Arquivos Cine São Luiz - Revista Algomais - A Revista De Pernambuco

Cine São Luiz

oas300624 fotovictorjuca vmj09925

Recife recebe primeiras exibições de “O Agente Secreto” 

Na última quarta (10), teve pré-estreia em Recife do premiado O Agente Secreto. Dois famosos cinemas de rua da cidade, o Cinema São Luiz e o Teatro do Parque exibiram o novo projeto de Kleber Mendonça Filho, com direito até a bloco de carnaval. Antes do início da sessão no São Luiz, o grupo Guerreiros do Passo frevou junto com a plateia. Se levaram frevo ao tapete vermelho do Festival de Cannes, em Recife não podia ser diferente.  “O Agente Secreto” transpira memória. Do plano fechado na manchete de jornal que anuncia a quantidade de homicídios na cidade aos relatos das personagens ameaçadas de morte, escondidas sob a proteção de um novo nome. Relatos de um passado que não se acanha em trazer à memória quem realmente são.   Na história, Wagner Moura encarna Marcelo, um misterioso professor universitário que viaja de Fusca de São Paulo a Recife no intuito de reencontrar o filho e conseguir documentos para fugir do país. O personagem transita por uma fase sombria do Brasil. O ano é 1977, pleno AI-5, período marcado por forte repressão e autoritarismo. A Ditadura Militar como pano de fundo imprime no ar um clima de desconfiança e medo. A narrativa é desenvolvida sem pressa, cena por cena sendo tecida como os intrincados padrões de um belo tapete persa, revelando aos poucos detalhes do passado do protagonista. O centro do Recife serve de cenário para a história. Locais como a praça do sebo, a Rua da Aurora, a Ponte Duarte Coelho e o Cinema São Luiz, este, cenário de grande importância para a história.  Paralelamente à trama principal, Kleber atiça o imaginário pernambucano ao revisitar uma das mais famosas lendas urbanas da região, a lenda da perna cabeluda, conhecida por tirar o sossego das pessoas nas noites recifenses. A perna ganhou tanto destaque que virou xodó da produção, a ponto de protagonizar uma ação de divulgação da produtora francesa MK2, que levou um molde para o Festival de Cannes.  Kleber costuma construir figuras complexas, difíceis de esquecer, como Lunga, o cangaceiro queer de “Bacurau” e a inesquecível Clara, interpretada de forma brilhante por Sônia Braga em “Aquarius”. Acertou outra vez em “O Agente Secreto”. Além de Marcelo, outros personagens se destacam como Dona Sebastiana, vivida pela atriz Tânia Maria. O bom trabalho da potiguar chamou a atenção da Revista Variety, que a incluiu na lista de possíveis indicadas ao Oscar, ao lado de nomes como Michelle Yeoh, Laura Dern e Emma Stone. Brasil outra vez no Oscar?  Após um ano de muita alegria para o Brasil no Oscar através do prêmio de Melhor Filme Internacional para “Ainda Estou Aqui”, a esperança ressurge, desta vez com “O Agente Secreto”. Em 2016, outro projeto de Kleber, “Aquarius”, também esteve entre os favoritos a representante do Brasil, porém foi preterido pela comissão responsável pela escolha, que indicou “Pequeno segredo”, de David Schurmann.   A jornada até a maior festa do cinema mundial no Dolby Theatre, em Los Angeles, é árdua e parte de uma boa presença nos festivais europeus. Em maio, “O Agente Secreto” foi aplaudido de pé por mais de 10 minutos em Cannes. Conquistou o prêmio de Melhor Diretor para Kleber, o de Melhor Ator para Wagner Moura, o Prêmio da Crítica de Melhor Filme e o Prix de Cinémas d'Art et Essai. Em agosto passado, no 29º Festival de Cine de Lima, ganhou a estatueta de Melhor Filme do Júri Oficial e de Melhor Filme pela crítica internacional. Outro desafio é chegar forte aos cinemas norte-americanos. A Neon, empresa americana de produção e distribuição, adquiriu os direitos do filme, o que é uma excelente notícia, considerando que a empresa foi responsável por lançar “Anora”, obra ganhadora do Oscar de Melhor Filme deste ano.  O escolhido do Brasil ao Oscar será anunciado pela Academia Brasileira de Cinema nesta segunda (15). “O Agente Secreto” disputa com outros cinco pré-selecionados, entre eles, “O Último Azul”, dirigido pelo pernambucano Gabriel Mascaro.  A estreia nos cinemas brasileiros está marcada para 6 de novembro. 

Recife recebe primeiras exibições de “O Agente Secreto”  Read More »

1º Sacoleja exibe o filme “Um Homem Sentado no Corredor”

Dando continuidade ao 1º Sacoleja  – Mostra Livre de Cinema Pernambucano, será exibido nesta terça-feira (19), no Cine São Luiz, o longa Um Homem Sentado no Corredor, do cineasta pernambucano Felipe André Silva. Com influências do mumblecore americano e tendo como referência cineastas do porte de Chantal Akerman e John Cassavetes, os filmes de Felipe André apresentam como característica uma pegada mais experimentalista. Seu trabalho mais conhecido, o longa Santa Monica, é um bom exemplo disso. Gravado totalmente com um celular, teve custo praticamente zero. Foi exibido no VIII Janela Internacional de Cinema e na 16ª Mostra do Filme Livre, no Rio de janeiro. Em entrevista à Revista Algomais, Felipe André Silva conta detalhes de seu último filme e fala sobre os desafios enfrentados por quem deseja trabalhar com cinema em Pernambuco. Revista Algomais - De que se trata "Um Homem Sentado no Corredor"? Felipe André Silva - Na gênese do processo eu queria falar sobre interpretação, focando na ideia de que o trabalho do ator é uma performance constante e que todos nós estamos vivendo algum nível dessa performatividade quando nos moldamos àquilo que o ambiente deseja, mas durante o processo ele se tornou também um filme sobre uma juventude algo perdida, desmotivada de certa forma, ainda que muito agarrada às suas certezas. Não chamo de retrato geracional porque não era minha intenção, mas fala um pouco de alguns jovens que estão por aí hoje, da minha geração sobretudo.   Qual mensagem deseja passar com o longa? Eu não me alinho muito a essa ideia de 'filme com mensagem', acho que os personagens são preexistentes ao próprio filme e as coisas que eles fazem e falam estão repletas de mensagens, caberia mais ao espectador filtrar aquilo que lhe pareça mais cabível. Como surgiu a ideia do filme? Eu assisti um experimento cênico chamado War Nam Nihadan e aquilo me encheu de curiosidade pelo universo do teatro, que havia abandonado a muitos anos. Comecei a dar forma a alguns diálogos e personagens que devolvessem em torno de uma companhia teatral mas notei que só aquilo não era o filme que eu buscava depois de fazer uma coisa tão experimental quanto Santa Monica. Nos meus arquivos encontrei essa história de dois adolescentes explorando a própria sexualidade e achei que havia um ponto em comum aí, o processo da descoberta, etc. Daí caminhou mais fácil.   Qual maior desafio enfrenta quem está começando a fazer cinema em Pernambuco? Talvez aprender a trilhar os caminhos da burocracia, se esse for o desejo. O Funcultura é um processo penoso, por vezes caro, e difícil para quem não tem experiência. Todos os meus filmes até agora forem feitos sem esse aporte, por questões relativas a essas. Eu não sou um cineasta de classe média que pode tirar dinheiro do bolso para fazer numa grande produção, então aprendi a fazer filmes que caibam na minha realidade. O importante é conhecer suas limitações, ainda que sempre lutando para expandir o limite delas, e se cercar de pessoas que acreditam nas suas ideias. Teu trabalho sofre influência de algum cineasta específico? Quando comecei a filmar eu era muito influenciado pelo mumblecore americano - e dentro desse, em especial o cinema de Joe Swanberg -, um movimento que fazia também filmes de baixo orçamento sobre jovens perdidos, sempre focados em diálogo, etc. Creio que o grosso da minha experiência estética vem daí, mas sempre existem as referências cinéfilas como Chantal Akerman, John Cassavetes, Valeska Grisebach, Straub-Huillet, Hong Sang-soo. Talvez não estejam presentes nos filmes, mas estão sempre acompanhando a gênese das ideias. Já planeja mais um filme? Dei uma pausa nas produções mas devo retornar em breve. A ideia é fazer um musical, não sei se conseguiremos, mas o desejo tá aí. Confira a programação completa do 1º Sacoleja.

1º Sacoleja exibe o filme “Um Homem Sentado no Corredor” Read More »