“Uma previsão para que todos tenham se vacinados seria 1º semestre de 2022”

Quando as imagens da enfermeira Mônica Calazans recebendo a dose pioneira da vacina contra a Covid-19 espalharam-se pelas mídias do País, um sentimento de esperança invadiu os brasileiros. Mas algumas dúvidas começaram a surgir: o que significa uma eficácia do imunizante de 50%? Quem já foi contaminado pelo coronavírus deve se vacinar? E as grávidas? Quando poderemos deixar de usar máscaras e de adotar o distanciamento social? Para responder a essas indagações, Cláudia Santos conversou com o microbiologista Luiz Gustavo de Almeida, que é PhD em microbiologia pelo ICB-USP (Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo), diretor no Brasil do festival internacional de divulgação científica Pint of Science – Um Brinde à Ciência e coordenador dos projetos educacionais do Instituto Questão de Ciência.

Existem muitas informações nas redes sociais alertando para a insegurança dessas vacinas. O que comprova a segurança desses imunizantes?

Essas informações que circulam nas redes sociais, principalmente no WhatsApp, são para assustar a população, baseadas puramente em teorias conspiratórias. O papel do governo federal deveria ser garantir a segurança dessas vacinas, garantir que elas passaram por um processo extremamente criterioso para avaliação delas, como foi feito e como foi respaldado pelo aval da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Nossa agência regulatória não deixaria passar qualquer coisa que fosse fazer qualquer tipo de mal para a sociedade brasileira. Essas informações são baseadas muito em medos, em histórias antigas, como a de que vacinas causam autismo, que já foram duramente rechaçadas e desmentidas por diversas vezes. Mas isso tudo volta à tona com a facilidade dessa comunicação nas redes sociais.

A comprovação da segurança desse imunizante já foi atestada. As primeiras reações adversas, que ocorrem logo nas primeiras horas, são acompanhadas quando acontecem. O que verificamos com a Coronavac são apenas aquelas mais comuns: dor no local da aplicação da vacina, um pouco de inchaço, um pouco de febre. Mas isso significa que seu sistema imunológico está funcionando, está combatendo o agente que é o vírus inativado dentro do seu corpo. Uma característica do sistema imunológico é aumentar a temperatura exatamente para reduzir a replicação do vírus.

Então, toda essa segurança foi testada em mais de 10 mil voluntários aqui no Brasil e mais outros 10 mil na Turquia. Ela foi testada também na China. É uma vacina extremamente segura, porque também possui uma tecnologia que não é nova, usamos há 100 anos para produzir vacinas. Tudo isso, além do respaldo técnico de pessoas que dedicaram a vida inteira para estudar sobre vacinas, faz com que a gente acredite, sim, que é uma vacina extremamente segura. Nós não iríamos aprovar uma vacina que oferecesse maior risco que a pandemia já vem oferecendo.

É uma vacina segura e, claro, vamos acompanhar essas pessoas que estão sendo vacinadas. Caso haja qualquer alerta de reação adversa, vamos observar se foi provocada pela vacina e esclarecer a população de uma forma muito clara. Importante a gente saber isso, porque se houver algum tipo de reação num grupo determinado de pessoas, é melhor não vacinar essas pessoas. Daí, a importância da vacinação coletiva porque vamos conseguir proteger, inclusive, essas pessoas que não podem tomar a vacina. Então, ela é segura para a população em geral e a enorme maioria da população deve tomar essa vacina.

Qual o percentual da população que precisa ser vacinado para frear o avanço da pandemia no País?
Tendo em vista as experiências recentes observadas em outros surtos, outras epidemias e até outras pandemias, vamos começar a ver os efeitos da diminuição de pessoas adoecendo e morrendo, a partir do momento em que 70% população for imunizada. Em relação à Coronavac, para atingirmos a tão sonhada imunidade de rebanho, vamos ter que vacinar 99% da população. Para fazer esse cálculo, levamos em conta a eficácia das vacinas e também a taxa de replicação base do vírus, ou seja, quanto que uma pessoa infectada pode, em média, infectar outras suscetíveis. Sabemos que no caso do coronavírus, uma pessoa infectada pode transmitir até para duas outras suscetíveis ao vírus. Então, esse é o número utilizado nesse cálculo junto com a eficácia da vacina.

Depois de vacinada, a pessoa tem que manter as medidas de prevenção contra a Covid-19? Quando poderemos voltar a frequentar aglomerações?
Sim, depois de vacinados temos que continuar fazendo o distanciamento social, usar máscaras e lavar as mãos. A vacina não é uma pílula mágica, de efeito imediato, em que, assim que você for vacinado terá uma proteção para não transmitir o vírus. Não, você vai, sim, ter um risco menor de ser contaminado e pegar a doença, mas você, ainda pode, sim, transmitir esse vírus para uma outra pessoa que ainda não foi imunizada. É muito importante deixar claro isso. Vamos diminuir a gravidade da doença, não é a transmissão neste primeiro momento que vamos evitar. Provavelmente, as vacinas podem ter essa capacidade, mas a ciência ainda não respondeu a essa pergunta.

Vamos continuar monitorando os casos, continuar os estudos para ver se as vacinas são tão boas a ponto de neutralizar, inclusive, a transmissão do vírus. Poderemos voltar a frequentar aglomerações daqui a um ou dois anos, quando conseguirmos, realmente, observar que o número de casos e a gravidade deles estão diminuindo. Assim, a Covid-19 passará a ser uma gripinha, um resfriado comum que a gente consiga tratar em casa ou até num atendimento simples ambulatorial. É isso que a gente quer: que as pessoas não morram, e menos gente sendo internada com Covid-19 grave.

Quem foi contaminado precisa se vacinar? Por quê?
Quem já foi contaminado deve, sim, se vacinar. O que a gente pode fazer é remanejar essas pessoas que já foram contaminadas para, talvez, o fim da fila. Mas ninguém vai ficar monitorando, perguntando se você já foi vacinado ou não. Isso acontece porque as vacinas oferecem um treinamento muito melhor para o seu sistema imunológico do que quando você pega o vírus selvagem.

O vírus que está na natureza não causa só a Covid-19, ele atrapalha todo o seu sistema imunológico. A mensagem não chega direito para ele, que não consegue lembrar que a gente foi contaminado pelo vírus. Pode ser que tenha sido uma infecção com poucas partículas virais e suas defesas não tiveram um treinamento suficiente para gerar memória imunológica no seu sistema imunológico.

Com as vacinas é diferente. Elas são testadas para verificar qual é a dose mínima necessária para que a gente desenvolva uma boa resposta imunológica, uma resposta duradoura, longa, que é isso que a gente quer. Então, as pessoas que já foram infectadas pelo coronavírus, devem, sim, se vacinar e a gente tem plena capacidade para fazer isso graças ao SUS.

LEIA A ENTREVISTA COMPLETA NA EDIÇÃO 178.4 DA REVISTA ALGOMAIS: assine.algomais.com

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