*Por Beatriz Braga
Impossível assistir Daphne e permanecer alheio a ela.
Impossível assistir The White Lotus 2 e não questionar-se em qual lado do termômetro Daphne-Harper você vive.
De um lado, Daphne figura uma versão adulta de pollyana: “eu conheço o mundo e o vejo todo colorido”.
Com uma inegável esperteza, ela se recusa a ser vítima da sua existência e encontrou os meios para não deixar-se abalar.
O que requer coragem, mas não deixa de ser uma falsa ideia de controle.
Quem decide trair porque está sendo traída não é livre. Na cena triunfante da conversa com Ethan, ela deixa escapar uma sombra disfarçada: existe dor e tristeza em suas camadas menos superficiais.
Apesar disso, ela parece ser a hóspede que mais se diverte e também que está mais confortável em ser quem é.
Daphne não vê notícias, não lê, não vota, como se, ao evitar o mundo real, não precisasse assumir as suas próprias profundezas.
Resta o true crime, maridos matando esposas na TV de casa, um flerte sádico com a realidade.
Já Harper segue outro caminho.
Ela questiona, julga, fica obcecada pelo quarto vizinho e está preocupada com o apocalipse. Porém, ao tentar desmascarar a vida alheia, distancia-se do que realmente lhe diz respeito: seu casamento e sua felicidade.
Aponta a arrogância e a competição sem notar que tornou-se um exemplo perfeito do seu alvo.
Eu não diria que Daphne é, necessariamente, mais feliz, mas certamente vive mais “leve” porque parece ter mais poder sobre suas emoções e escolhas.
Do outro, pouco sabemos. Mas sobre nós, The White Lottus tem uma provocação:
O que você faz com suas sombras? Você é realmente dono de suas escolhas? Quão protegidos estão os seus castelos?
Eu não escolheria viver como Daphne, mas a primeira cena da temporada me deixou atenta: ela sempre teve a garantia da sobrevivência. E aposto que será a única a estar nas Maldivas, na próxima temporada, com seu sorriso constante e seu olhar misterioso.
*Beatriz Braga é jornalista e empresária (biabbraga@gmail.com). Ela escreve a coluna Maria pensa assim para o site da Revista Algomais