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Antônio Vaz

A vez da Ilha de Antônio Vaz (por Francisco Cunha)

Era assim (Antônio Vaz) que se chamava a ilha que ficava a oeste da Vila do Arrecife dos Navios, depois do rio que desaguava no porto. Em 1630, data da invasão holandesa, a única construção de vulto da ilha era o Convento de Santo Antônio erguido em 1606. Quando Maurício de Nassau chegou em 1637 para comandar os invasores, logo encomendou um plano urbanístico para transformar a ilha na Cidade Maurícia (Mauritsstad) e nela fez construir palácios, fortes, praças, canais e moradias, unido-a por uma longa ponte (a atual Maurício de Nassau) à Vila do Arrecife (hoje Bairro do Recife). Depois da expulsão do holandeses, na ilha desenvolveram-se os bairros de Santo Antônio e São José e, posteriormente, com o aterramento dos braços de maré e canais que a separavam de outras ilhas menores, os bairros do Cabanga e de Joana Bezerra. Hoje, constitui uma unidade geográfica bem maior do que a original porque “termina” ao sul no chamado Braço Morto do Capibaribe (o antigo Rio dos Afogados), limitada ao norte pela bacia da Rua da Aurora (no encontro do Capibaribe com o Beberibe), a oeste pelo “braço vivo” do Capibaribe que corre ao longo da Rua da Aurora e, a leste, pelo Rio Capibaribe já encontrado com o Beberibe (antes de, naturalmente, juntos “formarem o Oceano Atlântico”). Esta unidade geográfica foi oportunamente renomeada de Ilha de Antônio Vaz pela Prefeitura do Recife quando elaborou o plano urbanístico para as áreas do Cabanga, Cais José Estelita e Cais de Santa Rita em 2015. Pois bem, é esta grande e histórica área da cidade que, hoje, está carecendo de uma atenção especial depois que foi vítima de um processo continuado de esvaziamento e degradação ao longo de décadas. É preciso que sejam articulados todos os esforços dos diversos agentes públicos, privados e do terceiro setor envolvidos direta e indiretamente com esta região. Foi por conta disso que diversas instituições, mobilizadas pela CDL Recife, empreenderam, a partir de 2016, o esforço de esboçar o Projeto Viver Recife Centro – Antônio Vaz, a Ilha de Todos os Tempos. Agora, depois de concluída a proposta de revisão do Plano Diretor, é chegada a hora de retomar o esforço de articulação porque, afinal de contas, nenhuma cidade pode se considerar ou pretender ser desenvolvida sem que o seu centro, no caso de quase 400 anos, seja desenvolvido e dinâmico também.

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Uma governança para a ilha de Antônio Vaz

Diversas instituições que vivem e pesquisam os bairros centrais do Recife propõem que seja instituída uma governança e uma gestão territorial para a chamada Ilha de Antônio Vaz, que abrange bairros de Santo Antônio, São José, Cabanga e Joana Bezerra. Também indicam a criação de um plano urbanístico para essa área. Organizações como a Câmara de Dirigentes Logistas (CDL), o Observatório do Recife, e o Conselho de Arquitetura e Urbanismo, que já tinham seus estudos e propostas de intervenção nesse território, trabalham em conjunto para atacar os problemas agudos do presente – que são mais ligados ao controle urbano – e para orientar o desenvolvimento da localidade, que, além de ser central, é estratégica do ponto de vista histórico. A Ilha de Antônio Vaz é o espaço onde convivem de forma não planejada patrimônios arquitetônicos de grande destaque da nossa história, comércio de rua, as habitações de baixíssima renda, grandes galpões, duas estações de metrô, faculdades, entre diversos outros usos, além de muitos prédios ociosos. De acordo com Paulo Monteiro, coordenador do Centro de Apoio ao Lojista do CDL Recife, no final de 2015 aconteceu o primeiro seminário Viver Recife com o intuito de discutir o desenvolvimento e a revitalização dessa região. “Nosso objetivo é debater os problemas e buscar alternativas para termos o Centro que precisamos, com a proposta de levar posteriormente essa experiência para outras áreas da cidade”, afirma. Depois do primeiro encontro, outros cinco workshops ocorreram, quando foram apresentados projetos de diversas organizações para a revitalização desses bairros históricos. Para embasar esse trabalho foi realizada também a pesquisa Cenário Atual do Centro do Recife. O estudo foi elaborado pelo Instituto Maurício de Nassau. Após todo esse trajeto de estudos e eventos, Monteiro afirma que as instituições chegaram a um produto final que foi apresentado ao prefeito do Recife, Geraldo Julio. “Defendemos que seja criada uma governança, com um conselho consultivo, uma gestão territorial, e que seja desenvolvido um planejamento urbanístico”. Ele lembra que foram tratadas também alternativas de captação de recursos para as intervenções na região. Em duas oportunidades, em reuniões promovidas na Amcham e no CDL, o prefeito se mostrou favorável à proposta. “Ele comprou essa ideia de se ter uma governança e um gestor para vivenciar 24 horas por dia a dinâmica do local”, diz o coordenador da CDL. O próximo passo será a organização de um evento de maior porte, onde serão apresentados todos os projetos já construídos. “Nossa ideia é que seja um fórum para alinhar e unificar diretrizes urbanísticas para que o planejamento seja feito de forma integrada e não como uma colcha de retalhos. A partir daí, apresentar uma sugestão com propostas finais ao poder público. Além da prefeitura, pretendemos apresentar também ao Ministério das Cidades”, explica Monteiro. ENCAMINHAMENTOS O secretário de Desenvolvimento Urbano do Recife, Antônio Alexandre, sinaliza que existem duas agendas nas discussões traçadas até hoje. A primeira é de curto prazo, para atacar problemas do cotidiano de quem trabalha, mora ou transita por esses bairros, como limpeza, iluminação e segurança. “Os lojistas sentem a necessidade de uma interlocução única, um canal com a responsabilidade de dar retornos de forma integrada. O prefeito acha justa a reivindicação e ficou de responder qual será o canal de interlocução”. Quanto à instalação de uma governança exclusiva para a área, Antônio Alexandre afirma tratar-se de uma medida a ser implantada no médio a longo prazo. “É preciso definir o modelo mais adequado para exercer a gestão dos territórios. Já temos a experiência de um escritório no Bairro do Recife, que articula ações ligadas ao turismo, esportes e lazer, entre outras áreas. É possível ter um escritório semelhante também na Ilha de Antônio Vaz”. O secretário, no entanto, sinaliza uma posição contrária a uma experiência de descentralização administrativa, a exemplo das subprefeituras. Entre as agendas discutidas para o bairro, ele indica medidas que considera prioridade. “É necessário o estímulo ao desenvolvimento das novas atividades econômicas que estão chegando a esses bairros e um maior cuidado com a qualidade dos espaços públicos, como praças e áreas de permanência. Também é prioritária a mobilidade, para garantir a circulação das pessoas, e o incentivo à habitação no Centro, onde existe a demanda por moradia e um estoque construído ocioso ainda grande”, aponta Alexandre. No estudo realizado pelas organizações que estão participando do movimento em prol de uma governança da região, foram identificados como vocações para a ilha a consolidação de um polo educacional e uma maior dinamização do Porto Digital. Foram mapeadas grandes oportunidades de desenvolvimento nas frentes d’água (áreas defronte dos rios) e a necessidade de investimentos em infraestrutura nas Zonas Especiais de Interesse Social. Um dos projetos de maior porte apresentados para a região é a transformação da Avenida Dantas Barreto em um boulevard, que projeta a abertura da avenida até o Cais José Estelita. Participam do movimento as seguintes organizações: Agência Recife para Inovação e Estratégia (Aries), UFPE, Observatório do Recife, Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU-PE), Faculdade Joaquim Nabuco, Sindilojas Recife, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), Prefeitura do Recife, CDL-Recife, Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, Instituto Pelópidas da Silveira, Parque do Capibaripe, Unicap, Inciti e INTG. (Por Rafael Dantas/Algomais)

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