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Sexo

O poder da mulher que goza

*Por Beatriz Braga Somos viciados em sexo. Não apenas porque a indústria pornográfica movimenta muito dinheiro, mas porque o sexo está no epicentro das nossas vidas. Sexo vende moda, produtos, arte e nos define, em muitos momentos, enquanto indivíduos. Para um mundo tão obcecado pelo tema, somos bem ignorantes quando o assunto é o prazer feminino. Existe, por um lado, séculos de pesquisa científica dominada por homens. A noção de sexualidade que temos foi definida pela visão masculina do prazer e do sexo. Não é à toa que o clitóris ainda é muito ignorado e mal interpretado. O pai da psicanálise, Freud, por exemplo, foi um dos mais ferrenhos inimigos dessa exclusividade feminina. Por outro, a religião faz da sexualidade algo perverso que deve ser regrado. Através dela, aprendemos como, quando e com quais pessoas podemos dividir nossos desejos. O nome é um tabu, seu formato é misterioso, o cheiro é um problema e ao longo da história da humanidade “satisfazer uma mulher” é tido como algo tão difícil quanto correr uma maratona. Perseguida, piu-piu, xereca, procurada, dita-cuja, bacalhau, engole-espada, casa do caralho e siririca. A linguagem não mente. O que a mulher tem no meio das pernas ora é um asco, ora é um acessório, ora é um objeto não voador não identificado. No meio desse imbróglio de desconhecimento e culpa, vem Flaira Ferro. A artista pernambucana acaba de lançar o clipe divertido e importante “Coisa mais bonita”. A “coisa” é a famigerada masturbação feminina, cantada por Flaira de maneira desmistificada. “Não tem coisa mais bonita, nem coisa mais poderosa do que uma mulher que brilha, do que uma mulher que goza”, diz a música. O clipe é uma afronta. Primeiro, à visão patriarcal do corpo feminino, que deve ser discreto e misterioso. Sempre o “outro”, nunca o sujeito. Segundo, à educação galgada no “fecha a perna, menina”, que transforma a vulva em uma parte a ser silenciada. No vídeo, oito mulheres corajosas o suficiente para se expor em um mundo tão careta são filmadas no ato da masturbação (detalhe importante: nada foi fingido). Elas fazem um chamado ao autoconhecimento e, culminam, em sintonia, no orgasmo. O vídeo já passa de 120 mil visualizações no Youtube, chegou a ser retirado da plataforma por algumas horas e recebeu uma variedade críticas positivas e negativas. Enquanto o homem passa a vida brincando com o pênis, a mulher é ensinada a ter vergonha. Esse é um aspecto tão forte da nossa cultura que a labioplastia (cirurgia plástica da vagina) virou tendência nas mulheres que não gostam do aspecto de suas vulvas. O Brasil é o líder mundial no número de procedimentos do tipo, cujo visual mais procurado pelas pacientes é um clichê: batizado de “Barbie”, o objetivo é que os grandes lábios pareçam ao de uma boneca. Sexo trata-se de diversão para o homem; para a mulher, tantas vezes, significa dor. A sociedade não apenas nos priva do autoconhecimento, como também nos divide em duas categorias: a “feita pra casar” e a puta. A mulher que tem desejos, que fala sobre eles e que vai atrás deles é sempre a vadia. A que finge não tê-los é a mulher-modelo. A prostituição abraça essa mentalidade quando o homem recorre à profissional do sexo para não “manchar” a mulher “de respeito” com seus desejos. Isso é tão forte que, mesmo dentro da segurança - ou do que deveria ser - de um relacionamento, as mulheres ainda sofrem com o sexo. A psicóloga Sara McClelland, da Universidade de Michigan, descobriu que, ao questionar mulheres sobre suas vidas sexuais, elas mediam seus níveis de satisfação pelo fato do homem ter sido satisfeito ou não no ato. Quando perguntado aos homens, a grande maioria das respostas girava em torno de seu próprio gozo. Em A mulher de 30 anos, do escritor Balzac, a personagem Júlia definiu casamento como uma “prostituição legal”. Vez ou outra lembro dela, ao escutar histórias sobre o quanto sexo pode ser ruim para uma mulher, não importa o estado civil. Uma mulher dona da sua libido é uma ameaça ao patriarcado. Ela não depende do homem para sentir prazer e sabe que, ali embaixo, tem uma poderosa fonte de criatividade, impulso e vitalidade. Flaira canta o seu recado à parcela masculina que não quiser ficar para trás: “homem de verdade enxerga a beleza na mulher que é dona do próprio tesão”. De todas as histórias do Monólogos da Vagina, de Eve Ensler, lembro-me sempre da mulher de 72 anos que, quando finalmente encontrou seu clitóris, chorou. Não é à toa: ele tem 8 mil fibras nervosas, o dobro do pênis e é único órgão humano feito apenas para dar prazer. “Quem precisa de pistola quando se tem uma semiautomática?”, pergunta Natalie Angier em "Woman: an intimate geography". Nós encaramos o sexo como mais importante para o homem do que para mulher. A verdade é que é apenas mais fácil para eles reivindicarem isso. Para nós, somos sempre muito jovens, muito velhas, muito comprometidas, muito solteiras. Sempre muito, muito ou muito.  Está aí a importância desse clipe, de Flaira e dessas outras mulheres emponderadas que transformam o proibido na coisa mais bonita. A revolução será feminina e ela vai ser - tal como essa música - poética, forte, irreverente, irresistível e enérgica. E a melhor parte:  será irreversível. Confira o clipe da pernambucana Flaira Ferro que aborda o tabu do orgasmo feminino: Animação que explica o clitóris

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Sexo não é só para jovens

Quando o cineasta Cacá Diegues lançou o filme Chuvas de Verão, em 1978, causou grande espanto no público. O motivo? A cena de dois personagens na terceira idade tendo relações sexuais. De lá para cá o País mudou, mas muita gente ainda se espanta ao saber que existem idosos com vida sexual ativa. A sexualidade depois dos 65 anos ainda é envolta por mitos e preconceitos. “Tanto a educação repressora quanto a religião propagaram a ideia de que o sexo é algo errado e deve ser feito para fins da procriação, não por prazer. Por isso a sociedade acha que a mulher na menopausa não deva mais ter desejo”, analisa a sexóloga Silvana Melo. A ideia de que o sexo esteja presente na vida de pessoas de idade ainda é vista por muitos como um desvio. Até própria família encara a situação com certo constrangimento. “Filhos de pais idosos, muitas vezes, veem os pais como se eles não tivessem sexualidade. A sociedade ainda vê com ressalvas e um certo quê de perversão. Mas isso está mudando”, constata o geriatra do Hospital Jayme da Fonte Daniel Kitner. E não é para menos. Afinal, a expectativa de vida do brasileiro aumentou e a imagem do idoso mudou. Basta reparar nos avós de hoje em dia: em nada se parecem com as velhinhas que faziam tricô na cadeira de balanço ou com os senhorezinhos aposentados e de pijama. Quem tem 70 anos hoje pode ter sido o jovem contestador de 1968 que viveu a revolução sexual. Em 15 anos de consultório geriátrico, Kitner percebe um pouco mais de facilidade para falar de sexualidade os pacientes. Segundo o especialista, a disposição para o sexo nessa faixa etária é influenciada não só por questões físicas, mas também pela cultura e vivência sexual pregressa. “Por isso ela é variável. Idosos envelhecem de forma diferente e a percepção de como se envelhece também varia de pessoa para pessoa.” Assim, se um indivíduo tem uma visão mais aberta sobre o sexo e levou um vida sexual sem muitas repressões pode ter uma sexualidade ativa na terceira idade. O oposto também acontece. “Tenho pacientes de 70 anos que acham que sexo é coisa do passado e não faz falta”, exemplifica o geriatra. Como se vê não há um padrão rígido a ser seguido. Porém, há muita mitos que precisam ser esclarecidos. O primeiro deles é a crença de que a queda do nível de hormônios proveniente da idade interfere no desejo. Não é bem assim. O homem perde por ano 1% da produção de testosterona – responsável entre outras coisas pela libido - a partir dos 50 anos. “Isso significa que chegará aos 80 com 70% desse hormônio, ou seja, ainda está ativo sexualmente”, explica o urologista Misael Wanderley Júnior. Também não existe a tal “andropausa”. Apenas 10% da população masculina apresenta déficit de testosterona, conhecido como DAEM (déficit androgênico do envelhecimento masculino) tratado com reposição hormonal. “O Viagra nesse caso não é recomendável porque ele não estimula a libido, mas é indicado para a disfunção erétil”, diferencia Misael. Também chamada de impotência, a incapacidade do homem alcançar a ereção suficiente para a consumação do ato sexual pode ou não ocorrer com o passar dos anos. “Alguma doenças podem influenciar" , acrescenta o urologista. Motivos de ordem emocional também interferirem na potência masculina. “O homem recebe a educação para ser sempre viril, mas ele precisa entender que não terá sempre o vigor físico da juventude. Muitos demoram mais tempo para ter ereção. É uma questão de adaptação”, tranquiliza Silvana. MULHERES Quanto às mulheres, é bom esclarecer que a menopausa é a última menstruação. Antes dela vem o climatério, quando podem surgir sintomas como fogachos (sensação de calor), secura vaginal (que pode causar dor na penetração), perda de libido e até depressão. O grande vilão é a queda no nível de estrógeno, hormônio produzido pelo ovário. Ao contrário dos homens, a perda hormonal ocorre de forma abrupta por volta dos 50 anos. “Todas as mulheres passam pela menopausa, mas nem todas sofrerão os sintomas e sim 70% delas, que duram um período de 3 a 6 meses. Há quem sinta durante 2 anos e outras podem perdurar a vida toda”, informa o endocrinologista Ney Cavalcanti. Desde que estudos comprovaram que reposição hormonal eleva o risco de enfarte, recomenda-se a terapia apenas para as mulheres com sintomas intensos do climatério. Mas durante um curto período, desde que não haja contraindicação (problemas cardiológicos, diabetes, câncer na família). Nem tudo são más notícias para a ala feminina. Cavalcanti salienta ser mais importante como estímulo sexual os hormônios masculinos, os andrógenos, também produzidos pela mulher. “São secretados principalmente pelas glândulas adrenais que não se alteram com a menopausa. O resultado, é nessa fase da vida existem mais hormônios masculinos do que femininos. Por conta disso, algumas mulheres tem até exacerbação da libido”, surpreende Cavalcanti. Para os casos de secura vaginal estão disponíveis géis e cremes que facilitam a penetração e evitam a dor. Também é necessário investigar até que ponto a falta de libido é decorrente de déficit hormonal ou de ordem psicológica. Silvana lembra de uma paciente, de 60 anos, que tinha a crença de que quando entrasse na menopausa não teria mais desejo. “A libido dela desapareceu e não foi alterada nem quando passou a tomar medicação hormonal. Então, qual foi o peso dos hormônios?”, indaga a sexóloga. Nesses casos podem pesar valores sociais como o ideal de beleza feminina sempre associada à juventude. Por isso, muitas sentem vergonha de seu corpo envelhecido. “Trata-se de um padrão imposto pela sociedade. É preciso constatar que se pode ser bonita em qualquer idade e que o corpo ainda é sensível a carícias”, aconselha Silvana. Falta de desejo também pode ser sintoma de depressão, numa fase da vida cheia de perdas como a saída dos filhos de casa. Numa sociedade em que homens idosos querem ser viris e tomam Viagra e mulheres não se sentem dignas de ter desejo, o resultado pode ser “escapulidas”

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O idoso e o Sexo

Endocrinologista Ney Cavalcanti analisa o sexo na terceira idade, tema ainda considerado tabu pela sociedade.  Ele rebate a ideia de que mudanças hormonais ocorridas com a idade mais avançada fazem desaparecer a necessidade e o desejo da atividade sexual.         Os idosos sofrem discriminação por parcela importante da população. Afinal eles se apresentam de maneira oposta dos atuais ícones da sociedade, que são juventude e beleza. Alguns jovens, inclusive, tratam os idosos como se pertencessem a uma espécie diferente da sua. Não se lembram, que é preciso ter sorte e saúde bastante, para viver o suficiente até se alcançar a condição de idoso. No aspecto de vida sexual, o julgamento é rigoroso. Sexo é só para os jovens e os de meia idade. Essa forma de pensar é dominante entre os leigos e também, infelizmente, entre muitos médicos. O raciocínio em que se baseiam seria que, ao atingir a terceira idade, as modificações que ocorrem, inclusive as hormonais, fariam desaparecer a necessidade e o desejo da atividade sexual. Esse pensamento é absolutamente falso. Nos casos dos hormônios no homem, não existe, na maioria dos casos, diminuição significativa dos níveis de testosterona com a idade. Existem octogenários com níveis desse hormônio semelhantes a de indivíduos muito mais jovens. Nas mulheres, com a menopausa existe uma redução abrupta dos hormônios femininos, os estrógenos. Porém, muito mais importantes como estímulo para a atividade sexual são os hormônios masculinos, os andrógenos, que a mulher também os produz. Esses são secretados principalmente pelas glândulas adrenais que não se alteram com a menopausa . O resultado, é nessa fase da vida das mulheres, existe mais hormônios masculinos do que femininos. Por conta disso, algumas mulheres tem até exacerbação da libido. O aumento da longevidade, as melhores condições de saúde e o surgimento de drogas que favorecem a realização do ato sexual fazem com que cada vez mais idosos o pratiquem. Os números impressionam. Estudo recente realizado nos Estados Unidos demonstrou que 73% do grupo entre 56 e 74 anos de idade tem vida sexual. O percentual é menor entre nos que têm 75 e 74 ( 43%,), mas ainda persiste depois dos 75 (26%). Isso tem trazido alguns problemas. O principal é o grande aumento das doenças sexualmente transmitidas nesse grupo etário. Aumento inclusive proporcionalmente maior do que entre os jovens. Mais do que dobrou na última década. Um estudo realizado no Reino Unido demonstrou que 17% dos casos de Aids e 27 % dos novos casos da doença são diagnosticados em pessoas com mais de 45 anos de idade. Isto ocorre por dois motivos. Não existe temor da gravidez e a falta de informação de como se prevenir das doenças sexualmente transmitidas nesse grupo etário. O governo de vários países estão fazendo campanhas de esclarecimento para os idosos. É de muito sabido que os benefícios da atividade sexual não se resumem ao prazer que o orgasmo proporciona. O idoso que tem vida sexual é menos ansioso, mais sociável, adoece menos é mais otimista etc. Pesquisas demonstraram que pelo menos parte desses benefícios decorre do aumento da produção, por parte de hipófise, de um hormônio, a ocitocina. Há muito se achava que suas ações se resumiam em promover a contração uterina durante o parto, e estimular a saída do leite na amamentação. Porém se demonstrou ter ele uma outra e muito importante função . Hoje é considerado o hormônio do bem-estar. A sua secreção é aumentada por vários e diferentes estímulos. Contato com amigo, com uma pessoa que nos agrada, e principalmente pelo contato físico e atividade sexual. Os idosos que praticam o sexo têm níveis muito mais elevados dos que os que não o fazem. Foi também constatado que a adoção por parte de um idoso de um animal de estimação promove o aumento da secreção ocitocina. E você jovem, se tiver a sorte de se tornar um idoso no futuro, prefere continuar ter vida sexual ou tomar conta de um cachorrinho?

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