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Revolução Pernambucana

Exposição sobre a Revolução Pernambucana fica em cartaz até terça-feira (6), no Museu da Cidade do Recife

No feriado da Data Magna, recém-instituído no estado para celebrar o primeiro movimento pela independência do Brasil, o Museu da Cidade do Recife, equipamento gerido pela Prefeitura do Recife, por meio da Secretaria de Cultura e Fundação de Cultura Cidade do Recife, é uma parada necessária para quem quiser conhecer um pouco melhor a história de Pernambuco e do Brasil. Em seus últimos dias de atividades, a exposição 1817 – Revolução Pernambucana relembra fatos e personagens importantes dessa história, a partir da exibição de vídeos, fotos e objetos antigos. A exposição é gratuita. Os recifenses terão a última oportunidades de conferir a programação, montada em parceria com o Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco (IAHGP), nesta terça (6), das 9h às 17h. A entrada é gratuita. O acervo está dividido em cinco eixos. Abrindo a visitação, a sala "Revoluções" mostra, através de textos e imagens históricas, o cenário que fez ebulir os ideais revolucionários. O ponto de partida é uma projeção com os nomes dos 150 homens presos no Forte de São Tiago das Cinco Pontas. A pesquisa aborda os ideais que moveram as revoluções em vários cantos do mundo, como a Revolução Francesa, a independência dos Estados Unidos e outras ações libertárias na América. No segundo eixo, o visitante faz um passeio ao Recife do início do século XIX, então chamado de Vila de Santo Antonio do Recife de Pernambuco. Os desenhos do pintor e desenhista francês Jean-Baptiste Debret e do viajante e escritor francês Louis-François de Tollenare foram utilizados na construção de vídeos para mostrar ao visitante o cotidiano de uma vila no período da revolução. O terceiro eixo, chamado "Dezessete", é dedicado à Revolução. Estão expostos documentos e objetos históricos pertencentes ao IAHGP, entre eles a espada do Leão Coroado e a primeira prensa que chegou ao Recife, na primeira metade do século XIX. A exposição exibe também fac-símiles do Preciso (documento para nortear a ação do governo) e o manuscrito da Lei Orgânica escrita durante a República implantada no Pernambuco da época. Em seguida, no quarto eixo, doze vídeos com depoimentos de historiadores mostram os lugares onde a revolução se fez presente de forma mais próxima. Entre esses endereços, está o próprio Forte das Cinco Pontas. Dedicada às bandeiras, o quinto e último eixo é interativo. Além de estarem expostas a bandeira da Revolução Pernambucana e outras que inspiraram o movimento, o visitante é convidado a confeccionar sua própria bandeira, com cartolina e lápis de cor. Serviço Exposição "1817 - Revolução Republicana" Data: Sábado (3), domingo (4) e terça (6), das 9h às 17h Local: Museu da Cidade do Recife - Forte das Cinco Pontas, São José Entrada gratuita Informações: 3355-9540

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Federação que poderia ter sido (1817-1824)

O Brasil poderia ter sido uma original e autêntica federação. A Revolução Pernambucana (1817), com seu ato final sequenciado na Confederação do Equador (1824), antagonizou o contraponto federalista durante o processo de emancipação do Brasil de Portugal (1822). A radicalização política inviabilizou o pacto constitucional federal ou qualquer outro. Dissolvida a Constituinte (1823), o Estado brasileiro foi fundado goela à baixo (1824), outorgado, centralizado, endividado e regionalmente fraturado. O projeto federalista perdeu na marra, e há dois séculos nos tem sido vendida a poderosa narrativa dos vencedores: o Brasil só é o que é, do tamanho que é, exuberante como é, com a mesma língua, e sendo o país do futuro que sempre foi, porque sua unidade foi conquistada, com mão firme, pelos pais fundadores da pátria; convinha massacrar e apagar a memória dos movimentos separatistas que, a exemplo das ex-colônias da América espanhola, teriam provocado a divisão do território brasileiro entre diversas repúblicas caudilhistas. Essa orgulhosa versão patriótica pegou, mas, em pleno bicentenário da Revolução Pernambucana, e às vésperas do bicentenário da Independência do Brasil, já passou da hora de revisitar, repensar e recontar essa história: havia um projeto federalista alternativo. Era “a outra Independência”, na distanciada visão do imortal Evaldo Cabral de Mello; conduzida pelos “bispos sem papa”, no engajado proselitismo luso-brasileiro de José Bonifácio de Andrada e Silva. O Brasil poderia ter sido uma monarquia constitucional federal, integrada pela união das províncias regionais autônomas do nascente território brasileiro, com maior equilíbrio na divisão político-econômica entre o eixo central da Corte e os demais eixos regionais periféricos. O processo político, liderado por D. Pedro I e José Bonifácio, enveredou para a radicalização: separatista e republicana, nas províncias do “Norte”, lideradas por Pernambuco; centralizadora e autoritária, no eixo central hegemônico da Corte imperial; a alinhada elite política do eixo Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais sagrou-se vencedora. O fato de um legítimo projeto federalista ter sido vencido no nascimento do Estado brasileiro explica muito das nossas marcas. Em arriscada síntese de dois séculos: Pernambuco perdeu Alagoas e o Oeste Baiano, enredando-se numa longa decadência refletida na sua participação relativa nas atuais estatísticas nacionais; o Norte e o Nordeste brasileiro também ficaram bem atrás do centro político-econômico; e o Brasil conseguiu, com instituições políticas já esgarçadas, tornar-se república e federação apenas no papel (desde 1891), fracassando no projeto de criar um imenso mercado comum nacional, integrado em um território de dimensão e diversidade continental, com equilíbrio espacial e pessoal da sua riqueza. Nosso DNA político, os objetivos nacionais mal resolvidos e as escolhas postas ao Estado brasileiro durante sua história ganhariam considerável senso de clareza cívica se os eventos ocorridos entre 1817-1824 fossem popularizados em uma linguagem atual. Como o mineiro Tiradentes e o português-carioca Dom Pedro I, Frei Caneca também merece uma minissérie global. Não faltariam drama e comparação com nosso quadro político contemporâneo. Não apenas bandeira e a tradição libertária pernambucanas nos foram legados entre 1817-1824. Entre a espada desembainhada do Leão Coroado e a execução de Frei Caneca, um genuíno sentimento federalista emergiu e foi asfixiado. Contra a centralização autoritária e populista, a irresponsabilidade fiscal da Corte sediada no Rio de Janeiro e o desequilíbrio regional na divisão política e econômica do Brasil. Nosso destino no século 21 dependerá muito do sucesso dessa retomada da consciência federalista perdida. Já perdemos duas décadas.

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