia da decisão que tomou. Seu sonho era a política. Sonho realizado.
Ah! A propósito daquele pênalti no colégio, meti a bola na trave. Ter coragem também é isso. Tomar decisões e errar. Mas, quer saber? Não me arrependo nem um segundo. Jamais me arrependerei da coragem que tive.
Ninho de Palavras
Bruno Moury Fernandes
Sobre coragem
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