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Musas, divas e heroínas em nova inspiração

O ilustrador e artista plástico pernambucano Quihoma Isaac lança sua primeira exposição individual dia 16 de agosto, a partir das 19h, no Centro Cultural dos Correios, em Recife. Intitulada Na trilha das musas, a exposição vai reunir 30 ilustrações de musas e heroínas de diferentes épocas retratadas em arte digital, aquarela e originais do artista, que ilustrou o livro Shesus, escrito pela atriz americana Hilary Shepard em 2013. Transcendendo o suporte dos filmes, discos e da TV, o artista traz suas heroínas para uma carreira “solo”, mostrando-as em nova escala de tamanho, cores intensas, brilhantes e vibrantes inspiradas na Pop Art, criando uma dialética entre o seu mundo ideal e o real. Entre as 30 musas nacionais e internacionais apresentadas na mostra, Carmem Miranda, Rita Lee, Madonna, Gretchen, Letícia Spiller, Claudia Raia e Bette Davis surgem plasmadas em aquarelas e artes digitais. Os traços do artista também revelam as divas como criaturas místicas, deusas pós-modernas que povoam o inconsciente coletivo que se personaliza no do artista e suas imagens. “Sempre fui bastante envolvido com elementos e personalidades das décadas passadas, principalmente dos anos 1980. Além do meu fascínio por coisas do passado, também amo o mar, sereias, criaturas místicas, tudo isso sempre envolto em cores fortes e com riqueza de detalhes que viraram minha marca. Já fui chamado de barroco por uma professora nos tempos da faculdade”, conta Quihoma. Outro entre os inesquecíveis mitos da exposição, Elke Maravilha foi duplamente homenageada pelo artista quando ele escolheu o dia 16 de agosto para o lançamento da mostra, data que marca um ano do seu falecimento. Na trilha das musas passeia pelo espaço intemporal do feminino, um convite para conhecer, revisitar e ressignificar pela arte libertária mulheres que marcaram a cena artística pela irreverência, talento, atitude e expressão. “A exposição quer levar o público que viveu a mesma época das musas representadas para uma viagem ao passado e despertar o sentimento de descoberta e curiosidade no público mais jovem que veio descobrir um pouco mais cada uma delas”, explica Quihoma, que tem apenas 28 anos mas desde os cinco já sabia que seus rabiscos eram treino para a arte que viria no futuro. De Pernambuco a Hollyood Quihoma Isaac graduou-se em artes plásticas pela Universidade Federal de Pernambuco em 2014 e trabalha atualmente como designer gráfico no instituto de inovação CESAR, em Recife. Foi com a técnica da aquarela que ele ilustrou o livro Shesus, escrito pela atriz americana Hilary Shepard, famosa no papel da vilã Divatox, no seriado Power Rangers Turbo. O livro tem prefácio da também atriz e ativista ambiental Daryl Hannah, outra musa incontestável do imaginário do artista retratada por ele há anos em dezenas de obras. Daryl interpretou personagens icônicos da década de 1980, como a replicante Pris de Blade Runner, o Caçador de Androides e a sereia de Splash – Uma Sereia em Minha Vida. A atriz Hilary Shepard escreveu Shesus a partir de sonhos recorrentes que mostravam um mundo fictício futurista nada promissor, mesma época que passou a enfrentar problemas de saúde em família. A oportunidade para ilustrar o livro da atriz veio depois que Quihoma conheceu Daryl Hannah em 2011, no SWU, festival de música e sustentabilidade realizado no interior de São Paulo. “Sou fã da Daryl desde os meus sete anos de idade. Fiquei fascinado por ela depois que assisti o filme Splash, em que ela fez o papel de uma sereia e contracenava com Tom Hanks. Quando eu soube que ela viria ao Brasil fiz de tudo para ir ao evento e tentar conhecê- la pessoalmente. Graças a ajuda de uma amiga, consegui ir a São Paulo e entregar vários desenhos que eu tinha feito dela ao longo dos anos, incluindo uma HQ em que ela é representada como uma heroína que luta pelo planeta. Daryl ficou tão emocionada e surpresa de ter uma pessoa no Brasil que gostasse e soubesse tanto sobre sua vida que fez questão de manter contato. Na ocasião, trocamos e-mails e endereços e depois disso foi um pulo para que a Hilary Shepard, sua melhor amiga, visse meu trabalho e fizesse o convite para eu ilustrar a segunda versão do seu livro Shesus. Foi uma experiência incrível participar de um projeto com as duas! A Hilary me deu toda liberdade para que eu colocasse meu estilo e criatividade em tudo, me passou breves descrições de cada personagem, as características físicas e me disse: “Fique a vontade!” Uma curiosidade interessante é que fiz tudo isso sem falar uma palavra de inglês (como ela mesmo mencionou nos créditos do livro). Todo o trabalho foi feito através de muitas trocas de e-mails, com a ajuda do Google Tradutor e de amigos”, relata Quihoma. Sem versão em português, Shesus foi lançado nos EUA em 2013. Atualmente o artista está produzindo novas ilustrações para livros e para um projeto de animação 2D. Conheça sua galeria virtual onde suas obras são comercializadas: www.quihoma.com SERVIÇO Exposição: Na trilha das musas Local: Centro Cultural dos Correios. Av. Marquês de Olinda, 262, Recife Antigo Vernissage: 16 de agosto, quarta-feira, das 19h às 22h Período da exposição: 16 de agosto a 20 de outubro Horários de visitação: das 11h às 17h, de terça a domingo Texto: Madalena Zaccara, profª. Drª da Universidade Federal de Pernambuco Apoio: Centro Cultural dos Correios, Estúdio 81, Delikata e Fab Lab Recife Site do artista: www.quihoma.com

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A voz que se alevantava (Por Marcelo Alcoforado)

Quando o Recife comemorou os 30 anos de existência do Salão dos Independentes, não se ouviu uma única voz, um sussurro sequer, a pronunciar o nome dele. Logo o nome dele, artista de méritos, um pintor, desenhista, ilustrador e, sobretudo, um escultor de especial talento. Estava configurada uma inominável injustiça, mesmo porque mais de que um artista, ele foi um defensor incansável da arte pernambucana. Já que se falou em injustiça, responda-se: o que é justiça? A resposta é relativamente simples: é o que está conforme o que é direito, o que é justo, incensurável. O reconhecimento do mérito de alguém faz, igualmente, parte do conceito de justiça. Então, pode-se dizer, sim, que justiça é a força moral de reconhecer o direito de cada um, vez que, somente através dela se alcançará a paz. Carlos de Hollanda, o injustiçado, ou para os que quiserem adocicar a verdade, o esquecido, organizou e participou do I Salão de Artes Independentes de Pernambuco, ocorrido em agosto de 1933. No Recife, era um tempo em que só se viam as ingentes dificuldades que dificultavam as atividades culturais, especialmente levar cultura ao povo. Os artistas ainda anônimos, muitos transbordantes de talento, existiam, como existem nos dias de hoje, mas se deparavam com obstáculos intransponíveis a vencer. Como mudar a ordem vigente, sem as armas do incentivo? Como tornar a arte um bem realmente acessível, tanto que estimule a sua produção? Ora, se desde as cavernas a arte se faz fundamental na vida das pessoas, por que não estimular esse fluxo? ─ ruminava Carlos de Hollanda, e a plenos pulmões deblaterava a falta de apoio e de oportunidades. Não se imagine, porém, que a vida de Carlos de Hollanda foi toda voltada para o exercício da política. Entre as batalhas, produziu quadros, desenhos, capas de livros e revistas, e duas esculturas. A primeira, um busto do maestro Carlos Gomes, em madeira de lei, com 65 centímetros de altura, que se encontra no teatro de Santa Isabel. A outra, por encomenda do governo pernambucano, representava a pujança da nossa indústria, foi exposta no Rio Grande do Sul, em evento sobre a revolução Farroupilha. Mesmo assim, a conduta de Carlos de Hollanda lhe traria dissabores. Quer ver um exemplo? A única vez que seus quadros mereceram uma visão de conjunto foi logo após ele haver morrido. Quer outro? De 1930 até hoje, não teve sua obra reunida para análise e reavaliação crítica!  Este outro é profundamente censurável: hoje em dia, apesar da importância de que se reveste, a sua obra não tem um lugar adequado para facilitar o acesso ao púbico. Vaga, vulnerável a danos, em casa de parentes e amigos, quando deveriam estar em mãos profissionais. Para a imprensa, Carlos de Hollanda era um talento insubmisso e quase louco. Para Aníbal Fernandes, no dia seguinte ao de sua morte, este Carlos de Hollanda, de quem os jormais noticiaram, ontem, a morte, era um artista que a cidade precisava conhecer para sentir o seu desaparecimento. Ainda sobre a morte do artista, comentou o teatrólogo Waldemar de Oliveira: morre com ele um dos muitos artistas que o Recife possui e o Recife mata. E refletindo o quanto Carlos de Hollanda houvera sido esquecido, disse, mais adiante, que o artista fora maisrado que anônimo: não passara das colunas amigas dos jornais e sua celebridade não foi além do Café Lafayette, uma antiga cafeteria existente na esquina da rua do Imperador com a Primeiro de Março. Carlos de Hollanda nasceu em 5 de maio de 1905, no Cabo de Santo Agostinho, conviveu com artistas do quilate de Percy Lau, Carlos Amorim, Bibiano Silva, Renato Silva, Augusto Rodrigues, Murilo Lagreca e Elezier Xavier, e morreu em 1938, aos 33 anos.

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