Uma história de vida dedicada ao Náutico e ao desporto

*Por Paulo Monteiro

Em 1934, o Clube Náutico Capibaribe conquistou o seu primeiro título pernambucano de futebol. Porém, esse não é o único feito memorável de sua história naquela data. No mesmo ano, nascia um dos maiores patrimônios humanos do nosso clube. No dia 20 de abril, nascia Ricardo Breno de Pontes Borges Rodrigues, mais conhecido nos meios esportivos, e em especial na nação Alvirrubra, como Cacá.  

Poucos anos depois, com apenas sete anos de idade, começava sua bela e exemplar trajetória no nosso Clube, como atleta infantil de tênis e basquete. Esportes que praticou por muitos anos, sendo campeão em todas as categorias que atuou. Diante do espírito de liderança e capacidade de aglutinar que demonstrou desde criança, tornou-se rapidamente orador e presidente do Núcleo Infantil Alvirrubro, setor responsável por organizar todas as competições infantis dentro do clube. Uma verdadeira escola de formação de líderes.

Neste ano, o Náutico completa 123 anos de fundação e, durante sua existência, Cacá – que completa noventa anos no dia 20 de abril – é, até hoje, o único alvirrubro a ocupar seis diretorias distintas no clube. Sendo também o único a ocupar, por nove vezes, o cargo de vice-presidente esportivo. Depois, vice-presidente do executivo por dois mandatos, presidente do executivo, secretário do Conselho Deliberativo e, posteriormente, presidente, sendo o único até hoje reeleito. 

Merecidamente, Cacá é o único sócio a possuir os títulos de emérito (pelas conquistas esportivas), benemérito (pelos relevantes serviços prestados) e grande benemérito (pelos relevantes e excepcionais serviços prestados), dividindo, hoje, a honraria de grande benemérito com Américo Pereira, também de grandes, relevantes e excepcionais serviços prestados ao clube. Merece um registro, que desde 1960 Cacá é conselheiro do Náutico, ausentando-se apenas para exercer cargos no executivo.

Vários foram os eventos esportivos realizados por Cacá ao longo de sua exemplar trajetória no Náutico. Realizou, durante vários anos, a tradicional Corrida da Fogueira, a segunda mais antiga competição do gênero no país. Promoveu, durante três anos e com o apoio do ex-presidente Luciano Azevedo, seu primo, os Jogos Infantis de Pernambuco, que teve uma repercussão nacional, merecendo voto de elogio e registro do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), que o Clube Náutico Capibaribe deu uma grande contribuição aos esportes olímpicos brasileiros. 

Há quinze anos, quis o destino, por conta de uma enfermidade, que Cacá ficasse privado de sua visão. Porém, em momento algum, tal acontecimento impediu que Cacá continuasse prestando relevantes serviços ao nosso clube. Mesmo sem visão, presidiu várias competições, reuniões solenes e posses de vários presidentes.

Mais recentemente, como prova de sua liderança e espírito agregador, liderou um movimento para que o Clube tivesse apenas uma chapa única no conselho deliberativo. Tal movimento contou com nossa contribuição e do ex-presidente Márcio Borba e, pela primeira vez, o Náutico teve numa eleição uma única chapa para o conselho deliberativo.

Como reconhecimento pela sua bela e expressiva participação na vida do nosso Náutico, Cacá recebeu uma justa homenagem, sendo dada a sede da Avenida Rosa e Silva o seu nome. Homenagem esta que perpetua a forte e exemplar ligação de sua vida à história do nosso centenário Clube.

Sua trajetória de vida e ligação com o desporto não se restringiu ao Náutico. Fora das dependências do clube, exerceu vários cargos como diretor e presidente de federações, tais como: presidente da Federação Pernambucana de Remo, diretor e membro dos conselhos das federações pernambucanas de basquete, ciclismo, aquática. Homenagens também foram muitas, como reconhecimento aos relevantes serviços prestados por onde passou.

A dedicação de toda uma vida voltada ao Náutico e ao desporto amador/olímpico rendeu também a Cacá homenagens e comendas de várias federações e confederações. Entre elas, Grande Benemérito da Federação Pernambucana de Remo e de Futebol, Benemérito da Confederação Brasileira de Remo e Benemérito do Remo Brasileiro, Medalha Centenário de Eládio de Barros Carvalho, Medalha Amigo da Marinha, Medalha Joaquim Nabuco concedida pela Assembleia Legislativa de Pernambuco, Medalha Barbosa Lima Sobrinho concedida pela Associação Brasileira de Imprensa e a Medalha Conde da Boa Vista, concedida pelo Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco. 

Em outras entidades esportivas, Cacá também prestou relevantes serviços como Presidente da Federação Pernambucana de Remo, Vice-Presidente da Confederação Brasileira de Remo e Membro do Conselho Fiscal das Federações Pernambucana de basquete, aquática e de ciclismo. 

Além de uma incansável dedicação aos desportos em geral, Cacá é um grande aficionado por relógios, selos, moedas, canetas e xícaras, chegando a ter grandes coleções desses objetos, fazendo parte e recebendo homenagens do Clube Filatélico do Recife, pelo seu trabalho como presidente e da Sociedade Numismática de Pernambuco.

Mas sua determinação e incansável capacidade de trabalho e de agregação de pessoas possibilitam ainda a Cacá, apesar dos problemas de saúde e da falta de visão, uma grande motivação para, junto com seu primo e amigo Fernando Azevedo, coordenarem o Terraço Literário, nas tardes de sábado, em sua casa, debatendo sobre temas e literaturas diversas. Aliás, nesse terraço acolhedor, desde 1962, Cacá reúne semanalmente alvirrubros para tratar de assuntos relacionados ao Náutico. Muitas definições importantes foram tomadas, muitos problemas e divergências políticas e pessoais foram resolvidas nesse local, onde só se conspira para o bem.

Cacá para mim é uma pessoa diferenciada que sabe olhar para a vida com olhos de quem tem experiência e história suficientes para conseguir extrair o que há de melhor em cada situação. Apesar dos seus noventa anos tem uma disposição e capacidade de aglutinação características da juventude. 

É um privilégio conhecer e conviver com ele, compartilhar momentos da minha vida, em especial os momentos relacionados ao nosso amado Clube. Quantas histórias guardadas, quantos momentos marcantes e quanta experiência de vida. São os relatos vivos da história do Náutico, dos esportes em geral, do Recife e do Brasil. 

Que bom poder se sentar ao lado dele no seu terraço, ouvir suas histórias e, principalmente, ver como ele vive e acompanha todas as mudanças e avanços de tudo que hoje faz parte das nossas vidas, da vida no nosso clube e da nossa sociedade.

Obrigado Cacá por tudo que sua história e sua alvirrubridade nos proporcionam. Obrigado por todos os exemplos de vida, de superação, de lealdade, respeito ao próximo e amor ao Náutico que nos transmite. Que Deus nos permita o privilégio de sua companhia ainda por muito tempo.

Paulo Monteiro – Sócio do Náutico desde abril de 1953

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