O desinteresse do jovem brasileiro com a política apareceu forte nas últimas eleições. Entre 2012 e 2014, a quantidade de eleitores com 16 ou 17 anos – que não são obrigados a votar – caiu em 42,7%, em Pernambuco. Os números revelados pelo Tribunal Superior Eleitoral são uma sinalização de apatia que pode se repetir no processo eleitoral no próximo ano, frente à intensa agenda negativa dos parlamentares e dos poderes executivos no País. Um cenário de desvalorização da democracia brasileira, que vive uma crise de representatividade, que preocupa os tribunais eleitorais.
Para o cientista político Túlio Velho Barreto, pesquisador da Fundaj, o cenário de crise política pode, sim, contribuir para a queda do interesse do eleitorado mais jovem nas próximas eleições. “É importante frisar que a crise política, que é também ou sobretudo uma crise de representação, atinge os atores políticos de modo geral, e não apenas os governantes ou representantes nas casas legislativas. Os partidos políticos estão extremamente desgastados e afastados dos chamados nativos digitais, ou seja, aquelas pessoas que constituem a geração nascida após 1990, 1992, quando a internet se popularizou de fato, mas, sobretudo, aqueles que cresceram sob as diversas redes sociais. Os atores políticos, quer sejam indivíduos ou partidos, não têm tido respostas para esse segmento”, avalia.
Se a quantidade de eleitores nessa faixa etária não é tão significativa para a definição dos pleitos ao poder executivo, para as eleições proporcionais significa muito. Nas últimas eleições municipais, 177 mil jovens de 16 e 17 anos votaram. Os especialistas acreditam que a redução desse eleitorado pode reduzir a representação de vereadores jovens nas bancadas eleitas no próximo ano.
A descrença desses mais jovens, no entanto, não significa uma negação ou neutralidade política. A rejeição da juventude está mais associada ao modelo de representação partidária e não a uma alienação acerca da sua participação política. Segundo dados do TSE, a quantidade de jovens (16 a 24 anos) filiados nos cinco maiores partidos do Brasil reduziram em 56% nos últimos 7 anos. Um raio-x oposto ao que é visto nas manifestações de protestos desde junho de 2013, bem como na participação dessa parcela da população nos movimentos sociais e ONGs como voluntários.
“É importante reconhecer que tem havido, sim, crescimento de novas formas de participação política, mais direta, envolvendo jovens que não desejam se envolver tão diretamente com os partidos, embora isso não signifique que estes não tenham consciência que, assim mesmo, estão também fazendo política”, diz o cientista político. No entanto, ele avalia que há uma parcela da população dentro dessas manifestações que tem um comportamento prejudicial à democracia brasileira, que pedem inclusive a volta dos militares. “É necessário separar o joio do trigo, sob pena de colocar em um mesmo plano aqueles que desejam ampliar os mecanismos e instrumentos de participação política da democracia e aqueles que apostam em um retrocesso ao autoritarismo”.
Educação Política. De olho nesse sentimento de desinteresse dos jovens no processo político, a Escola Judiciária Eleitoral de Pernambuco tem desenvolvido o projeto Eleitor do Futuro. Com a meta de contribuir para a conscientização política dos pernambucanos em idade escolar (dos 7 aos 17 anos), a iniciativa já alcançou aproximadamente 9,5 mil alunos só neste ano. “O eleitor precisa compreender que ele é o ator principal do processo político. Tudo depende do voto dele. É preciso ter sempre esperança. Votar é um ato de esperança. Nosso papel é incentivar e apoiar o jovem eleitor, declarou o presidente do TRE-PE, Antônio Carlos Alves da Silva.
O projeto leva palestras de educação política para escolas públicas e privadas, realiza eleições com a urna eletrônica com os alunos (sejam de representantes de classe, grêmio estudantil ou apenas simuladas) e se propõe também a estimular o cadastramento eleitoral do eleitor facultativo. “Para melhorar o País, a educação é uma chave. Procuramos fazer com que os alunos experimentem o voto, conversamos com eles sobre democracia, sobre o que foi a ditadura militar. Desejamos fomentar um eleitorado mais consciente para o futuro. Nesses contatos buscamos também entender a ideia deles sobre política”, explicou Eduardo Japiassu, secretário da Escola Judiciária Eleitoral de Pernambuco.
Uma das percepções dos servidores que trabalham na Escola Judiciária Eleitoral é que os jovens estão assustados com o atual momento econômico do País. Os profissionais identificam também um maior engajamento político dos alunos do interior em relação aos estudantes da capital e região metropolitana.
O projeto Eleitor do Futuro, que nasceu em 2006, está em processo de expansão. Recentemente foram fechadas parcerias com a Unicef, IFPE e com a Secretaria de Educação de Pernambuco, que deverão impulsionar o número de visitas às escolas das redes municipais e estaduais de ensino, bem como com os alunos do instituto técnico.
Em 2015, houve o lançamento do Sistema de Solicitação de Palestras e da Revista Coquetel, o qual contou com a participação do senador Cristovam Buarque. Outra novidade foi a criação do Fórum Permanente de Estudos Políticos, dentro do Projeto Eleitor do Futuro no município de Ibirajuba pelo multiplicador e chefe de Cartório da 138ª ZE Álvaro Pastor. Atualmente cerca de 500 jovens integram o fórum no Agreste pernambucano.