Por um lado temos o aumento da procura por commodities, por outro um risco de apagão. Em um olhar mais otimista, vemos um relaxamento das medidas de isolamento, já a partir de uma percepção mais cautelosa existem pela frente possíveis novas ondas de contaminação da Covid-19, em especial pelas novas variantes. No meio desse cenário complexo, uma disputa política intensa, que envolve de compra de vacinas até decisões fundamentais para as reformas do País. Para tratar das expectativas da economia brasileira e pernambucana, voltamos a falar com o economista Edgard Leonardo, professor do Centro Universitário Tiradentes (Unit-PE), que aponta os fatores que precisamos observar nos próximos meses para uma recuperação econômica mais sustentável.
Quais são os principais fatores que têm elevado o otimismo dos analistas acerca do desempenho do segundo semestre da economia brasileira?
Recentemente tivemos a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, com um crescimento de 1,2% no 1º trimestre de 2021 (na comparação com os três meses imediatamente anteriores). O terceiro resultado positivo após os recuos de 2,2% no primeiro e 9,2% no segundo trimestre de 2020.
Na comparação com o primeiro trimestre de 2020, a alta foi de 1%. Os resultados vieram muito acima expectativas do mercado, que apontava uma estimativa de 0,7% no primeiro trimestre ante o período anterior.
Os números da exportação também superaram as expectativas, outro ponto importante é a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que cresceu 4,6% no primeiro trimestre de 2021, na comparação ao quarto trimestre de 2020.
Resultados positivos da Agropecuária (5,7%), na indústria (0,7%) e inclusive no setor de serviços (0,4%). Sinalizam positivamente para os analistas.
Com o processo (mesmo lento) de vacinação, a expectativa é de diminuição do isolamento social e vale salientar, a sociedade vem se habituando ao novo normal de maneira que o impacto das restrições tende a ser menos importante.
Tudo isso aliado alta da demanda global por commodities, que deve ajudar a economia brasileira.
Quais as principais variáveis que podem acelerar uma retomada econômica ou diminuir o ritmo?
Infelizmente temos a variável política que com a aproximação do pleito de 2022 tende a impactar a economia. Certamente a pandemia ainda é geradora de grande incerteza, pois sempre temos no radar possíveis novas variantes e a preocupação com novas ondas e quanto ao avanço da imunização.
A desigualdade entre os setores, certamente algumas áreas apresentarão uma recuperação mais lenta.
Além de dois pontos que afligem mais diretamente o cidadão: a inflação, que tende a continuar crescendo, sendo preocupante principalmente três pontos; os combustíveis, a inflação de alimentos e o preço da eletricidade. Vale salientar que é ainda mais preocupante o fato de estarmos diante de um processo inflacionário, que está associado a um cenário de desemprego.
A PNAD contínua do IBGE aponta um desemprego de 14,7%. Todavia, segundo o IPEA, a taxa de desemprego no Brasil seria 19,4% no primeiro trimestre deste ano, se a força de trabalho tivesse voltado ao ritmo registrado antes da pandemia.
Os números do desemprego tendem a começar a representar melhor a realidade na medida em que a economia comece a se movimentar e tenhamos mais gente voltando a procurar emprego.
O calcanhar de Aquiles da economia continua sendo a fragilidade das contas públicas, certamente com uma evolução acima do esperado a arrecadação tende a melhorar, porém ainda é algo que inspira preocupação.
A situação energética, com risco de apagão ou racionamento, é uma preocupação?
Sim, infelizmente o Brasil precisa mudar essa cultura de falta de planejamento de longo prazo. A vinte anos começamos com racionamento e nenhuma medida efetiva foi tomada para que esse gargalo fosse resolvido.
Precisamos urgentemente retomar o crescimento, gerando emprego e renda, e como fazer isso sem eletricidade? Mesmo que a dependência da matriz hídrica tenha caído de quase 90% para cerca de 60% ou 70%, nos últimos 20 anos, o Brasil ainda depende fortemente de água para gerar eletricidade. Fora os impactos, principalmente no agronegócio e na vida das cidades.
Mesmo com os 'sinais' da retomada aparecendo em alguns indicadores econômicos, porque isso não é sentido no cotidiano da população, que convive, por exemplo, com alto desempenho e inflação?
Infelizmente, o desemprego é uma variável mais lenta e certamente responderá ao crescimento do PIB, porém ainda conviveremos com o desemprego, neste ponto reside a importância de políticas públicas que venham a apoiar essa população mais vulnerável.
A questão da inflação é também deveras preocupante, inclusive por que durante o necessário processo de retomada certamente ainda sentiremos os reflexos da inflação.