Arquivos Dengue - Página 2 De 2 - Revista Algomais - A Revista De Pernambuco

Dengue

Cresce evidência que muriçoca pode causar Zika

Além do Aedes aegypti, o Zika também pode ter outros vetores, como o mosquito Culex quinquefasciatus, conhecido popularmente como pernilongo ou muriçoca, sobre o qual crescem as evidências de que pode estar envolvido na emergência do vírus no País. O alerta foi feito por Constância Flávia Junqueira Ayres Lopes, pesquisadora do Instituto Aggeu Magalhães (IAM) da Fiocruz em Recife, Pernambuco, em uma mesa-redonda sobre “O mosquito, o vírus e o que temos para combatê-los”, durante a 68ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizado no início deste mês , no campus de Porto Seguro da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB). Em entrevista à Agência Fapesp, a pesquisafora disse haver sérias dúvidas se o Aedes aegypti é um vetor exclusivo do vírus Zika. “Em ambientes silvestres várias espécies de Aedes estão implicadas no processo de transmissão. Por que em ambientes urbanos somente uma espécie estaria envolvida?”, questionou. De acordo com a pesquisadora, o mosquito Aedes aegypti começou a ser incriminado como vetor do vírus Zika em 1947, quando foi encontrado em uma floresta com nome homônimo em Uganda, na África, por pesquisadores financiados pelo Instituto Rockefeller, dos Estados Unidos. Os pesquisadores estavam tentando isolar o vírus da febre amarela e, para isso, estudaram mosquitos de espécies de Aedes, velhos conhecidos como transmissores da doença. Ao analisar o material coletado, eles observaram que o vírus que isolaram era diferente e o batizaram de Zika em homenagem à floresta onde foi descoberto. Desde então, diversos outros isolamentos do vírus Zika foram feitos a partir de diferentes espécies de Aedes, como o Aedes africanus, contou a pesquisadora. Em 1966, quando houve a primeira emergência do vírus Zika, na Malásia, foram analisados inúmeros pools de mosquito no país asiático e identificado apenas um como Aedes aegypti. Já nas epidemias mais recentes do vírus Zika, como em 2007, na Micronésia, na região do Pacífico, quando cerca de 70% da população da ilha de Yap, com população de 7,3 mil pessoas, foi infectada, não foi encontrado nenhum pool de Aedes aegypti, afirmou a pesquisadora. “Na verdade, há pouquíssimos mosquitos Aedes aegypti na Micronésia. Há outras espécies de Aedes na região, mas o Aedes aegypti é muito raro na maioria das ilhas e completamente ausente nas ilhas onde houve uma grande ocorrência de casos de infecção pelo Zika vírus”, disse. Quando ocorreu a epidemia, Lopes entrou em contato com pesquisadores da região a fim de saber qual era a espécie de mosquito mais abundante por lá. A resposta dos pesquisadores foi o Culex quinquefasciatus, que não tinha sido investigado como um vetor do vírus Zika. “A questão é que todo mundo que estudou a circulação do vírus Zika antes só olhou para as espécies de Aedes. Como esses mosquitos já são conhecidos como vetores de dengue, chikungunya e febre amarela, por que não seriam também do Zika?”, explicou Lopes. No início da emergência do Zika no Brasil, a pesquisadora decidiu investigar se o Culex quinquefasciatus também poderia transmitir o vírus. O mosquito é 20% mais abundante do que o Aedes aegypti no ambiente urbano e é vetor de outros arbovírus (transmitidos essencialmente por artrópodes), como o do Oeste do Nilo e da encefalite japonesa, que são próximos do vírus Zika. Além disso, começou a chamar a atenção da comunidade científica e da Organização Mundial da Saúde (OMS), por meio de cartas publicadas em revistas como Lancet, sobre a urgência e a necessidade de se investigar outras espécies de mosquito que também podem ser vetores do vírus Zika, e não apenas o Aedes aegypti . “Até então, infelizmente, a comunidade científica e a OMS estavam focando só o Aedes aegypti e todo o combate ao vírus Zika foi voltado exclusivamente para essa espécie de mosquito, negligenciando uma série de outras, como o Culex quinquefasciatus”, afirmou Lopes. Os resultados dos ensaios realizados pelos pesquisadores, em que foram infectados, em laboratório, mosquitos Culex quinquefasciatus e Aedes aegypti com Zika para comparar suas capacidades de transmitir o vírus, indicaram que o desempenho das duas espécies é muito semelhante. Os pesquisadores conseguiram observar a presença do vírus Zika na glândula salivar dos mosquitos Culex quinquefasciatus e Aedes aegypti três dias após infectados. “Esse ciclo é menor do que o do vírus da dengue, que leva entre 10 a 15 dias para vencer as barreiras de resistência e chegar à glândula salivar dos mosquitos. O pico de surgimento do vírus Zika na glândula salivar dos insetos ocorre sete dias após serem infectados”, detalhou Lopes. A fim de verificar se o vírus Zika era capaz de sair da glândula salivar e ser encontrado na saliva dos mosquitos, os pesquisadores realizaram um teste em que exphttp://portal.idireto.com/wp-content/uploads/2016/11/img_85201463.jpgam os insetos a um papel filtro coberto com mel e um antibiótico. Ao se alimentar do mel, os mosquitos depositavam saliva no papel filtro, que era coletada e dela extraído o RNA. O resultado do ensaio, em vias de ser publicado, aponta que o Zika está presente e com carga semelhante na saliva dos mosquitos Culex quinquefasciatus e Aedes aegypti.“Como o Culex quinquefasciatus é mais abundante no ambiente urbano do que o Aedes aegypti, queremos saber agora qual tem maior importância no papel de transmissão do vírus Zika”, disse Lopes. Os resultados dos estudos realizados pelos pesquisadores da Fiocruz foram apresentados à OMS, que recomendou à Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) que outras espécies de mosquitos – principalmente o Culex quinquefasciatus – fossem investigados em regiões com casos registrados de infecção por vírus Zika no mundo. Mudança na forma de controle Na avaliação de Lopes, uma das implicações de ter outras espécies envolvidas na transmissão do vírus Zika, caso seja comprovado, é que mudará drasticamente a forma de controle da infecção, que hoje está focada exclusivamente no Aedes aegypti.Os hábitos do Aedes aegypti são bastante diferentes dos do Culex quinquefasciatus, ressaltou. Enquanto o Aedes aegypti pica durante o dia, o Culex quinquefasciatus pica durante a noite. Isso deve provocar uma mudança de hábito das pessoas – especialmente as grávidas – que estão tomando medidas de proteção contra a picada, como o

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Saneamento básico e o combate ao Aedes

A Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES) divulgou uma nota pública na qual alerta que o País só ganhará a guerra contra o mosquito Aedes aegypti com saneamento básico. A iniciativa da ABES busca concentrar esforços para conscientizar a sociedade de todo o Brasil de que somente por meio do saneamento básico será possível mudar o cenário epidemiológico de expansão de doenças cujos agentes são transmitidos pela falta de saneamento, como é exemplo do mosquito Aedes aegypti. O estado de alerta em que se encontra o País demonstra que persiste a necessidade de investimentos em saneamento básico para as cidades brasileiras. Segundo a ABES, em 2001, políticas públicas surgiram através de uma orientação da Organização Mundial da Saúde para a erradicação do Aedes aegypti. No entanto, essa opção não se tornou viável ao longo do tempo. Atualmente, a orientação nacional é para o controle do mosquito vetor. “Enquanto o poder público busca soluções para as demandas isoladas, o mosquito vai sobrevivendo. Sua característica biológica, que permite que os ovos permaneçam em ambiente seco por mais de 500 dias, permite a sua viabilidade após muitos meses, o que faz com ele possa ser transportado por via terrestre ou marítima ampliando sua distribuição geográfica”, afirma Dante Ragazzi Pauli, presidente nacional da ABES. No abastecimento de água, o pior problema para o combate à dengue, de acordo com a ABES, é o abastecimento irregular, como falta ou intermitência de água, porque leva a população a usar caixas d'água, potes e barris. E, sem tampas ou mal tampados, esses reservatórios são ideais para o mosquito Aedes aegypti procriar devido à água parada, limpa e em pouca quantidade. O mosquito só deposita seus ovos em recipientes de água potável e não potável, mas com pouco material em decomposição, por isso que esgotos também devem ser considerados. Nos resíduos sólidos, adverte a associação, o problema está na coleta irregular de resíduos, no acúmulo de resíduos como garrafas plásticas, embalagens, pneus e outros recipientes, nos quais a água da chuva se acumula. Isso ocorre tanto em imóveis como nas ruas e áreas de depósitos de lixo irregulares. “Não há sustentabilidade financeira e ambiental para que servidores da saúde, o exército ou outros agentes estejam a cada dez dias visitando todas as casas no País para removerem focos do mosquito”, ressalta o presidente da ABES. Ele explica que o controle com inseticidas é realizado apenas pelos órgãos de Vigilância em Saúde nos municípios, de acordo com orientações do Ministério da Saúde, quando houver casos confirmados de doentes. Isso porque o inseticida atua apenas na forma adulta do mosquito, e não é eficiente para ovos e pupas (fase intermediária entre a larva e vida adulta). Porém, muitas pessoas acreditam que a aplicação dos produtos é a solução do problema, o que tem levado ao seu uso indevido e a contaminação ambiental. A ABES considera também que o uso indiscriminado de larvicidas pelos agentes de saúde reforçam na população o sentimento de que apenas o uso de produto químico pode resolver o problema. “Esta concepção errônea reduz o comprometimento necessário pelo cuidado constante de prevenção nas casas pelo morador e dificulta a redução da infestação do mosquito”. Dante pontua que as ações de controle do mosquito envolvem tanto as políticas públicas de saúde como de saneamento. Mas os responsáveis por tais políticas, segundo o presidente da ABES, não têm uma ação integrada quanto a ação individual e comunitária. “Promover o saneamento é a melhor campanha sanitária contra essas doenças”, finaliza

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