Esquecidas na proteção solar, pálpebras viram preocupação mundial pela incidência de câncer de pele
As pálpebras e, também, a região dos olhos viraram preocupação mundial pelo aumento da incidência de câncer de pele, que já chega a 10% nessas áreas frequentemente negligenciadas, segundo pesquisa da Universidade de Liverpool apresentada ano passado na conferência anual da Associação Britânica de Dermatologistas, no Reino Unido. O estudo constatou que, ao passar filtro solar no rosto, a tendência é esquecer cerca de 10% da face – incluindo pálpebras e região entre o canto interno do olho e o nariz. “Uma proteção solar adequada deve ser feita efetivamente com a cobertura de todo o rosto, além do uso de chapéus e principalmente óculos de sol, já que a área dos olhos tem uma pele extremamente fina e susceptível a danos, inclusive câncer”, explica a dermatologista Dra. Thais Pepe, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Academia Americana de Dermatologia. Aliás, a preocupação com a região tem crescido pelo mundo: a Associação Canadense de Dermatologia, por exemplo, anunciou, em junho, parceria com a Sociedade Canadense de Oftalmologia para criar um nível de proteção UV oferecido pelos óculos de sol, a fim de garantir fotoproteção adequada para a região. A pesquisa da Universidade de Liverpool foi feita com 57 participantes, do sexo masculino e feminino. Eles foram convidados a aplicar protetor solar no rosto sem mais informações ou instruções dadas pelos pesquisadores. Foram tiradas fotos de cada um dos participantes com uma câmera sensível ao UV antes e depois da aplicação de protetor solar; as áreas cobertas de protetor solar aparecem em preto devido à câmera UV. Essas imagens foram então segmentadas e analisadas por um programa personalizado para julgar o sucesso que cada pessoa estava em cobrir todo o seu rosto. A dermatologista afirma que, como a aplicação de protetor solar nestas áreas não é necessariamente prática, é importante usar outras formas de proteção, como óculos de sol. “Como a pele da região dos olhos é muito delicada, alguns filtros podem causar irritação; dessa forma, o paciente deve priorizar produtos oftalmologicamente testados, protegendo a área sem correr risco de reação”, afirma. "Mas o dado mais importante para tirar desta pesquisa é a importância de acessórios na proteção solar, como os óculos de sol, que não resguardam apenas os olhos e córneas; eles são importantes para proteger, também, a pele das pálpebras propensas a câncer", afirma. A cirurgiã plástica Dra Beatriz Lassance, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e da Isaps (International Society of Aesthetic Plastic Surgery), já atendeu casos de reconstrução de pálpebras por motivos de câncer e acrescenta: “O procedimento de retirada do tumor e reconstrução é muito delicado, por ser uma região que pode comprometer a funcionalidade das pálpebras e prejudicar a visão.” Recomendações para uso correto do fotoprotetor A Sociedade Brasileira de Dermatologia recomenda o uso de protetores solares de FPS mínimo de 30. “Em peles mais claras e em fotoexposição direta, o ideal é usar FPS 50”, explica a Dra. Thais Pepe. Além disso, os filtros solares devem atender a legislação brasileira de apresentar proteção UVA (PPD) de no mínimo 1/3 do valor de FPS. “A primeira aplicação do filtro deve ser feita com atenção e cuidado, pelo menos 15min antes da exposição, de preferência sem roupa, ou com a menor quantidade possível. É ideal aplicar em duas camadas cobrindo bem a superfície da pele, sendo que cada camada deve ser equivalente a uma colher de chá. O filtro deve ser realizado a cada duas horas ou após longos períodos de imersão.” Raios UVA, UVB e IR Os três principais promotores do envelhecimento precoce e que também favorecem o aparecimento do câncer de pele são os raios UVA, UVB e IR (Infravermelho A). A médica explica que UVA é o principal responsável pelo envelhecimento precoce (manchas e rugas), sendo um tipo de radiação que atravessa nuvens, vidro e epiderme, é indolor e penetra na pele em grande profundidade, até às células da derme — sendo o principal produtor de radicais livres. “Já a radiação ultravioleta B deixa a pele vermelha e queimada, danificando a epiderme e é mais abundante entre as 10 da manhã e 4 da tarde. Seu grau de proteção é medido pelo FPS e é uma radiação que pode furar o bloqueio dos filtros químicos e aumentar o risco de cancerização”, comenta. Por fim, o Infrared é sentido através do calor ou mormaço. “É uma radiação que acomete num comprimento de onda suficiente para atingir a derme mais profunda — a derme reticular — onde estão as fibras de ancoragem e sustentação da pele. E isso provoca um dano muito importante, com menor elasticidade, além de um maior potencial de cancerização”, completa. Fatores de risco A cirurgiã plástica Dra. Beatriz Lassance enfatiza alguns fatores de risco para o desenvolvimento do câncer na região: - Já ter tido câncer de pele: a chance de ter outro é maior; - Exposição prolongada ao sol: expor-se a sol forte sem proteção de filtros (no mínimo fator 30) e óculos de sol envelhece a pele e aumenta enormemente o risco de câncer no futuro; - Ter pele clara: O risco é bem maior entre pessoas brancas (loiras e ruivas) do que entre as negras ou afrodescendentes, o que não significa que negros não têm câncer de pele, só que é mais raro; - Homens: eles correm risco 2 vezes maior de ter carcinoma basocelular e 3 vezes maior de ter carcinoma espinocelular, provavelmente porque passam mais tempo ao ar livre; - Produtos químicos: Trabalhadores que lidam com arsênico (usado em alguns pesticidas), carvão, parafina, alcatrão e alguns óleos também correm risco maior de desenvolver câncer de pele; - Problemas de pele graves: cicatrizes crônicas de queimaduras, áreas da pele sobre infecções ósseas sérias e certas doenças da pele aumentam o risco de câncer não-melanoma, embora o risco seja pequeno; - Psoríase: Portadores da doença que tenham sido tratados com psoralen e radiação ultravioleta podem ter risco aumentado para câncer de pele não-melanoma; - Xeroderma pigmentoso: é uma doença genética rara. Os doentes, também