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Patrimônio Cultural

Caboclinho pode se tornar Patrimônio Cultural do Brasil

O Caboclinho pernambucano pode se tornar Patrimônio Cultura do Brasil. O pedido de registro como patrimônio e o resultado da pesquisa e documentação sobre essa manifestação cultural serão analisados pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, reunido em Brasília, na próxima quinta-feira ( dia 24). O pedido de Registro para o Caboclinho ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) foi apresentado pela Secretaria de Cultura do Estado de Pernambuco, com a anuência dos representantes e membros da comunidade desse bem cultural. A manifestação cultural dos grupos de Caboclos, ou Caboclinho – conhecida principalmente por suas atividades no Carnaval pernambucano – e datada desde o final do século 19, simboliza a memória do encontro cultural e da resistência sobretudo das populações indígenas e também dos povos africanos escravizados, que reverberam profundamente na história do Nordeste rural brasileiro. As estruturas dramáticas em sua performance artística, que reúnem elementos de dança e música, reelaboram narrativas de guerreiros e heróis, sendo capazes de conectar a vida cotidiana ao elemento mítico do caboclo brasileiro. A prática marcada por uma forte presença religiosa afro-indígena-brasileiras está ancorada principalmente no culto à Jurema, com entidades espirituais denominadas Caboclos. Os instrumentos musicais são outra singularidade da expressão cultural, sendo o Caracaxá e a Preaca, por exemplo, exclusivos dos Caboclinhos. A geografia do Caboclinho compreende uma área que vai de Pernambuco ao Rio Grande do Norte. A ocorrência dos Caboclinhos se estende pelos estados de Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, ficando como referência para proposta de Registro a Região Metropolitana de Recife e a Zona da Mata Norte de Pernambuco. Como entre tantas expressões da cultura popular, a transmissão de saberes no Caboclinho está atrelada à observação e à prática, orientada pela transmissão oral de conhecimentos dos mais antigos na manifestação para os mais jovens. A performance dos caboclinhos ocorre geralmente nas ruas com indumentária específica e sendo composta por dança e música características e singulares e, em alguns grupos, um recitativo ou drama, podendo essa estrutura variar a partir do tipo de apresentação – no desfile carnavalesco, nos ensaios, ou nos palcos e apresentações públicas. A dança, cujo movimento básico se denomina "manobra", é executada pelos participantes, que se apresentam, geralmente, em duas filas, cada um deles portando uma preaca (adereço/instrumento musical, em forma de arco e flecha), também denominado brecha ou flecha. A música apresenta uma sonoridade singular, tanto pelos instrumentos empregados – alguns exclusivos do Caboclinho – quanto pelos aspectos musicais (ritmos, melodias etc), propriamente ditos. A indumentária e os adereços dos caboclinhos são emplumados e ornamentados com muito brilho. O aspecto religioso dos Caboclinhos está muito vinculado aos fundamentos do culto da Jurema, e sua identidade associada às entidades espirituais dos "caboclos". Para a Superintendente do Iphan em Pernambuco, Renata Duarte Borba, os grupos de Caboclinhos integram um importante conjunto de formas de expressão características da Zona da Mata de Pernambuco, juntamente com o Frevo, o Maracatu Nação, o Maracatu de Baque Solto e o Cavalo-Marinho – estes já registrados como Patrimônio Cultural do Brasil. Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural O Conselho que avalia os processos de tombamento e registro é formado por especialistas de diversas áreas, como cultura, turismo, arquitetura e arqueologia. Ao todo, são 23 conselheiros, que representam o Instituto dos Arquitetos do Brasil – IAB, o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios - Icomos, a Sociedade de Arqueologia Brasileira – SAB, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama, o Ministério da Educação, o Ministério das Cidades, o Ministério do Turismo, o Instituto Brasileiro dos Museus – Ibram, a Associação Brasileira de Antropologia – ABA, e mais 13 representantes da sociedade civil, com especial conhecimento nos campos de atuação do Iphan.

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O que falta ser tombado

O governador Paulo Câmara empossou, em data de 29 de dezembro último, o novo Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural, além de lançar o Prêmio Ayrton de Almeida Carvalho de Preservação do Patrimônio Cultural de Pernambuco e o Prêmio Ariano Suassuna de Cultura e Dramaturgia. Composto por 14 membros, sendo sete representantes da sociedade civil e sete designados pelo Governo, o colegiado tem entre suas atribuições a missão de deliberar sobre tombamentos de patrimônios, eleição para novos patrimônios vivos, além de outros assuntos relacionados à política de preservação cultural. Diante da existência de um novo conselho, começo por voltar a arruar pelas ruas, becos, ladeiras, praias, pontes e avenidas do Recife e de Olinda, e vejo, em cada passo, elementos originários dos séculos 17 e 18, tão presentes neste início de século 21, apesar da degradação levada pelo abandono e pelo descaso de que foram vítimas. Aqui e ali uma paisagem, um recanto de praça, uma rua deserta ou mesmo um prédio isolado, são marcos de um passado a necessitar do amparo do competente tombamento por parte desse Conselho, com base Lei Estadual nº 7970, de 18 de setembro de 1970, regulamentada pelo Decreto nº 6239, de 11 de janeiro de 1980. No âmbito da preservação da paisagem, eu chamaria a atenção para o panorama da calha do Rio Capibaribe, em sua extensão que vai da BR-101 até a sua foz no Bairro do Recife, que, dia a dia, vem sendo ameaçada por causa da necessidade do disciplinamento de suas margens, merecendo assim um estudo por parte desse conselho visitando sua preservação. No âmbito do patrimônio construído, surge como primeiro conjunto necessitado de urgente preservação o Cemitério do Senhor Bom Jesus da Redenção de Santo Amaro das Salinas, projetado pelo engenheiro José Mamede Alves Ferreira, no governo de Francisco do Rego Barros (futuro Conde da Boa Vista) e inaugurado em 1º de março de 1851. Possui arquitetura radial com os túmulos distribuídos ao longo de ruas que convergem para um ponto central, onde está localizada a capela (1853), o nosso primeiro templo religioso em estilo gótico, disposta no formato de cruz grega, fechada por uma só abóbada, tendo ao centro um grande crucificado de origem francesa fundido em ferro. Seguem-se no rol das propostas o tombamento das sedes dos sítios urbanos do século 18, ainda presentes em nossa paisagem como os Sítios e Capelas de João de Barros, do Senhor Bom Jesus dos Aflitos, do Manguinhos, a qualquer momento passíveis de uma incorporação imobiliária. Outros espaços urbanos, como a Praça Maciel Pinheiro, com seu casario e fonte de mármore, esculpida em Lisboa pelo artista Antônio Moreira Ratto, em 1875, hoje ameaçado pelo abandono e degradação que vem sofrendo, e o Pátio da Fundição Capunga, com todo o casario do seu entorno, localizado na Avenida Joaquim Nabuco no mesmo bairro. A praça central da cidade, a Praça da Independência, popularmente conhecida como Pracinha do Diario, é outro objeto de nossa proposta por nela estar situado o primitivo prédio do Diario de Pernambuco, cuja redação nele funcionou até o ano de 2005. Fundado em 7 de novembro de 1825, por Antonino José de Miranda Falcão, o Diario é em nossos dias o mais antigo jornal da América Latina e o decano da imprensa diária em língua portuguesa. A nossa lista sugere também o tombamento dos jardins públicos criados no Recife de forma pioneira pelo paisagista Roberto Burle Marx, ao tempo que dirigia a Diretoria de Parques e Jardins do Recife (1934-1937), notadamente a Praça de Casa Forte (1934), Praça Euclides da Cunha no Benfica (1935), a Praça Farias Neves Sobrinho e todo Horto de Dois Irmãos, a Praça Dezessete, o Parque Treze de Maio, a Praça do Derby e outros que se seguiram como a Praça Salgado Filho (Aeroporto). Não poderiam ser esquecidos, nesta relação, os conjuntos arquitetônicos que se tornaram marcantes na vida do Recife que hoje sobrevivem pelo simples acaso, não pairando sobre eles qualquer diploma específico de preservação, como é o caso do casario característico da Rua Benfica, de Apipucos, do Poço da Panela, de Ponte D’Uchoa (com antiga estação dos trens da maxambomba), das casas contíguas ao Museu da Abolição, os gradis de ferro das casas existentes ao longo das avenidas Dois Irmãos, Dezessete de Agosto, Parnamirim e Rui Barbosa; os exemplares da arquitetura eclética do século 19 e início do século 20 presentes nas ruas da Imperatriz Tereza Cristina, Nova e Imperador D. Pedro II, no Pátio do Livramento, Pátio do Terço e nas ruas do bairro de São José. Na Rua das Flores, exatamente esquina com a Avenida Dantas Barreto, encontra-se clamando por tombamento o notável mural do artista Francisco Brennand, com 32 m de comprimento, iniciado em 24 de agosto de 1961 e concluído em 24 de abril de 1962, alusivo às duas Batalhas dos Montes Guararapes (1648 e 1649), com versos escritos pelos poetas César Leal e Ariano Suassuna. Um destaque especial para os velhos solares pernambucanos, tão importantes como as antigas vivendas do Barão Rodrigues Mendes (Academia de Letras) e Barão de Beberibe (Museu do Estado), estes tombados nacionalmente, mas outros encontram-se à espera da iniciativa do novo colegiado, como o Solar da Família Baptista da Silva, o Colégio Damas, o Colégio Agnes, o Palácio do Arcebispado, o Solar dos Tavares da Silva e o Solar dos Amorins. Como se não bastasse os exemplos aqui citados, restam ainda os templos construídos no século XVIII, verdadeiras joias da nossa arquitetura religiosa, todos desprovidos de proteção, a exemplo das igrejas de Nossa Senhora do Livramento, Santa Rita de Cássia, Rosário dos Pretos da Boa Vista, Nossa Senhora da Saúde do Poço da Panela, Nossa Senhora da Boa Viagem, da matriz da Várzea, da Moita do Engenho da Torre merecendo a atenção do novo conselho de preservação, visando o seu urgente tombamento. São todos eles testemunhas de um patrimônio construído e hoje ameaçado, para usar a imagem do poeta Ascenso Ferreira, pelas “panzer divisões de prédios-cimento-armado” que “estão tomando de assalto nossa Recife colonial...”

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