Técnica milenar da medicina chinesa, a ventosaterapia ganhou um novo status no Brasil e no Recife, após as braçadas de Michael Phelps nos últimos Jogos Olímpicos. Os hematomas no corpo do nadador multicampeão exphttp://portal.idireto.com/wp-content/uploads/2016/11/img_85201463.jpgam um dos segredos do seu treinamento para melhorar o desempenho. Seja para apoiar os atletas, para aliviar dores musculares ou mesmo para o combate à celulite, a verdade é que os tratamentos com uso de ventosas conquistaram os profissionais de saúde e, principalmente, os pacientes.
“A ventosaterapia consiste na colocação copos de vidro ou acrílico no corpo, com objetivo de criar um vácuo e fazer sucção na pele. Isso é ideal para filtrar e expelir as toxinas do sangue no organismo. A técnica melhora oxigenação do tecido epitelial e favorece o metabolismo”, explica a fisioterapeuta Jéssica Cavalcanti, da Alfa Pilates e Fisioterapia Especializada. Na tradição oriental, além da questão sanguínea, a técnica contribui para a circulação de energia (Qi) no corpo humano.
As indicações para a técnica são diversas. Segundo Bruno Souza, professor de acupuntura e ventosaterapia da clínica e escola Shen – Estudos de Medicina Chinesa – a prática oriental trata até patologias como a constipação e cólica porque interfere na circulação do sangue e na energia no corpo. “Na medicina ocidental o maior uso é na fisioterapia, para soltar a musculatura, aliviar a dor e tensões musculares. Na China a técnica é muito usada também para tratar a partir dos de canais de acupuntura (meridianos), que abrangem todos os órgãos do corpo”, explica.
No caso dos atletas, a técnica serve para aumentar a oxigenação no organismo, acelerando assim a recuperação muscular para a partida ou treino seguinte. Outras técnicas orientais trazem benefícios semelhantes, mas o fato de deixar os hematomas no corpo dos atletas fez o uso das ventosas ser a prática mais conhecida pelo público.
A estudante de engenharia Jamilly Taurino, 23 anos, faz musculação e frequenta sessões de ventosaterapia duas vezes por semana. “Após os treinamentos eu demorava para voltar a ter um bom desempenho. Isso fazia que eu demorasse mais para malhar. Com as sessões eu sinto um maior relaxamento nas regiões doloridas do corpo e consigo voltar mais rápido”, afirma. Além da melhora nos treinos, ela relata que outro benefício é no alívio das tensões promovidas pelo estresse do dia a dia.
De acordo com Jéssica Cavalcanti, muitas mulheres têm procurado a técnica também por questões estéticas. “Associado à massagem, a ventosaterapia contribuir para reduzir as celulites, além de ajudar a diminuir a circunferência abdominal”, afirma. O tratamento contribui para atenuar também rugas e estrias.
A fisioterapeuta Manuela Lucena, da Fisioclínica Physio Center, lembra que a técnica é usada também no pós-operatório e em pacientes com diversos tipos de dores. “Os tratamentos para pessoas com dores articulares, no joelho, na coluna, enxaqueca têm bons resultados. Nos pacientes que apresentam aderência na pele devido às cicatrizes de um procedimento cirúrgico podem usar a ventosaterapia para quebrar a fibrose que foi criada na região e deixou a pele presa”. Na prática oriental, segundo Manuela, há diversas outras doenças sistêmicas que são tratadas com ventosas, como a asma.
O método foi utilizado, por exemplo, pelo Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) no tratamento de pacientes que sobreviveram ao incêndio da Boate Kiss. A técnica foi usada em pessoas que tiveram cicatrizes que impediam os seus movimentos, tendo como efeito a melhora da circulação e da elasticidade da pele. Os relatos do HUSM é que alguns pacientes que tinham indicação de cirurgia reparadora não realizaram o procedimento e voltaram a se movimentar normalmente.
Originalmente as ventosas eram feitas com bambu e o uso de alguma fonte de fogo para retirar o oxigênio interno para realizar a sucção da pele. No oriente existem ventosas de pedra ou mesmo de cerâmica. No mundo ocidental o vidro e o acrílico são os mais usuais. Os equipamentos de vidro usam o mesmo princípio do bambu, precisando do aquecimento interno para realização do tratamento, enquanto que o aparelho de acrílico realiza a sucção através de uma pistola que puxa o ar. “Os resultados são similares com os dois materiais. Há uma maior praticidade com a ventosa de acrílico. Já a de vidro torna a sessão um pouco mais confortável para o paciente, tanto pela temperatura como pelo fato de ter uma borda um pouco mais grossa”, relata Bruno Souza.
Apesar dos benefícios, nem todas as pessoas podem realizar a ventosaterapia. “São contraindicações bem clássicas. Não recomendamos em pacientes com febre, nem em regiões de varizes ou com edemas. O procedimento não pode ser realizado também em cima de ferimentos. Não é indicado ainda para pacientes com câncer, sob o risco de enviar células cancerígenas para outros locais”, explica Manuela Lucena.
Pacientes com pressão alta, diabéticos e com alterações vasculares maiores – caso de histórico de trombose e aneurisma, por exemplo, têm contraindicações relativas, precisando de uma avaliação mais minuciosa dos profissionais de saúde. Há um cuidado maior também com pessoas que estão com medicação para afinar o sangue, pois são pacientes que terão maior dificuldade em receber o tratamento.
Outro detalhe que os pacientes precisam estar atentos é que o procedimento deixa a região do corpo dolorida entre 24h e 48h. As manchas vermelhas ou roxeadas na pele também podem durar de dois até cinco dias.