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Simulador estima efeitos de medidas para enfrentar a Covid-19 em favelas

A partir de uma demanda do movimento Favelas contra o Coronavírus, iniciativa de coletivos de comunicação comunitária, pesquisadores brasileiros da área de Dinâmica de Sistemas desenvolveram um simulador para analisar o impacto de diferentes medidas na disponibilidade hospitalar e no número de vidas salvas em populações de baixa renda das favelas brasileiras, no contexto da pandemia do novo Coronavírus. O objetivo é contribuir com o debate público acerca do combate à pandemia. A ação, atrelada ao empreendedorismo social, é voluntária, orgânica e orientada por uma equipe multidisciplinar, que realizou desde o levantamento de dados até a modelagem e a construção do simulador, intitulado de "Favelas contra o Coronavírus". O time, coordenado por Igor Oliveira, pesquisador do grupo Dinâmica de Sistemas Brasil, conta com a participação de Ellen Aquino, mestranda no Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade (PPGCTS) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), e Vinícius Picanço Rodrigues, mestre e graduado em Engenharia de Produção, também pela Universidade, e atualmente professor de operações do Insper. De acordo com Aquino, o intuito da ferramenta é disseminar informações para dialogar com o poder público e contribuir com o debate sobre a disseminação e possíveis formas de enfrentamento da Covid-19 no País. "Em tempos desafiadores como o que vivemos, sabemos que pessoas de baixa renda que estão organizadas em comunidades ou favelas enfrentam uma maior volatilidade na renda, o que diminui a adoção de medidas preventivas à Covid-19 justamente por falta de recursos. Além disso, o acesso dessas pessoas aos serviços de saúde tende a ser menor do que a média", pontua Aquino. Segundo a pesquisadora, esses fatos levaram a equipe a enxergar a importância e a necessidade de levar em conta, nos modelos matemáticos e de simulação, elementos específicos da população de baixa renda. "Entendemos que a Ciência está a favor da sociedade, e assim, unimos esforços de pesquisadores para conseguir dimensionar esse cenário e traduzir as simulações gráficas em estratégias às favelas", relata. O simulador foi modelado com foco específico em sete dimensões: remoção temporária de moradores de favela para espaços públicos; remoção temporária de moradores de favela para hotelaria; subsídio a insumos de higiene; renda básica para compra de produtos de higiene; estruturas emergenciais de saneamento; expansão da disponibilidade de Unidade Terapia Intensiva (UTI); e uso de máscaras de proteção facial. "Por meio dessas dimensões, o usuário pode simular a quantidade de vidas que poderiam ser salvas e de leitos de UTI disponíveis - em cenários otimista e pessimista -, de acordo com os conjuntos de estratégias que podem ser adotadas, em maior ou menor grau", sintetiza Aquino. Para criar a ferramenta, os pesquisadores adaptaram o modelo epidemiológico Covid-19 da empresa americana Isee Systems. Também se apoiaram na modelagem da capacidade do Sistema Único de Saúde (SUS) do Rio de Janeiro, com dados disponibilizados pelo próprio SUS, e realizaram o estudo dos mecanismos causais envolvendo adensamento urbano excessivo e condições de higiene. A perspectiva é que o projeto se expanda com dados também de outras cidades, já que a ferramenta permite que qualquer usuário insira números de seu Estado ou município, para que assim tenha as informações sobre a sua realidade. Fazem parte da equipe Cláudia Viviane Viegas e Gisele Chaves, integrantes do grupo Dinâmica de Sistemas Brasil, e Rodrigo Bertamé Ribeiro, do movimento Favelas contra o Coronavírus. O simulador pode ser acessado em www.favelascontracorona.com.br.

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Pesquisadora afirma que déficit habitacional impede o isolamento vertical

José Tadeu Arantes  Agência FAPESP – No contexto da pandemia causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), o chamado “isolamento vertical” – que consiste em impor quarentena apenas aos grupos de risco (pessoas com mais de 60 anos e portadores de doenças crônicas, entre outros) e liberar o resto da população para circular livremente – tem sido contraindicado por autoridades de saúde do mundo todo. Em um país com alto percentual de pobreza e infraestrutura deficiente como o Brasil, essa suposta opção torna-se ainda mais inadequada, pois, nas faixas de baixa renda, é impossível separar os grupos de risco. “Idosos e portadores de doenças crônicas convivem com os outros membros da família e até com outras famílias, em espaços apertados, muitas vezes dormindo no mesmo quarto”, diz à Agência FAPESP a pesquisadora Marta Arretche, professora titular do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP) e diretora do Centro de Estudos da Metrópole (CEM), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) apoiados pela FAPESP. Adensamento excessivo (definido como o compartilhamento do mesmo dormitório por mais de três pessoas) e coabitação (compartilhamento da mesma moradia por mais de uma família) caracterizam parte de um déficit habitacional que inviabiliza qualquer proposta de “isolamento vertical”. Não existem dados atualizados, porque o último Censo Demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi feito em 2010. E o Censo 2020 teve que ser adiado para o ano que vem, exatamente em função da pandemia. Mas estudo da Fundação João Pinheiro, de Minas Gerais, produzido com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), oferece um cenário aproximado, com números de 2015. “Esse levantamento indicava que havia, naquele ano, um déficit absoluto de 6.356.000 habitações no Brasil. O adensamento excessivo respondia por 5,2% do déficit – ou seja, por 330.512 habitações. E a coabitação, por 29,9% do déficit – isto é, por 1.900.444 moradias”, informa o pesquisador Eduardo Marques, professor titular do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP), que integra o CEM. A situação é ainda mais grave nas favelas, que, segundo o Censo 2010, abrigavam naquela data cerca de 11,4 milhões de pessoas. Mas o que a Fundação João Pinheiro classificou como déficit habitacional não se restringe às favelas, nem necessariamente inclui todos os edifícios existentes nelas, alguns com melhores condições de habitabilidade. Há déficit também em bairros de baixa renda não favelados. E até mesmo em enclaves de população pobre em bairros de classes média ou alta. “Ao contrário do que se poderia supor, o maior déficit ocorre na região mais rica do Brasil: a Sudeste, onde a maioria dos números já detectados da doença se localiza. As regiões metropolitanas que lideram o ranking são as de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, com déficits aproximados de 640 mil, 340 mil e 159 mil unidades habitacionais, respectivamente. Realizar isolamento vertical nesse contexto é praticamente impossível”, afirma Marques.

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