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Joao Campos

“Planejar o futuro e agir no presente”: João Campos fala sobre o desenvolvimento do Recife

Prefeito defende educação, inovação e planejamento como pilares para o futuro da região metropolitana, da capital e do Estado. Fotos: Tom Cabral Durante palestra sobre o futuro da Região Metropolitana do Recife e o papel do Recife no desenvolvimento do Estado no encontro de ontem do projeto Pernambuco em Perspectiva, o prefeito João Campos destacou que a capital tem o desafio de planejar as próximas décadas enquanto executa ações concretas no presente. O evento, promovido pela Revista Algomais e pela Rede Gestão, reuniu lideranças públicas, especialistas e representantes do setor produtivo para discutir soluções de crescimento sustentável e inclusão social. Educação como base do desenvolvimento João Campos abriu sua fala ressaltando que o maior ativo do Recife é o investimento em pessoas. “A gente só tem esse ativo porque investe em capital humano, a gente investe nas pessoas, e a gente precisa continuar a fazer isso”, afirmou. O prefeito destacou que a educação integral e o acesso à creche são as políticas públicas mais transformadoras, capazes de romper ciclos de desigualdade e impulsionar o desenvolvimento. Ele lembrou que, em pouco mais de três anos, o Recife criou mais de 6.500 novas vagas de creches, de educação integral. “Não adianta só você fazer aquilo que nunca foi feito, é preciso ter uma capacidade de gestão, de poder identificar o problema na ponta”, disse, reforçando a importância da execução eficiente de políticas públicas. Inovação e transformação digital Outro ponto central da palestra foi o papel da inovação no serviço público. Campos destacou que o Recife se consolidou como referência nacional na área, sendo a primeira cidade do Brasil a regulamentar o marco legal das startups e a realizar contratações por inovação aberta. “Nós fomos a primeira cidade do Brasil a regulamentar o marco legal das startups e a primeira capital a fazer a contratação por inovação aberta”, afirmou. De acordo com o prefeito, a transformação digital da gestão tem proporcionado ganhos de eficiência, transparência e impacto direto na vida da população. O uso de dados para aperfeiçoar políticas públicas e facilitar o acesso a serviços municipais foi citado como um dos diferenciais da administração recifense, que hoje exporta soluções para outras cidades brasileiras. Planejamento e visão de futuro Em sua fala, o prefeito defendeu que o planejamento urbano deve ter uma visão de longo prazo, conectada à capacidade de agir no presente. “O desafio do gestor é poder conectar a visão de 30 a 40 anos na frente, mas ter a capacidade de botar a sua pedra dentro do quebra-cabeça no dia de hoje”, disse. Campos citou iniciativas voltadas à sustentabilidade e à resiliência urbana, como obras de macrodrenagem e monitoramento climático, destacando que o Recife tem atuado para se preparar para os desafios das próximas décadas. O prefeito mencionou também a importância de fortalecer o diálogo com os municípios vizinhos, em um contexto de planejamento metropolitano mais integrado, mas sem se aprofundar no tema. Ele encerrou reforçando que o sucesso de uma gestão pública moderna depende da combinação entre visão estratégica, capacidade de execução e foco em resultados sociais. O encontro contou com a mediação de Ricardo de Almeida e com uma palestra de Francisco Cunha sobre o projeto Pernambuco em Perspectiva. Confira a cobertura completa na próxima edição da Revista Algomais. Confira os conteúdos do encontro Pernambuco em Perspectiva: 🔹 Apresentações em slides.

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Entrevista com William Smethurst: "Não nascemos para ficar sentados"

O corpo humano é dependente do movimento. O professor de educação física da UPE explica por que a evolução da espécie nos moldou para manter nosso corpo em atividade. Aborda como o exercício físico contribui para prevenir e tratar doenças, como câncer e Alzheimer, e informa qual a atividade oferece melhores benefícios: correr ou caminhar. Exercitar-se é uma atividade que vai muito além do desejo de emagrecer. Na verdade, o movimento faz parte da natureza do ser humano, desde os tempos em que nossos ancestrais viviam nas cavernas. O educador físico e professor da UPE (Universidade de Pernambuco), William Smethurst, explica, nesta entrevista a Cláudia Santos, como as necessidades do Homo Sapiens por alimentação e sobrevivência, durante o processo de evolução, levou-o a uma intensa atividade física que estruturam o formato do seu corpo, a expansão do seu cérebro e da sua capacidade cognitiva. Se hoje não já corremos para caçar nossa comida e, no conforto do sofá, com simples toques no celular, obtemos alimentação por delivery, não significa que prescindimos de exercícios físicos. Nosso organismo, tal qual o do nosso longínquo parente pré-histórico, continua dependente do movimento. Estudos científicos, segundo William Smethurst, comprovam como a prática regular de exercícios físicos contribuem para manter o organismo saudável e para prevenir e tratar doenças, como câncer e Alzheimer. O educador físico também comenta a grande adesão dos brasileiros às corridas, mas – para a satisfação dos que preferem caminhar – afirma que as caminhadas oferecem os mesmos benefícios para a saúde do que correr. E o melhor: sem provocar riscos ao praticante, como pode acontecer com os corredores.  No início de sua evolução, o ser humano não tinha comportamento sedentário. Como essa característica ancestral impacta no corpo humano hoje? Há cerca de 5 a 7 milhões de anos, uma certa espécie ancestral, ainda não bem definida pela ciência, dividiu-se em duas linhagens. Uma delas evoluiu para os grandes símios, como chimpanzés e gorilas, com corpos musculosos e compactos, adaptados à vida em bosques e florestas, onde encontram sua alimentação e sobrevivência. A outra linhagem deu origem aos Homo sapiens, caracterizados por corpos esguios, pelo andar sobre as duas pernas, um cérebro bem desenvolvido e com uma fisiologia adaptada à intensa atividade física que os constantes deslocamentos para a caça e a coleta de alimentos exigiam para a sobrevivência na vida terrestre.     Portanto, nossos parentes mais próximos – os símios – têm níveis baixos de atividade física que não causam efeitos nocivos à saúde. Já nos seres humanos, pesquisas revelam que à medida que a anatomia e o comportamento mudaram nos últimos milhões de anos, a fisiologia também mudou de tal modo que passamos a precisar de níveis muito mais altos de atividade física para sermos saudáveis. Para equilibrar a relativa fragilização do seu físico durante a evolução da espécie com as demandas de sobrevivência, o ser humano necessitou fazer uso extensivo do seu corpo, aprimorar habilidades percepto-motoras para realização de movimentos corporais cada vez mais complexos e precisos, além de desenvolver tolerância a esforços repetitivos e prolongados. Para dar conta dessa diversidade de novas demandas, o cérebro foi pressionado a expandir suas capacidades durante seu curso evolutivo.  Assim, pode-se afirmar que foram principalmente os movimentos corporais, cada vez mais sofisticados e eficientes, dentro de um estilo de vida fisicamente muito ativo, que induziram as adaptações estruturais do sistema nervoso central. O que permitiu ao Homo sapiens diversificar e aprimorar suas relações com seus semelhantes, com o ambiente e outras espécies, desenvolver sua capacidade criativa e alcançar o nível hierárquico mais elevado na escala evolutiva. Portanto, não nascemos para ficar sentados. Outro aspecto importante é que nosso coração é uma bomba que precisa ser poderosa para fazer o sangue circular por todo o corpo. Sabemos que o lado esquerdo do coração é muito mais robusto, mais volumoso, mais musculoso que o lado direito, que é menor. Mas, veja: a circulação sanguínea é um sistema fechado.  Como é que o sangue circula se, de um lado, há uma bomba poderosa para empurrá-lo, mas no outro lado a bomba que “puxa” é mais débil? Então, há algo ajudando esse lado menos forte que é a musculatura dos membros inferiores, do quadril, que deve estar em constante movimento ou em movimento tonificado, contraindo e relaxando, para manter a postura e ajudar o coração a bombear o sangue.  Então, quem costuma fazer exercício de manhã, depois passa o restante do dia sentado, não tem uma vida muito saudável? Michael Mosley, jornalista e médico, fez estudo em que comparou um escritor – que diariamente fazia duas horas de academia mas passava o restante do dia sentado – com uma moça que passava o dia em pé trabalhando e nunca foi a uma academia. Ele mostrou que todos os indicadores de saúde desse escritor eram piores do que os da moça.  Por isso, é recomendado inserimos na nossa rotina os breaks, a cada 50 minutos para que possamos levantar, durante 5 a 10 minutos, para então voltar e depois sentar novamente. Se nascemos para o movimento, quais os prejuízos causados pelo comportamento sedentário? Para que tenhamos um correto funcionamento do nosso organismo faz-se necessário que ele seja constantemente exposto às mesmas condições que proporcionaram seu desenvolvimento e aprimoramento no processo evolutivo. Do contrário, ele pode tornar-se disfuncional, o que, em médio ou longo prazo, degenera para condições patológicas crônicas.  Está muito bem documentada a associação da inatividade física com o aumento do risco para câncer, doença coronariana, acidente vascular cerebral, diabetes, demência, dentre outras de caráter degenerativo e crônico. Do mesmo modo também está comprovado o quanto a prática regular de atividade física, juntamente com uma alimentação balanceada, é o principal fator de redução de riscos para essas doenças. Como a prática de exercícios físicos ajuda a prevenir e tratar o câncer? O corpo humano possui mecanismos autônomos de, digamos, “autorreparo” para, na hora que houver um distúrbio, esse sistema fazer o reparo antes que aquilo se torne catastrófico. Todos estamos sujeitos a ter alterações espontâneas no

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“Estamos deixando de ser um projeto estratégico para ser uma empresa estratégica”

Diretor da Hemobrás, Antônio Edson de Lucena, destaca expansão da produção, nacionalização de medicamentos e impacto no desenvolvimento regional. A Hemobrás vive um momento de maturação. Criada há pouco mais de 20 anos, a estatal instalada em Goiana (PE) passa a assumir, segundo o diretor de desenvolvimento industrial Antônio Edson de Lucena, um papel cada vez mais central no sistema de saúde brasileiro. “Estamos deixando de ser um projeto estratégico para ser uma empresa estratégica”, afirma, ressaltando que a companhia já é considerada também estratégica de defesa, dada a relevância de seus medicamentos para o País. Atualmente, a Hemobrás distribui cinco tipos de medicamentos ao SUS — quatro hemoderivados produzidos a partir do plasma humano coletado nos hemocentros e o fator VIII recombinante, fruto de transferência tecnológica. A expectativa é que, até 2026, o Brasil alcance a nacionalização completa da cadeia produtiva, reduzindo a dependência externa. Com faturamento estimado em R$ 800 milhões para 2025, a empresa planeja ampliar sua capacidade fabril e fortalecer parcerias com universidades e institutos de pesquisa, posicionando-se como âncora tecnológica e pilar estratégico para a saúde pública. Como o senhor definiria o momento vivido pela Hemobrás? A Hemobrás está vivendo um momento muito importante. É uma maturação. Ela é uma empresa jovem, temos pouco mais de 20 anos. Nós trabalhamos bastante e ela está aí, apenas iniciando nessa jornada. O nosso momento hoje ele é quando a gente deixa de ser um projeto estratégico e passa pouco a pouco para ser uma empresa estratégica. Inclusive nós somos uma empresa estratégica de Defesa também. Ou seja, além do Ministério da Saúde, a gente tem uma vinculação de responsabilidade com o Ministério da Defesa, dada a importância que esses medicamentos têm para a população. Qual é a produtividade da Hemobrás atualmente? A gente já distribui 5 tipos de medicamentos. São quatro hemoderivados, ou seja, advindos do processamento do plasma brasileiro. e um é o Fator VIII Recombinante, que é um produto por biotecnologia. Nós estamos aplicamos o processo de tecnologia da engenharia reversa. Então, a gente começa pelo registro e a distribuição do produto, depois nós vamos agregando valor em todas as etapas até deter a cadeia completa da produção. A próxima etapa que nós vamos implantar vai ser o envase de produtos. Hoje, a gente rotula esses produtos, a gente faz a importação e a gente distribui para o Ministério da saúde, fazendo todo o controle de qualidade. Toda a expedição é que é feita na cadeia logística e em um dado momento, no próximo ano, a gente já vai estar aí fazendo também a nacionalização de desse IFA (Insumo Farmacêutico Ativo, a substância principal de um medicamento, responsável pelo seu efeito terapêutico) para incorporação aqui. Então, cabe à Hemobrás fazer também a qualificação de todos os hemocentros do Brasil para que eles se transformem em fornecedores de matéria-prima para indústria farmacêutica. Como acontece essa qualificação? Uma coisa é a instituição ser exemplo, como aqui do Hemope, um centro de excelência. Mas nós precisamos qualificá-lo para que ele se transforme em um fornecedor de matéria-prima. Então aquele plasma que não vai para o hospital, ele é um plasma que vai ser matéria-prima para que a gente transforme-o em medicamentos hemoderivados. Então, a Hemobrás hoje cuida de toda essa rede de hemocentros. Transformá-los em fornecedores de matéria-prima é um dos nossos principais desafios, porque a gente interage com cerca de 100 hemocentros, que são nossos fornecedores. Com isso, a gente conseguiu passar de cerca de 90.000 litros de plasma, que tinha sido o nosso recorde histórico, para 300.000 litros de plasma, que é o volume que hoje a gente está é captando nessa hemorrede, então é um trabalho importantíssimo, porque o plasma, ele é fundamental para a produção de Hemoderivados Também fornecemos um produto que é o Fator VIII recombinante. Esse produto é produzido fora e nós que agora terminamos a nossa fábrica, estamos em processo de qualificação dessa fábrica. A nossa perspectiva é que essa nacionalização da cadeia, tanto de hemoderivados quanto de recombinante aconteça nos próximos 12 meses. Então, o ano de 2026 vai ser esse ano que vai ser dedicado a trazer essa produção, que hoje é feita fora, para fazer na nossa fábrica. E isso é feito por etapas, que é acompanhado pela Anvisa, por órgãos, competentes, que dão as nossas anuências, e aí temos um plano estratégico que a cada é mês a gente vai avançando nisso e o nosso planejamento leva cerca de 12 meses para a gente fazer essa nacionalização. Quando houver essa nacionalização e todo esse processo for concluído, vocês vão atender 100% da demanda do SUS no Brasil? Tem alguma expectativa também de exportar no futuro? Em relação aos produtos de biotecnologia, sim, uma vez satisfeito o SUS nas necessidades, a gente poderá exportar. Em relação aos produtos hemoderivados, praticamente vamos atender o mercado do SUS. Um dos principais produtos, ou seja, aquilo que tem mais demanda é a imunoglobulina. Então com a imunoglobulina, que é o nosso parâmetro chave de atendimento,a gente consegue hoje atender a 100% do SUS, mas existe uma expectativa crescente demanda desse produto. Então há uma possibilidade de expansão da fábrica? A gente já vislumbra. A gente fez uma fábrica capaz de ser expandida com poucas modificações e adaptações. Então, em relação ao hemoderivado, se a gente atende o processamento de todo o plasma nacional, podemos prestar esse mesmo serviço de beneficiamento do plasma aos países do Mercosul. Inclusive, hoje a gente já tem tratativas nesse sentido. O Hemobras é uma importante indústria para essa região. A gente não pode vender os nossos hemoderivados para eles, mas a gente pode beneficiar o plasma deles e entregar os medicamentos. Por isso a gente tem essa importância já reconhecida por esses países. Como tem acontecido o processo de pesquisa e desenvolvimento dentro da empresa? Nós temos a pesquisa e o desenvolvimento. O desenvolvimento industrial está muito no cotidiano, sempre para melhorar os processos, para incorporar e nacionalizar toda essa cadeia de supply chain para

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Saúde mental no trabalho: afastamentos crescem 134% e ansiedade se torna desafio coletivo

Psicanalista Marcos Lima explica fatores que intensificam o adoecimento psíquico em um cenário de custos bilionários para a economia *Por Rafael Dantas O Brasil enfrenta um crescimento alarmante nos afastamentos por transtornos mentais. Segundo a Iniciativa SmartLab de Trabalho Decente, coordenada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), os registros aumentaram 134% no último biênio, saltando de 201 mil em 2022 para 472 mil em 2024. Os diagnósticos mais comuns estão ligados a estresse (28,6%), ansiedade (27,4%) e episódios depressivos (25,1%). O psicanalista Marcos Lima observa que esses números não podem ser vistos apenas como estatísticas. “A ansiedade pode ser entendida como expressão de conflitos internos ligados ao desejo de aceitação social e ao medo de rejeição. Quando há sensação de exclusão, a angústia se intensifica, gerando prejuízos emocionais e até físicos”, explica. Ele ressalta que a hiperconectividade digital contribui para o problema, mas não é o único fator. Privação de sono, relações afetivas fragilizadas, pressão social e incertezas sobre o futuro — acentuadas desde a pandemia — também alimentam o cenário de adoecimento. Entre 2012 e 2024, o Brasil registrou 8,8 milhões de acidentes de trabalho e 32 mil mortes, segundo o Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho. Nesse período, 2,6 milhões de benefícios previdenciários foram concedidos em razão de doenças e acidentes, com gasto acumulado de R$ 173 bilhões. Estimativas indicam ainda a perda de mais de meio bilhão de dias de produtividade, o que equivale a um custo de R$ 468 bilhões anuais — cerca de 4% do PIB mundial. “A ansiedade pode ser entendida como expressão de conflitos internos ligados ao desejo de aceitação social e ao medo de rejeição. Quando há sensação de exclusão, a angústia se intensifica, gerando prejuízos emocionais e até físicos” - Marcos Lima, psicanalista Marcos Lima explica que, em muitos casos, a ansiedade se manifesta como uma “reação defensiva a ameaças vagas”, distorcendo a percepção da realidade e prejudicando vínculos sociais. Ele lembra que adultos acima de 30 anos frequentemente chegam ao consultório em busca de respostas para angústias ligadas a experiências familiares. “A ausência de afeto, mas também o excesso, pode gerar marcas psíquicas que aumentam a ansiedade”, afirma. Para lidar com esse quadro, o especialista defende abordagens que unam autocompreensão e técnicas terapêuticas modernas. Ele destaca a terapia metacognitiva, que trabalha crenças sobre os próprios pensamentos, e a “terceira onda” da terapia cognitivo-comportamental, que ajuda na aceitação de experiências internas dolorosas. “Não se trata de eliminar sentimentos difíceis, mas de aprender a conviver comigo mesmo, com as perdas irreparáveis e os contextos sociais adversos”, conclui. O desafio, segundo a OIT, é transformar esse aprendizado individual em políticas institucionais sólidas. Apenas 46% dos municípios brasileiros possuem programas de saúde mental, e os setores bancário, hospitalar e de comércio varejista concentram a maior parte dos afastamentos. Investir em prevenção e ambientes de trabalho mais saudáveis, defendem especialistas, é não só uma necessidade humana, mas também uma questão econômica urgente. “Não se trata de eliminar sentimentos difíceis, mas de aprender a conviver comigo mesmo, com as perdas irreparáveis e os contextos sociais adversos” - Marcos Lima Psicanalista Marcos Lima fala sobre ansiedade A ansiedade é sempre algo negativo? Não necessariamente. Ela pode funcionar como um alerta defensivo diante de ameaças, ainda que vagas. O problema é quando essa reação se torna constante, distorcendo a percepção da realidade e levando a generalizações que afetam a vida social e afetiva. Por que tantas pessoas procuram terapia depois dos 30 ou 40 anos? Muitos chegam ao consultório para lidar com questões ligadas à infância e aos vínculos familiares. A ausência de afeto, ou até mesmo o excesso, pode deixar marcas psíquicas que alimentam quadros de ansiedade na vida adulta. É verdade que hoje os jovens falam demais em ansiedade? Existe um fenômeno de “modismo”. Muitos jovens associam qualquer desconforto emocional à ansiedade, o que pode confundir o entendimento sobre o transtorno. É importante diferenciar entre ansiedade cotidiana e patológica, que exige acompanhamento clínico. Quais técnicas ajudam a reduzir o impacto da ansiedade? Há diversas abordagens: reestruturação cognitiva, exposição gradual, exercícios de relaxamento e terapias de terceira onda, que ensinam a aceitar experiências internas difíceis sem transformá-las em padrões fixos. Devemos eliminar os sentimentos difíceis? Não. O essencial é aprender a conviver com eles. Nem todas as situações têm solução imediata — perdas irreparáveis, pressões sociais e contextos adversos fazem parte da vida. A saída é desenvolver flexibilidade psicológica e ressignificar o sofrimento.

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“Lidar com a ansiedade não é silenciar o medo, mas ensinar-lhe o tom certo para falar.”

O psiquiatra Amaury Cantilino explica como identificar quando a preocupação deixa de ser saudável e oferece caminhos para lidar com o problema A ansiedade faz parte da vida de todos, funcionando como um alerta natural diante de desafios e incertezas. Ela nos prepara para enfrentar situações difíceis, seja uma prova, uma apresentação ou um risco no dia a dia. No entanto, quando essa reação se torna constante, intensa e desproporcional, deixando de ajudar e começando a prejudicar, ela se transforma em um transtorno que merece atenção profissional. “É como se a mente ensaiasse catástrofes o tempo todo”, explica especialista, lembrando que preocupações excessivas e fora de controle deixam de ser ferramentas de planejamento e passam a ser fontes de exaustão emocional. Reconhecer os sinais é o primeiro passo para buscar ajuda e retomar o equilíbrio entre corpo e mente. A ansiedade é algo natural da vida de qualquer pessoa. Mas quando podemos considerar que ela atinge um nível que não é saudável? O que caracteriza um grau de ansiedade mais "doentio"? A ansiedade é uma emoção natural, parte do nosso equipamento biológico para lidar com ameaças e incertezas. Do ponto de vista evolutivo, ela foi fundamental para a sobrevivência da espécie: um pouco de apreensão antes de atravessar uma floresta escura ou enfrentar um predador aumentava as chances de escapar ileso. No dia a dia atual, essa mesma reação nos ajuda a estudar para uma prova, preparar uma apresentação ou evitar comportamentos de risco. No entanto, quando falamos em psiquiatria, consideramos que a ansiedade se torna “doentia” (ou “patológica”, no termo técnico) quando perde sua função adaptativa e começa a causar sofrimento intenso ou prejuízo significativo na vida da pessoa — seja no trabalho, nos relacionamentos ou no autocuidado. Os critérios diagnósticos envolvem não só a intensidade, mas também a frequência, a duração e a falta de proporcionalidade em relação à situação que a desencadeia. Algo relacionado a isso são as preocupações. As preocupações são ideias ou imagens mentais sobre algo que pode dar errado no futuro. Num grau saudável, elas nos ajudam a nos antecipar e nos preparar: se me preocupo com uma prova, estudo; se penso na possibilidade de chuva, levo um guarda-chuva. O problema surge quando as preocupações se tornam excessivas, repetitivas e difíceis de controlar, ocupando espaço mental que poderia estar dedicado a outras atividades mais úteis. É como se a mente ficasse “ensaiando catástrofes” o tempo todo, mesmo para situações improváveis ou fora do nosso controle. Nesse ponto, elas deixam de ser ferramentas de planejamento e passam a ser fontes de exaustão emocional. Em psiquiatria, observamos que, nos transtornos de ansiedade, as preocupações são mais intensas, mais prolongadas e mais difíceis de afastar — como se o cérebro tivesse dificuldade em encontrar o botão de “pausa” para o pensamento. Como lembra uma frase atribuída a Montaigne: “A minha vida foi cheia de desgraças terríveis, a maioria das quais nunca aconteceu.” É um lembrete poético de que, muitas vezes, sofremos mais nas preocupações que na realidade. O que chamamos de "crise de ansiedade" é um colapso que esse mal causa no nosso organismo? A “crise de ansiedade”, também conhecida como ataque de pânico, não é exatamente um colapso, mas uma reação súbita e intensa. É como se o corpo tivesse recebido um alarme falso de perigo extremo. Aciona-se um sistema antigo do corpo chamado “resposta de luta ou fuga”, que prepara o organismo para reagir a ameaças. Esse mecanismo envolve a liberação de hormônios como adrenalina e cortisol, que alteram temporariamente o funcionamento de praticamente todos os órgãos. Em segundos, o corpo entra em “modo de emergência”: o coração dispara, a respiração acelera, surgem tontura, tremores, suor frio e até a sensação de que algo terrível está para acontecer. É um incêndio emocional aceso sem chama visível. Embora a crise passe, ela é um sinal de que o sistema de alerta interno está hipersensível e merece atenção profissional. Que efeitos mentais e no restante do corpo que a ansiedade elevada pode provocar? Quando a ansiedade deixa de ser passageira e se mantém elevada por semanas ou meses, ela não se manifesta apenas em momentos de crise. É como uma maratona soturna, na qual o corpo corre o tempo todo sem linha de chegada. Esse estado contínuo desgasta a atenção, reduz a clareza mental e afeta a memória. No organismo, altera o equilíbrio hormonal, leva a dores musculares persistentes, distúrbios digestivos, alterações de pele e queda na qualidade do sono, contribuindo ainda para problemas como hipertensão, gastrite, dores crônicas, enfraquecimento da imunidade e até mudanças hormonais. Na mente, a ansiedade crônica interfere na concentração, na memória e na capacidade de tomar decisões. Pode aumentar a irritabilidade, a sensação de cansaço constante e favorecer o aparecimento de outros transtornos, como a depressão. Normalizamos a ansiedade? Pensando em soluções, quais os caminhos para enfrentarmos individualmente e coletivamente os males desse problema de saúde pública? Sim, como os sintomas podem surgir de maneira gradual com uma noite mal dormida aqui, uma tensão muscular ali, a pessoa e até quem convive com ela passam a encarar esses sinais como parte da personalidade ou do “jeito de ser”. Essa adaptação enganosa mascara o fato de que, por trás desses sintomas, pode haver um transtorno de ansiedade plenamente tratável. O risco é que, ao aceitar esses sinais como normais, atrasamos o diagnóstico e prolongamos o sofrimento. Reconhecer que a ansiedade não precisa ser constante é o primeiro passo para buscar ajuda e recuperar a qualidade de vida.No plano individual, o enfrentamento começa pelo autoconhecimento: perceber gatilhos, reconhecer limites e adotar hábitos que favoreçam o equilíbrio, como sono de qualidade, atividade física regular, momentos de lazer e técnicas de respiração ou meditação. A psicoterapia oferece ferramentas para lidar melhor com pensamentos e emoções, e, quando necessário, o tratamento medicamentoso pode ajudar a reequilibrar a química cerebral. No plano coletivo, é essencial garantir que a saúde mental seja prioridade nas políticas públicas, ampliando o acesso a serviços especializados como ambulatórios de psiquiatria e promovendo

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Saúde mental influencia dívidas e compras por impulso, aponta pesquisa da Serasa

Estudo revela que 46% dos brasileiros já compraram para aliviar emoções e 54% acumularam dívidas por problemas emocionais Uma pesquisa realizada pela Serasa, em parceria com o Instituto Opinion Box, mostra como a saúde mental tem impacto direto nas finanças pessoais dos brasileiros. O levantamento revela que 54% já acumularam dívidas devido a problemas emocionais e que 46% realizaram compras por impulso para se sentir melhor momentaneamente. Embora esse comportamento traga alívio imediato, ele resulta em consequências duradouras para o orçamento. “As compras por impulso ou o endividamento por questões emocionais mostram que saúde mental e saúde financeira estão diretamente ligadas. Essas compras por impulso estão diretamente ligada a busca pelo alívio momentâneo da dor, mas nunca resolve a longo prazo. Cuidar do equilíbrio emocional é fundamental para evitar dívidas, tomar decisões mais conscientes e até reconstruir a confiança no próprio planejamento financeiro”, explica Rodrigo Costa, especialista da Serasa em educação financeira. O estudo também aponta outros fatores que contribuem para a pressão emocional e o ciclo da inadimplência. Entre eles, o nome negativado (43%), o atraso no pagamento de contas (37%), a dificuldade em conseguir crédito (34%) e a renda insuficiente (29%). Esses problemas financeiros reforçam a relação entre saúde mental fragilizada e dificuldades econômicas. Apesar do cenário desafiador, a pesquisa mostra sinais de esperança: 60% acreditam que cuidar da saúde mental pode favorecer decisões financeiras mais conscientes e 30% afirmam que o bem-estar emocional ajudaria a reduzir gastos relacionados à própria saúde mental. “O Brasil enfrenta uma nova fase de inadimplência: a emocional. Silenciosa e crescente, a incerteza fala muito alto, refletindo na falta de equilíbrio mental e impactando diretamente a vida financeira de todas as classes sociais. O planejamento, atrelado a educação financeira, é imprescindível para uma melhor saúde mental e física", finaliza Rodrigo. Metodologia Pesquisa realizada pelo Instituto Opinion Box entre 8 e 19 de agosto de 2025, com 1.240 entrevistas online em todo o Brasil. Margem de erro de 2,8 pontos percentuais.

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"Atualmente não se trabalha tratamento oncológico sem saber a genética do câncer."

Além de atender a mais de 50% dos pacientes oncológicos em Pernambuco, o Hospital do Câncer realiza pesquisas de ponta para testar medicamentos. O superintendente de ensino e pesquisa do HCP, Felipe Bonifácio, afirma que a instituição também investe em laboratório para pesquisar terapias que empregam o sequenciamento do DNA e que atuam no sistema imunológico para combater o tumor. Muita gente sabe que o Hospital de Câncer de Pernambuco é um centro de referência para tratamento de doenças oncológicas que atende a pacientes do SUS. Mas, o que poucos pernambucanos têm conhecimento é que o HCP é uma instituição também valorizada pelas pesquisas que realiza. Seus pesquisadores avaliam a eficácia de novos medicamentos, numa parceria com a indústria farmacêutica, que oferece ainda a vantagem de ofertar gratuitamente a seus pacientes os tratamentos inovadores pesquisados.  Ao completar 80 anos em novembro, o HCP prepara-se para dar um salto e incrementar sua atuação na chamada pesquisa translacional. É um campo que permite que as descobertas e o conhecimento gerados em laboratório nas pesquisas básicas sejam aplicados diretamente na prevenção, diagnóstico e tratamento no leito do paciente. Trata-se de um processo mais acelerado do que as pesquisas clínicas tradicionais que costumam levar muitos anos. Um passo importante foi dado neste sentido com o financiamento de RS 13,2 milhões oriundos do edital do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação para implantar o Centro Integrado de Pesquisa Clínica e Translacional em Oncologia do HCP. Entre outras aplicações, os recursos garantem a criação de um laboratório onde serão pesquisados tratamentos em que o próprio sistema imunológico do paciente é estimulado para ter uma ação antitumoral. Também vai garantir a realização do sequenciamento genético do tumor para conduzir a terapia. “Doze instituições brasileiras foram contempladas no edital, três do Nordeste, entre elas, o HCP” comemora Felipe Bonifácio, superintendente de ensino e pesquisa do hospital.  Nesta entrevista a Cláudia Santos, ele aborda o crescimento do número de casos de câncer no Brasil e no mundo, os avanços no tratamento da doença, que caminham para as áreas imunológicas e genética, além do uso da inteligência artificial. Também fala sobre o desenvolvimento de pesquisas no hospital e a atuação da instituição na área de ensino. “A assistência é nosso carro-chefe, mas o que subsidia a assistência? É o ensino e a pesquisa”, justifica Bonifácio. O câncer é uma das principais causas de morte no mundo e vem afetando mais os jovens. Há alguma explicação científica para esse panorama? Hoje, no mundo, 32% das pessoas morrem por doenças cardiovasculares que é a principal causa de mortalidade. Mas, acredita-se que, em breve, o câncer vai ultrapassar as doenças cardiovasculares. Porém, não há uma resposta definitiva sobre o porquê dessa situação. Existem especulações de que as causas estejam nos alimentos com muita química e na poluição do ar. É uma situação preocupante. Estamos desenvolvendo novas abordagens terapêuticas, novos tratamentos, mas os avanços para reverter o quadro de mortalidade do câncer ainda são lentos.  Trabalhamos muito, principalmente em termos de pesquisa. No Brasil, por exemplo, já conseguimos editar um gene. Ou seja, se um determinado gene codifica uma doença (isto é, sofre uma mutação que provoque uma enfermidade), é possível corrigir um pedaço desse gene que causa essa mutação. Também é possível modificar células do sistema imunológico para melhor detectar e atacar o câncer. Isso futuramente vai promover a cura de alguns tipos de tumor. Mas ainda é preciso popularizar essas descobertas científicas para que possamos cobrir um número cada vez maior da população, porque o tratamento é caro.  Alguns imunobiológicos (medicamentos que usam o próprio sistema imunológico do paciente para combater o câncer) são caríssimos e não conseguimos utilizar em unidades de saúde que atendam o SUS, como o HCP, cujo limite orçamentário é significativo. Se não for por meio das pesquisas, não conseguimos ofertar tratamento de ponta. Mas, graças ao trabalho do nosso Centro de Pesquisa Clínica, conseguimos.  Temos orgulho desse trabalho. O fato de atendermos um elevado número de pacientes e de trabalharmos com qualidade é um atrativo para a indústria farmacêutica no teste de novas drogas. É interessante para a indústria ter um campo de experimento bom, cumprindo todas as regras da bioética. Cerca de 56% dos pacientes oncológicos de Pernambuco estão no HCP.  Nessas pesquisas, eles têm uma assistência minuciosa, com acesso a terapias que não conseguiria via SUS. São medicamentos que estão em fase de estudos clínicos, que têm quatro fases, a maioria dos nossos está na fase 3, é aquela pré-comercialização. Se o resultado do estudo for positivo, nosso paciente recebe a droga gratuitamente até o óbito ou à cura.  Como são realizados os trabalhos de pesquisa no Hospital de Câncer? Há muitos casos de sobrevida?  Sim. Geralmente há sobrevida livre de eventos em cinco anos. São casos em estágio avançado do câncer, drogas desenvolvidas para estado de metástase, a fim de melhorar a qualidade de vida e aumentar a sobrevida do paciente. Em 2018, o HCP criou esse centro – numa iniciativa da Dra. Leuridan Torres, junto com o Dr. Marcelo Salgado – que, a cada ano, vem crescendo. Conseguimos dobrar nosso faturamento e hoje ele é autossustentável. De 2024 para 2025, o faturamento do centro aumentou em 119%. A meta de crescimento para este ano é de mais de 30% e estamos quase alcançando. Esse centro é vantajoso tanto para o hospital, quanto para os pacientes e para o avanço das pesquisas. Convidamos os pacientes a participarem do estudo, explicamos como funciona, eles assinam um termo de consentimento. Ao assinar, eles saem da assistência do hospital, ou seja, passam a ser atendidos pelos médicos que fazem parte do Centro de Pesquisa Clínica. Assim, conseguimos desafogar a fila de atendimento do HCP. O paciente do centro de pesquisa, por exemplo, não compete com a tomografia do paciente da assistência, porque a tomografia do centro é terceirizada. Além disso, esse paciente terá acesso a tratamentos inovadores. Também há vantagem para a sustentabilidade do hospital. Todo protocolo, via centro, tem um overhead de 25% que fica

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Pedestres invisíveis: o desafio da caminhabilidade urbana

A qualidade das calçadas, arborização e iluminação são fundamentais para a mobilidade segura e sustentável, tea reforçado nesta semana no Dia Sem Meu Carro. Mas as políticas públicas do País seguem priorizando o transporte motorizado. *Por Rafael Dantas Caminhabilidade rima com mobilidade e com sustentabilidade. Apesar dos deslocamentos a pé serem considerados positivos para a dinâmica urbana, para a redução de poluentes na atmosfera e, até, mesmo para a saúde da população, esse modal está longe de ser protagonista das políticas públicas no Brasil. Há décadas, as cidades foram planejadas para os carros, gerando uma série de efeitos negativos, como poluição, mortes e engarrafamentos. O papel do transporte público e das bikes, mesmo ainda sendo tratados como coadjuvantes e tendo baixo investimento, são modais que ganharam um pouco mais de atenção do poder público nos últimos anos. Mas o pedestre segue quase como invisível nessa equação. Na Região Metropolitana do Recife, segundo pesquisa publicada pela Unifafire neste ano, 11,72% da população tem como principal meio para se deslocar o andar a pé. No entanto, mesmo quem se desloca prioritariamente em carro ou moto ou faz seu trajeto de ônibus ou metrô em algum momento do seu dia é pedestre: sai de um estacionamento, atravessa um semáforo, anda alguns quarteirões até chegar ao seu destino. Caminhabilidade é a qualidade de um ambiente urbano que facilita, incentiva e torna seguro o deslocamento a pé, considerando fatores como segurança, acessibilidade, conforto, conectividade e proximidade de serviços e destinos. Ambientes com alta caminhabilidade promovem mobilidade sustentável, saúde e interação social. A qualidade das calçadas é a infraestrutura mais básica quando tratamos sobre o que é necessário para o deslocamento seguro dos pedestres. Mas há uma série de outras preocupações que estão igualmente longe de ser atendidas. A iluminação adequada, a arborização que garanta um maior conforto térmico, a segurança contra a violência urbana e contra os acidentes nas travessias das ruas… esses são apenas alguns dos muitos fatores que mexem com a vida de todos os cidadãos. Porém atingem especialmente os mais vulneráveis. A vulnerabilidade nesse caso não é referente à imensa maioria das população que não tem transporte individual motorizado, mas em relação aos grupos com alguma limitação motora, como os idosos ou pessoas com deficiência, que deveriam ser o alvo das políticas públicas de mobilidade urbana. Afinal, uma cidade que é funcional para um morador na terceira idade, para um cadeirante ou para uma mãe que precisa se deslocar com um carrinho de bebê vai atender aos demais cidadãos. Mas, não é por acaso que esses perfis mais vulneráveis não são encontrados com facilidade nas calçadas. CIDADE QUE NÃO É FÁCIL PARA TODOS César Cavalcanti, professor aposentado da UFPE e integrante da  ANTP (Associação Nacional dos Transportes Públicos) mora no bairro Espinheiro há 54 anos. Ele contou que hoje dirige pouco, prefere andar a pé e, vivendo em uma “cidade de 15 minutos”, consegue resolver quase tudo no bairro. “Tenho praticamente tudo a minha disposição a 15 ou 20 minutos, no máximo, andando. Bom para minha saúde e poupa meu dinheiro”, afirmou. Mas a experiência cotidiana não é simples. Aos 84 anos, Cavalcanti disse que teme cair nas calçadas da cidade. “O piso é um horror. Quando chove então, é difícil fazer os deslocamentos, tenho medo de levar uma queda ou sofrer um acidente”, comentou. Ele defende que o Recife tenha padronização nos passeios, com pisos antiderrapantes, manutenção regular e sem buracos. O cuidado com as calçadas é um dos grandes dilemas urbanos, já que a responsabilidade por sua construção e manutenção recai sobre os proprietários dos imóveis. Enquanto isso, vultosos recursos públicos são investidos anualmente no pavimento destinado ao transporte motorizado. Essa disparidade se soma à falta de fiscalização para assegurar o cumprimento das normas legais, transformando as calçadas em um mosaico irregular, frequentemente disputado por acessos de garagem, mobiliário urbano e ocupações indevidas. A arquiteta e urbanista Yara Baiardi defende que a caminhabilidade deve ser entendida como um direito coletivo e não apenas como a responsabilidade individual de manter uma calçada. Para ela, o espaço público começa na porta de casa e deveria ser pensado prioritariamente para o pedestre, com qualidade de piso, inclinação adequada, iluminação e continuidade no desenho urbano. Mas ocorre o contrário, argumenta, as ruas recebem um “tapete vermelho” para os automóveis, enquanto as calçadas são fragmentadas, o que gera desigualdade e precariedade no caminhar. Baiardi critica as normas de acessibilidade que, em vez de priorizarem o pedestre, acabaram por distorcer o uso do espaço público, ao permitir rampas de garagem sobre as calçadas. Para ela, a faixa mínima de 1,20 metro é insuficiente, já que não acomoda nem duas pessoas caminhando lado a lado. A urbanista recorda que, até o início do Século 20, as calçadas brasileiras eram planas e funcionais, mas as adaptações trazidas pelo automóvel comprometeram a mobilidade de pedestres, sobretudo idosos e cadeirantes. Na avaliação da arquiteta, o problema vai além da falta de fiscalização: trata-se de um traço cultural marcado pelo individualismo, em que cada proprietário vê a calçada como extensão privada, não como espaço coletivo. Essa lógica se soma à ausência de políticas públicas consistentes de padronização, diferentemente do que ocorre com o asfalto, que foi uniformizado em praticamente todas as ruas do País. “Todos nós somos pedestres em algum momento da vida. Mas enquanto não compreendermos que cidade se constrói coletivamente, do vizinho ao poder público, continuaremos transferindo responsabilidades”, afirmou. ARBORIZAÇÃO E ILUMINAÇÃO NA EQUAÇÃO Em uma cidade tropical, a arborização é um elemento central para a caminhabilidade. O consultor empresarial e militante da mobilidade a pé, Francisco Cunha, ressalta que nas condições do Recife “sombra é vida”. Sem cobertura vegetal, caminhar a pé torna-se inviável sob o sol forte. Ele lembrou que mesmo os bairros da Zona Norte, como Espinheiro e Graças, que ainda preservam áreas sombreadas, já sofrem com a redução gradual das árvores. Já a Zona Sul, especialmente Boa Viagem, é “inóspita para a caminhada”, pois com calçadas igualmente maltratadas, apresentam também ausência de arborização. Francisco

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Engenharias no interior de Pernambuco: presente e futuro

*Por Geraldo Eugênio  As gerações acima de 50 anos sabem que, até pouco tempo, era difícil a vida de um jovem do interior que pretendesse estudar algum curso de engenharia, agronomia ou geociências. Somente os mais afortunados se davam ao luxo de estudar no Recife, centro de ensino médio e superior que atraiu até o final do Século 20 estudantes do interior e de todos os estados nordestinos. O Recife competia com Salvador a primazia de quem era o centro cultural da região, com a certeza de que, do ponto de vista do ensino superior na maioria das áreas – destacando-se as engenharias, a agronomia e a geologia –, era a capital nordestina que oferecia as melhores opções. Vale chamar a atenção para o fato de que não se ousava imaginar que alguma cidade do interior pudesse contar com cursos em ciências exatas e da natureza. Tudo estava concentrado na capital. Não apenas de Pernambuco, mas de todos os estados nordestinos. Hoje, o que se vê é o fruto da consolidação dos programas de pós-graduação em todo o País, que permitiu a milhares de jovens doutores migrarem dos centros maiores para as cidades do interior onde foram instaladas as novas universidades e campi. O REUNI No primeiro mandato do presidente Lula, uma decisão foi tomada sobre a expansão do ensino médio e superior para o interior do País, iniciativa que foi denominada Reuni (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais). A primeira universidade a se beneficiar desse movimento foi a UFRPE (Universidade Federal Rural de Pernambuco), resultando na instalação do Campus de Garanhuns, em 2005, hoje Universidade Federal do Agreste de Pernambuco, seguindo-se do Campus de Serra Talhada, a UFRPE-UAST. Simultaneamente a UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), a Univasf (Universidade Federal do Vale do São Francisco), a UPE (Universidade de Pernambuco), o IFPE (Instituto Federal de Pernambuco) o IF Sertão (Instituto Federal do Sertão) foram tomando corpo e instalando suas sedes em todo território pernambucano. Esse movimento em direção ao interior do Estado e do País foi algo inédito em termos de democratização do ensino médio e superior e consistiu na real universalização da universidade pública. Algo que os Estados Unidos da América, por exemplo, haviam realizado a partir da Lei Hatch que, em 1862, em um momento de conflagração, decidiu pela instalação das Land Grant Universities. Uma iniciativa que chegou ao Brasil 150 anos depois, mas que não deixou de ser oportuna. Afinal, no momento, alguém encontrará cursos de todas as áreas e vocações em municípios distantes centenas de quilômetros das capitais. Um sonho que se tornou realidade. As engenharias se fizerem presentes O que sempre se considerou difícil, em poucos anos, o que se viu foi a presença de cursos de engenharias no Agreste e Sertão do Estado. Atualmente, entre as universidades públicas e os dois institutos federais são ofertados 30 cursos de engenharia, com mais dois em implantação quando da completa instalação do Campus de Sertânia da UFPE. Nessa ação vale ressaltar o papel da UFRPE que, nos municípios de Cabo de Santo Agostinho, Belo Jardim e Serra Talhada, oferece 10 cursos de engenharias e um de agronomia. O impacto da geração de mão de obra qualificada no interior pode ser sentido visivelmente quando se analisa a qualidade do corpo técnico das empresas de construção civil, metalmecânica, eletroeletrônica e, na última década, das empresas de instalação de parques de energia eólica e fotovoltaica, bem como das dezenas de pequenas e médias empresas no setor de energia solar em toda cidade de médio e grande porte do Estado. Valendo esclarecer que, apesar do ceticismo de alguns empresários do setor, continua em expansão acelerada. Ainda falta algo? Com essa quantidade de cursos ofertados, ainda falta algo a ser feito em termos de apoio à área das ciências exatas e da natureza no interior de Pernambuco. Há alguns hiatos não bem explicados, dentre eles o que se refere à região do Araripe e, em particular, ao município de Araripina. Como se justificar que uma cidade com aproximadamente 80 mil habitantes, localizada estrategicamente entre os estados de Pernambuco, Piauí e Ceará, tendo como principais atividades econômicas as energias renováveis e a mineração da gipsita, não possa hospedar ao menos uma universidade com ênfase em engenharia? As jazidas de gipsita e de calcário presentes no Sertão do Araripe demandam uma ação coordenada de pesquisa e difusão tecnológica, de forma que os produtos provenientes dessas duas rochas sejam melhor valorizados. Ressalte-se os ganhos que o gesso e o calcário têm proporcionado à agricultura brasileira no Cerrado, em termos de elevação de produtividade das culturas da soja, milho, algodão, café, ao oferecer tolerância à acidez do solo e o mais eficiente uso da água. Uma outra questão de natureza de mercado diz respeito à remuneração dos engenheiros. Sabidamente, os cursos de engenharia são os que demandam maior dedicação e horas de estudo por parte dos jovens estudantes. O que também faz com que os engenheiros sejam demandados para funções em administração e finanças. Por outro lado, há um certo vício em se subvalorizar essa mão de obra. Não é incomum alguém se deparar com editais de concursos de prefeituras da região oferecendo uma remuneração de dois ou três salários mínimos, algo significativamente inferior ao disposto pela legislação trabalhista para a categoria.  Essa atitude, por parte dos empregadores, é um desestímulo ao ingresso nas escolas de engenharia, bem como ao ingresso de novos estudantes, correndo-se o risco de a região continuar sendo uma provedora de mão de obra para outros locais mais dinâmicos. Chegou a hora de corrigir tal distorção e valorizar os profissionais que têm a contribuir para o desenvolvimento regional em qualquer segmento econômico. Afinal, quem já viu região desenvolvida e próspera sem uma presença marcante dos profissionais das engenharias?

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Janaina Pepeu Secom 7

Aché anuncia expansão de fábrica em Suape com investimento de R$ 267 milhões

Unidade terá capacidade para produzir 40 milhões de medicamentos estéreis por ano e deve gerar 3 mil empregos diretos e indiretos em Pernambuco O Aché Laboratórios Farmacêuticos anunciou a expansão da sua fábrica localizada no Complexo Industrial Portuário de Suape. O presidente do grupo, José Vicente Marino, revelou que a nova etapa da planta contará com investimento de R$ 267 milhões e previsão de geração de 3 mil empregos diretos e indiretos. A expansão permitirá a produção de medicamentos estéreis, como injetáveis de uso hospitalar e colírios. NOVA ESTRUTURA A nova área da fábrica terá 13.565 m² e ampliará a capacidade para 40 milhões de unidades de medicamentos estéreis por ano, com previsão de conclusão em 2026. A expansão também abre possibilidade de exportação dos produtos para Estados Unidos e Europa. O valor investido se soma aos R$ 800 milhões já aplicados pela companhia em Pernambuco, totalizando R$ 1,67 bilhão. “Esses são alguns dos exemplos de investimentos feitos pelo Aché que tornam essa fábrica motivo de tanto orgulho para nós pelo desenvolvimento que traz e impacto para tantas vidas, desde os empregos gerados até os pacientes que se beneficiam com os medicamentos produzidos”, afirmou José Vicente Marino. PERSPECTIVAS PARA O ESTADO O secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, Guilherme Cavalcanti, destacou a importância da iniciativa para o Estado. “O Aché vai possibilitar a produção de medicamentos de alto valor agregado. Esse é um momento para comemorarmos, olhando com alegria para o futuro e para os próximos anos, já que esta é apenas uma das muitas expansões possíveis", disse Guilherme Cavalcanti. A governadora Raquel Lyra e o diretor-presidente do Complexo de Suape, Armando Monteiro Bisneto também participaram do anúncio do investimento e ressaltaram as políticas de atração de novos empreendimentos para o Estado.

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