(Da Fecomércio-PE)
De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), realizada pela CNC em março de 2023, 83,6% das famílias pernambucanas tiveram o orçamento comprometido com dívidas. Segundo a Fecomércio Pernambuco, em números absolutos, 436.551 famílias estavam endividadas no estado, uma queda de 0,41% em comparação com o mês de fevereiro de 2023 e avanço de 1,24% em relação a março do ano passado.
A PEIC/CNC considera que o endividamento das famílias se refere a contas ou despesas contraídas com cartão de crédito, cheques pré-datados, carnês de lojas, empréstimo pessoal, compra de imóveis e prestações de carros e seguros. Na pesquisa, as estimativas também diferenciam dois grupos de renda: famílias cuja renda é de até 10 salários-mínimos e famílias com renda superior a esse patamar.
Gráfico 1: Endividamento em Pernambuco.
Fonte: PEIC/CNC, elaboração: Fecomércio-PE.
Entre as famílias que recebem até 10 salários-mínimos, o índice de endividamento foi de 84%. Já entre as famílias que ganham acima desse valor, 79,1% estavam comprometidas com dívidas.
A PEIC estima que 64,5% das famílias pernambucanas com até 10 salários-mínimos comprometeram entre 11% e 50% da renda com dívidas, situação em que se encontravam 58,6% das famílias do grupo de renda mais elevada.
Considerando o recorte de renda de até 10 salários-mínimos, 92,1% das famílias possuíam dívidas com cartão de crédito, enquanto 27,9% das famílias com carnês e 6,8% das famílias com cheque especial. Entre as famílias com renda acima de 10 salários-mínimos, as principais dívidas foram com o cartão de crédito (96,6% das famílias), financiamento de carro (21,3%) e carnês (21,8%).
Cartão de crédito, Carnês e Financiamentos de carro são os principais tipos de dívidas.
Tabela 1: Principais tipos de dívidas.
Tipo de dívida | Até 10 sm | Mais de 10 sm |
Cartão de Crédito | 92,1% | 96,6% |
Carnês | 27,9% | 21,8% |
Financiamento de carro | 3,2% | 21,3% |
Cheque especial | 6,8% | 2,9% |
Fonte: PEIC/CNC, elaboração: Fecomércio-PE.
A PEIC/CNC define, ainda, que a potencial inadimplência é a expectativa dos devedores de não pagarem suas dívidas no mês subsequente ao levantamento. Já o atraso no pagamento (inadimplência) é o ato de não cumprir, efetivamente, os compromissos feitos com o endividamento.
Quando a inadimplência ocorre, é comum observar uma desaceleração no consumo, o que afeta principalmente pequenas empresas do setor de comércio e serviços. Essas empresas enfrentam dificuldades financeiras adicionais, pois o risco das empresas que concedem crédito pré-aprovados aumenta, o que pode levar a um aumento nas taxas de juros. Além disso, dificuldades no fluxo de caixa e redução na produção também estão associados a inadimplência.
Essa falta de capital de giro pode levar a dificuldades financeiras para as pequenas empresas, especialmente em relação ao fluxo de caixa e compromissos com fornecedores. As pequenas empresas podem não conseguir pagar suas contas em dia, o que pode resultar em atrasos em entregas, perda de credibilidade e, eventualmente, perda de clientes.
Ainda, a burocratização da concessão de crédito pode dificultar ainda mais o acesso das pequenas empresas ao capital de giro necessário para manter suas atividades. As instituições financeiras podem exigir uma série de documentos e garantias, o que pode ser especialmente desafiador para empresas com recursos financeiros limitados e menor capacidade de cumprir essas exigências.
Em Pernambuco, 41,4% das famílias com até 10 salários-mínimos possuem dívida em atraso, enquanto apenas 8% das famílias acima dessa faixa possuem dívida atrasada. Dentre as famílias com atraso, 52,6% das famílias na faixa de remuneração mais baixa não terão condições de pagar a dívida no próximo mês, enquanto 21,4% das famílias com mais de 10 salários-mínimos terão condições de pagar suas dívidas parcialmente. Isso implica que a cobrança de juros e multas, além do impacto na pontuação de crédito e nas oportunidades futuras de empréstimo.
Em geral, o tempo médio de comprometimento do orçamento familiar com dívidas, em Pernambuco, é de 33 semanas – cerca de 8 meses. 31,5% das famílias com até 10 salários-mínimos estão comprometidas com dívidas entre 3 e 6 meses, enquanto 41,4% das famílias cuja renda supera 10 salários mínimos estão comprometidas com dívidas por mais de 1 ano. O tempo médio de atraso, em Pernambuco, é de 62 dias, enquanto no Brasil, o tempo médio de atraso é de 63 dias. Entre aqueles que recebem até 10 salários-mínimos, 45% têm um tempo de atraso acima de 90 dias. Enquanto a participação das famílias com renda mais elevada, 35,7% têm um tempo de atraso entre 30 e 90 dias.
A pressão sobre o orçamento das famílias, associada aos diversos perfis de endividamento, pode aumentar significativamente o montante total da dívida. Isso pode fazer com que as famílias fiquem presas em um ciclo de dívida, lutando para pagar os juros em constante aumento enquanto tentam reduzir o principal.
Essa pressão pode levar a cortes de gastos em outras áreas, atrasos no pagamento de contas e necessidade de buscar empréstimos adicionais para cobrir as despesas correntes. Além disso, os juros podem tornar ainda mais difícil para as famílias saírem da dívida e recuperarem a estabilidade financeira
O tempo de atraso médio em Pernambuco é de 64 dias.
Gráfico 2: Tempo de atraso das famílias totais.
Fonte: PEIC/CNC, elaboração: Fecomércio-PE.
Os dados da PEIC em março indicaram que as famílias de menor renda relativa são as mais afetadas por dívidas. Embora o nível de endividamento tenha recuado levemente no terceiro mês do ano, esse ainda é um cenário que demanda atenção. As obrigações do cartão de crédito ainda são as preferidas dos endividados mesmo com a taxa de juros mais alta, com uma média de 411,5% ao ano na modalidade rotativo (14,5% ao mês), de acordo com o Banco Central.
Os dados do Caged de fevereiro podem ser relacionados com a pesquisa da CNC, apontando para uma recuperação no poder de compra dos consumidores, em função do aumento na quantidade de empregos formais no estado, principalmente no setor de serviços. Essa tendência sugere uma possível redução nos níveis de endividamento no futuro – ou, ao menos, no patamar de endividamento e inadimplência. Por isso, além de estimular a sustentação da retomada do crescimento econômico e da criação de oportunidades de emprego, é importante adotar medidas de mitigação de atrasos no pagamento de dívidas, reduzindo o índice de inadimplência.