Tão Certo Quanto O Erro De Ter Barco A Motor E Insistir Em Usar Os Remos - Revista Algomais - A Revista De Pernambuco
Ninho de Palavras

Ninho de Palavras

Bruno Moury Fernandes

Tão certo quanto o erro de ter barco a motor e insistir em usar os remos

Quando eu tinha a idade de Maria Tereza, estive neste mesmo espaço – o Centro de Convenções – assistindo a um show do Legião Urbana. Outros tempos. Sozinho, com os amigos, de carona, de ônibus, de táxi. Com entusiasmo, coragem, loló e muita irresponsabilidade, a gente se preparava durante meses para o evento, sonhando com a chegada do grande acontecimento.

Já minha filha e a amiga foram de paitorista e paigurança, compraram os ingressos on-line com toda a facilidade do mundo e, se quiserem, assistirão ao show trocentas vezes depois porque a tudo filmaram.

Fiquei prestando muita atenção ao evento da dupla Jorge & Matheus, impressionado com a megaestrutura e o comportamento das pessoas. Todos filmando, registrando e, talvez por isso – pode ser uma impressão equivocada minha –, ninguém entrando na alma do artista.

Mas o Jorge, que grita muito, tem carisma. O Matheus é roqueiro, mais músico, tocou Erick Clapton e eu caí o queixo, salvando minha noite. E minha filha quis comer um méqui após o show, diferentemente de mim e dos meus amigos, que comemos um dogão com ervilhas que me fizeram mal, em frente ao Sport Club do Recife, às quatro da madruga. Nisso, confesso, houve evolução.

Lembro do Renato Russo, todo de branco, da cabeça aos pés, entrando no palco como uma entidade saída de algum livro ou filme, e o arrepio que me deu já nos primeiros acordes de Daniel na Cova dos Leões. Minha memória é o único registro que tenho. Está tudo arquivado no meu HD.

Mas, amigos, tão certo quanto o erro de ter barco a motor e insistir em usar os remos, é achar que sua época foi melhor do que a da sua filha de 15 anos, apesar de ter sido, com certeza. 

Atravessei o portal invisível do tempo e entre o público apinhado de celulares erguidos, eu me vi garoto, de camiseta preta e jeans surrado, pedindo bis. A felicidade de Maria Tereza fez casa nos meus braços e o seu momento passou a ser o meu instante. 

E quem um dia irá dizer que não existe razão nas coisas feitas pelo coração?

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